26 de Abril de 2024 - Ano 10
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31/08/2016

'Não ouço minhas músicas', revela Marisa Monte em entrevista rara. Veja!

Foto: Leo Aversa / Marie Claire

Em oportunidade rara, Marie Claire conversou com a maior cantora do Brasil. Prestes a completar 30 anos de carreira e 50 de vida, Marisa Monte discorreu sobre a música, machismo na cena musical e disse que a idade não a amedronta

Por Adriana Ferreira Silva - Três e meia da tarde era o horário marcado para a entrevista com Marisa Monte. Três e meia da tarde meu avião pousou no aeroporto Santos Dumont, no Rio, com duas horas de atraso. No caminho até o Leblon, onde seria o encontro, eu listava, aflita, as consequências da demora. Marisa estaria de péssimo humor, não teria tempo, nem estaria me esperando.

 

Contrariando as expectativas, ao atravessar a porta do apartamento de seu assessor de imprensa, a cantora abriu um sorriso: “Nós nos conhecemos, não?”. Ufa! Sim. Essa seria nossa quarta conversa, mas o primeiro longo têté-à-têté de verdade. Uma oportunidade rara de papear sobre a vida com a cantora mais importante e discreta do país.


E lá estava ela, bem-humorada e à vontade, com um vestido delicado, lenço vermelho amarrado em volta do pescoço e meia de náilon preta, look superfeminino, contrastando com os sapatos masculinos que ela adora, pois considera os saltos finos “uma ameaça” às mulheres. Os cabelos cacheados estavam presos de forma displicente e, no rosto, o único traço de maquiagem era um batom vermelho, uma de suas marcas pessoais.


Marisa faz poucas aparições. Quando surge é para falar sobre um novo trabalho, e ela acaba de lançar o disco Coleção, o 11o em três décadas de carreira. Desde quando começou a cantar, foram milhões de discos vendidos, quatro prêmios Grammy e hits que nunca saem de moda. De intérprete, tornou-se compositora, produtora, aprendeu a tocar instrumentos, produziu documentários e realizou a parceria mais estrondosa da música pop nacional ao lançar, em 2002, os Tribalistas, com os amigos Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes.

 


Com os amigos Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, parceiros na

concepção de Tribalistas (Foto: Márcio Mercante)


Ao mesmo tempo que se abre no palco, fora dele Marisa tem uma vida reservada. Casou-se duas vezes, com o músico Pedro Bernardes, com quem teve Mano Wladimir, de 13 anos; e com o atual marido, o empresário Diogo Pires Gonçalves, pai de Helena, de 7. Sempre manteve a família longe dos holofotes. Nem os paparazzi conseguem capturar seu cotidiano. Marisa descreve sua rotina como intensa e produtiva, em que a música corre em paralelo a atividades como fazer tricô, crochê, costurar, cuidar do jardim e bater um bolo. Adepta de uma dieta saudável e de exercícios físicos, mudou pouquíssimo desde os anos 1980, mesmo prestes a completar 50 anos, em 1º de julho de 2017. A data não a assusta. Marisa espera, ansiosamente, completar 90. “Se Deus quiser, vou chegar lá!”


A seguir, confira os principais trechos da entrevista. Leia a matéria na íntegra na edição de setembro da revista que já está nas bancas.
Marie Claire Entre uma turnê e outra, você desaparece. O que faz quando está sumida?


MM Gravo discos, cuido do meu acervo, componho, estudo um novo instrumento. Também assisto a shows, ouço música dos outros. Preciso me nutrir: ver filmes, ler livros, bater papo, ir a uma exposição, viajar sem ser para trabalhar. Enfim, viver. Minha criação é reflexo disso.


"Aos 16 anos, fazia roupas de couro para vender. Minhas mãos eram cheias de calos". Marisa Monte


MC: Quando foi que você sentiu que ia viver de música?


MM: Esse momento não existiu. Lembro que, com 13 anos, as pessoas diziam: “Ai, ela canta. Canta pra gente?”. E estão pedindo até hoje [risos]. Trabalho desde os 14, 15 anos. Desenhava minhas próprias roupas. Aos 16, tinha uma empresa. Criei uma bolsa de couro e todo mundo pediu uma igual. Passei a vendê-las e também brincos. Minhas mãos eram cheias de calos. Ao mesmo tempo, fazia música. Sempre achei que podia rea¬lizar várias coisas. Até hoje, faço tricô, crochê, costuro. Podia trabalhar com moda. Sou boa empreendedora.


MC: Você tem o costume de ouvir suas próprias músicas?


MM: Muito pouco. Só a trabalho. Claro que, se estiver num lugar e tocar, ouço. Mas colocar meu disco para tocar, não. Se autoconsumir não faz muito sentido.

 


Em um show em Londres, em 2012, que homenageava o Rio de Janeiro

como sede das Olimpíadas (Foto: Julian Finney)


MC: O que foi determinante para você ser quem é hoje?


MM: Fazer teatro no colégio, aos 14 anos. Morar fora um ano, aos 18. Naquela época, não tinha internet, telefone celular. Estava sozinha mesmo, e isso é muito sério, porque precisava segurar a onda quando entrava numa roubada qualquer. Também os encontros com o Nelsinho [Motta], o Arnaldo [Antunes], o [Carlinhos] Brown, o Leo [empresário]. Tenho parceiros de muitos anos que conservo e, ao mesmo tempo, sigo ampliando minha rede. O fato de eu ser carioca e brasileira também é determinante para eu fazer esse tipo de música, uma forma de expressão artística muito forte na cidade.


Acredito que sou invisível. Chego aos lugares e ninguém me reconhece". Marisa Monte


MC: O Nelson Motta, aliás, já disse que você é tímida. É verdade?


MM: Algumas situações me deixam desconfortável, como todo mundo cantando “Parabéns pra Você” ou entrar num lugar e todos me olharem. Não tenho uma personalidade de estrela, que gosta de chamar atenção. Sou discreta. Acredito que sou invisível: entro nos lugares e ninguém me reconhece. Circulo muito, principalmente sozinha, e as pessoas realmente não me veem.


Mas no palco é diferente porque, para estar ali, eu me preparei.


MC: Em 2017, você completa 50 anos. Dá um frio na barriga?


MM: Nunca vivi nenhuma crise de idade. Quero ficar velha! Espero ansiosamente pelos 90. Perdi minhas duas avós com 90 e poucos anos. Se Deus quiser, vou chegar lá.


MC: O que acha do ressurgimento do movimento feminista?


MM: Não tenho dúvida de que as mulheres ainda têm muito espaço a conquistar. Assisti ao “State of the Union”, a declaração anual do presidente dos Estados Unidos, e havia muitas mulheres em torno de [Barack] Obama. Aqui, no Congresso Nacional, a presença feminina é ínfima. A falta de representatividade das mulheres no Legislativo faz com que as leis sejam feitas por homens e para os homens.

 

 Fonte: Marie Claire

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