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30/09/2019

Teleférico do Alemão é vistoriado, mas não tem prazo para voltar: estação tem 215 marcas de tiro

Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

A estação Itararé, na favela Nova Brasília, tem 215 marcas de bala

Contando uma por uma, são 215 as marcas de tiros nas paredes da Estação Itararé do teleférico do Complexo do Alemão, desativado desde 2016. Instalado na localidade conhecida como Largo dos Coqueiros, na Favela Nova Brasília, o prédio fica ao lado de onde funcionava, até agosto do ano passado, a 45ª DP e em frente à sede da UPP. Armações e rabiolas de pipas entrelaçadas nos cabos outrora usados pelos bondinhos também são “testemunhas oculares” do abandono de um dos símbolos de uma política de segurança pública que garantiu ao Estado a presença regular dentro de comunidades do Rio. E que agora tornou-se um desafio para a atual gestão.

 

Há três semanas, a presença de técnicos de uma empresa contratada pelo governo estadual para fazer inspeções nas seis estações do teleférico encheu de esperança quem mora nas 15 comunidades do complexo que, segundo o último Censo, de 2000, tem o 126º pior índice de desenvolvimento humano (IDH) da cidade. A retomada do funcionamento do serviço, interrompido logo após os Jogos Olímpicos, em 2016, está entre as 203 metas prioritárias divulgadas pelo governador Wilson Witzel para os 180 primeiros dias de seu mandato.

 

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Teleférico do Complexo do Alemão parou de funcionar em 2016

Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo


Passados mais de 300 dias, a reativação do modal, que cobria 3,5 quilômetros de extensão, chegou a transportar 20 mil passageiros por dia e custou R$ 328 milhões, parece longe do ponto final. Por meio de nota, a Secretaria estadual de Transportes informou que as vistorias realizadas entre os dias 9 e 12 deste mês nas seis estações — Bonsucesso, Adeus, Baiana, Alemão, Itararé e Palmeiras — tinham o objetivo de verificar as condições operacionais do equipamento e orçar uma obra de recuperação para fazê-lo voltar a funcionar.

 

A estação Itararé, na favela Nova Brasília, foi uma das vistoriadas por técnicos contratados pelo estado

Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo


O órgão ressaltou que “está concentrando esforços e estudando alternativas para a retomada dos serviços”, mas não deu uma previsão nem informou de onde virão os recursos. As inspeções estão sendo feitas por uma empresa contratada pela Poma do Brasil Teleféricos e Funiculares Ltda., construtora do sistema. O EXTRA não conseguiu contato com a empresa. Segundo informações da Casa Civil, as limitações de gastos impostas pelo Regime de Recuperação Fiscal estão emperrando o processo, além da falta de definição de como seria a operação — o contrato com a operadora venceu em março.

 

Em outubro, a inatividade do sistema que virou atração turística e levou até a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) Christine Lagarde a comparar o Alemão aos Alpes — “Estou me sentindo numa estação de esqui”, disse ela, em 2015 — completa três anos. Mas a situação de abandono das estações fez a versão tropical da cadeia de montanhas da Europa virar uma miragem.

 

Abandono e depredação

 

Na estação do Morro do Adeus, por exemplo, roldanas de metal jazem a céu aberto, abandonadas à sorte da corrosão, assim como carretéis gigantescos de cabos de metal. O local frequentemente é ocupado por uma equipe da UPP, que tenta, muitas vezes em vão, evitar depredações. “Policiais militares fazem, na medida do possível, a proteção das estações do teleférico daquela comunidade”, informou a PM, em nota.

 

Equipamentos e peças do teleférico deterioram na parte externa da estação do Morro do Adeus

Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo


Na estação da Baiana, um dos cabos parece estar prestes a se romper, e um grande objeto metálico balança sobre residências. Enquanto isso, os moradores lamentam a paralisação.

 

— Quando funcionava, era uma maravilha. Tínhamos direito a ir e voltar. Hoje, pagamos R$ 2 para ir de van até a Estrada do Itararé e, de lá, mais R$ 4,05 de ônibus. Para subir, pagamos R$ 3 de Kombi — disse uma diarista, moradora da Nova Brasília, que preferiu não se identificar.

 

Quem apostou no sucesso do teleférico hoje amarga prejuízos.

 

— Eu fazia 1.300 pães por dia. Hoje, são só 600. Vendia dez bolos por semana, agora, sai apenas um — lamentou Marcelo Gonçalves, dono de uma padaria que fica em frente à estação da Baiana.

 

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Morador do Morro do Adeus, o pastor Celso Oliveira Gomes, de 57 anos, chegou a filmar a inspeção:

 

— Se os governantes sentissem o que a população sente, tendo que subir ladeiras por uma hora, levando e buscando crianças na escola sob sol de meio-dia, talvez pudessem entender o quanto o teleférico faz falta.

 

Extra

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