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15/06/2019

Esperança de gol do Brasil, Bia Zaneratto entortou muito moleque antes de brilhar na Coreia do Sul

Foto: REprodução

A meio campista da Seleção Brasileira, Beatriz Zaneratto, é a novidade do Vitória na reapresentação para a Copa do Brasil

Aparecido Donizete João, 53, não tinha ideia do quão distante ficava a Coreia do Sul. Apressado, abriu o Mapa Mundi e correu o dedo até encontrar o país asiático. “Meu deus! É exatamente do outro lado do mundo”, exclamou, nervoso e meio assustado. Sim, era para o outro lado do mundo que sua filha, Beatriz Zaneratto, 25, estava de malas prontas após uma decisão difícil à toda a família.

 

Na bagagem, Bia, como é chamada, carregava também alguns pares de dúvidas e inseguranças. Deixar Araraquara, no interior de São Paulo, rumo a um lugar com uma cultura tão diferente dava medo e frio na barriga. Porém, isso parecia fichinha se comparado ao tamanho do sonho que a empurrava pra tão longe: conseguir viver do futebol.

 

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Então, em 2013, a atacante - umas das maiores esperanças de gols da seleção brasileira nesta Copa do Mundo-- encarou cerca de 30 horas de vôo para chegar em Incheon, cidade próxima à capital Seul, onde passaria a vestir a camisa 10 do Hyundai Steel Red Angels, que nunca havia sido campeão em seus 11 anos de história.

 

Beatriz Zaneratto 

 

“Quando veio a proposta da Coreia, nem dimensionei o que iria viver, mas meu pai já tinha listado todos os quesitos que precisavam ser verificados antes de eu embarcar”, conta Bia rindo, ao lembrar que seu João queria ir junto só para checar a casa em que a filha iria morar.


Mesmo tensa com os milhares de quilômetros, a jogadora sabia que não podia desperdiçar a oportunidade --naquela época, o futebol feminino capengava no Brasil. Ela estava em Vitória de Santo Antão, interior de Pernambuco, tentando se manter dentro dos gramados depois da extinção do Sereias da Vila (apelido do time feminino do Santos). Será que outra chance dessa bateria logo à sua porta? “Eu só pensei em arriscar mais uma vez para realizar o meu sonho.”

 

 

A adaptação, de cá e de lá, não foi nada fácil. Em Araraquara, os pais sofriam por causa da saudade e da lista de preocupações --língua, alimentação, moradia... Em Incheon, a jovem de 20 anos passava sufoco para se comunicar, aguentar o inverno rigoroso e se acostumar às comidas estranhas --além de ter que lidar com a falta da família.

 

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O tempo ajudou os dois lados a se encaixarem na nova realidade. E Bia não demorou a escancarar seu talento. Artilheira, tornou-se a grande estrela do Hyundai. Com Thaisinha, amiga de longa data que também fora contratada pela equipe, formou uma dupla de ataque imbatível. As duas jogam há seis anos na Coreia, e o Steel Red Angels está prestes a abocanhar seu sétimo título nacional.

 


As conquistas e a visibilidade fizeram Bia Zaneratto ser bastante reconhecida em Incheon. Ela já se habituou aos pedidos de fotos e autógrafos. “Não é aquela história de não conseguir andar na rua. Isso não acontece”, ela diz. “Mas existe um carinho grande por parte dos coreanos. Cada vez mais eles têm ido ao estádio para nos assistir.”

 

 

Por aqui, o assédio aumentou nos últimos anos. Embora ainda precise de muitas melhorias, o futebol feminino vem crescendo e ganhando espaço na mídia e entre o público brasileiro. A maior prova disso foi na Olimpíada do Rio-2016, quando 52 mil pessoas lotaram o Mineirão, em Belo Horizonte, para acompanhar a vitória do Brasil sobre a Austrália, nas quartas de final.

 

“A torcida nos empurrou, o país todo abraçou o futebol feminino. Só de falar eu me arrepio. Aquilo nos deu muita força. É um momento que vou lembrar para o resto da vida”, afirma a atleta.

 

‘Marca a menina, marca a menina’  

 

 

Bia Zaneratto foi daquelas meninas que sempre desdenhou de bonecas. Em compensação, não resistia a uma bola. “Arranquei muita tampa do dedão”, recorda. E, quando faltava a bola, ela e os amigos da escola improvisavam com uma latinha amassada. “Acho que estava no meu sangue mesmo.”

 

Da infância ao início da adolescência, ela nunca se intimidou com o fato de jogar e competir só com meninos. Liderava a turma dos boleiros no recreio e, várias vezes, saía briga para ver quem ia ficar no time dela. Magrelinha dos cabelos compridos, entortava uma fila de adversários antes de mandar a bola para o fundo da rede. “Teve campeonato que competiam uns 200 moleques e apenas eu de menina. Meu primeiro treinador [Luiz Carlos da Silva, fundador da ONG Espaço Criança] ainda me dava a camisa 10 e a faixa de capitã.”

 

Em um desses torneios, aos 10 anos, além do título, ela ganhou o campeonato de embaixadinhas: mais de 240 toques na bola, sem deixar cair no chão. O segundo colocado parou nas noventa e poucas, conforme a memória de seu João, o pai coruja que acompanhava de pertinho os dribles da filha prodígio e achava graça dos gritos atônitos de “marca a menina, marca a menina”, disparados pelos treinadores rivais.

 

 

Bia passou alguns meses “brigada” com o futebol aos 13 anos, quando comentários preconceituosos começaram a lhe incomodar e quando as diferenças físicas em relação aos garotos se acentuaram. Escolheu o vôlei como esporte, mas, uma ligação do prefeito de Araraquara, Edinho Silva (que retornou ao cargo em 2017), a fez mudar de ideia.


Ele montou uma equipe feminina de futebol na Ferroviária e fazia questão de contar com a garota. Diante da resposta de seu João de que a filha tinha trocado de modalidade, o prefeito rebateu “ah, para, João, que vôlei! A Bia é jogadora de seleção brasileira. Ela tem o mundo do futebol aos pés dela.”

 

Parecia premonição. Dias depois de aceitar o convite de Edinho, Bia entrou na lista de convocadas da seleção sub-17. Mascote do grupo com apenas 13 anos, foi destaque do Sul-Americano e, novamente, a camisa 10. A partir daí, voou cada vez mais alto.

 

Há seis anos, a atacante da seleção atravessou o mundo em busca do

sonho de viver do futebol feminino(Fotos: Reprodução)

 

“Fiquei assustada quando o prefeito me ligou. Acho que nunca dimensionei a qualidade que as pessoas viam em mim. Porque eu só queria entrar em campo e jogar bola, brincar. O futebol sempre foi uma diversão para mim.”

 

E é assim, se divertindo com as chuteiras nos pés, que a paulista planeja realizar outros sonhos --entre eles, disputar uma Champions League, voltar a jogar no Brasil em algum momento e, claro, conquistar essa Copa do Mundo. “Sabemos que, com esse título em mãos, a gente pode brigar por melhorias no futebol feminino, alavancar de uma vez por todas a modalidade no nosso país.” 

 

Revista Marie Claere

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