26 de Abril de 2024 - Ano 10
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28/05/2017

Incerteza na economia pode frear setores que já começavam a reagir

Foto: Marcos Alves / Agência O Globo

Corte menor da taxa de juros é a principal ameaça, dizem analistas

As vendas de materiais de construção, móveis, eletrodomésticos e vestuário, que começaram o ano com recuperação, contribuindo para aliviar o resultado ruim do comércio, correm o risco de ver essa trajetória de melhora se reverter diante da incerteza que paira sobre a economia após o agravamento da crise política.

 

O mesmo acontece com a indústria, que teve leve melhora de 0,6% no primeiro trimestre, puxada por máquinas e equipamentos e bens duráveis. A indefinição sobre a aprovação das reformas (trabalhista e da Previdência) e sobre um corte mais profundo da taxa básica de juros Selic pode frear essa recuperação incipiente.

 

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— Esses setores vinham num movimento muito fraco, de alta sobre uma base de comparação muito baixa com o ano anterior. A expectativa de continuidade de melhora estava atrelada à recuperação da atividade no país, que agora está comprometida. A crise política colocou areia na engrenagem dessas atividades, pois pode fazer a economia ficar presa no fundo do poço por mais tempo — analisa Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

 

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Efeito do ‘cansaço da crise’

 

O resultado positivo da indústria no primeiro trimestre foi puxado por bens de capital (máquinas e equipamentos), com alta de 4,4%, graças principalmente à colheita de uma safra recorde. Também tiveram alta, de 10,5%, bens duráveis, puxados por uma melhora na produção da linha marrom (televisores, som e vídeo) e da exportação de automóveis. A venda de eletrodomésticos cresceu impulsionada pela liberação das contas inativas do FGTS e pelo o que Cagnin chama de “cansaço da crise”:

 

— Por mais que se adie uma compra, chega um momento em que não há mais como protelar, porque esses equipamentos quebram, ficam obsoletos.

 

O recuo das vendas do comércio ampliado, aquele que inclui materiais de construção e veículos, desacelerou para -2,5% no primeiro trimestre. O resultado reflete a melhora nas vendas de vestuário e calçados (+4,7%), material de construção (+4,2%) e móveis e eletrodomésticos (+3%). Por serem muito sensíveis ao crédito, esses setores correm o risco de voltar a patinar, avalia Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio, Bens e Serviços (CNC).

 

— O comércio atingiu o fundo do poço em outubro de 2016 e estávamos vendo um resgate parcial dos fundamentos que mantêm as vendas, com melhora do emprego formal e a prestação média (no crediário) ficando mais suave. Mas, agora, a economia está em stand-by. O mercado de trabalho fica em suspenso, e o corte nos juros pode ser menor — analisa Bentes, que, apesar de manter a projeção de alta de 1,5% para o varejo ampliado este ano, não descarta uma queda na atividade do setor se o quadro político ficar conturbado por muito tempo.

 

Segundo Cagnin, do Iedi, a incerteza traz o movimento oposto ao de crescimento, pois gera insegurança em torno da manutenção da confiança, que o governo tinha como engrenagem chave para a retomada. A queda na confiança leva empresários a adiarem investimentos e consumidores, a cortarem gastos. Além disso, tanto a indústria quanto o comércio dependem de taxas mais baixas de juros. E, agora, com o temor de que as reformas não sigam adiante, os analistas já preveem um ritmo menor de redução da Selic. O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne na próxima quarta-feira para decidir a nova taxa básica de juros e, no mercado, a previsão média é de que o corte será de um ponto percentual, para 10,25% ao ano.

 

Impacto menor dos juros 

 

Mas, para Cagnin, se o corte dos juros recuar para a casa do meio ponto percentual ou menos nos próximos meses — antes da delação envolvendo o presidente Michel Temer as previsões estavam em até 1,5 ponto percentual —, o repasse desse alívio na Selic para as taxas de financiamento fica comprometido:

 

— Dificilmente as condições vão continuar a melhorar. O sistema financeiro terá dificuldade para repassar à pessoa física e jurídica qualquer queda de juros para o financiamento. E uma economia sem crédito é uma economia asfixiada.

 

Mais otimista, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) mantém as projeções de crescimento de 0,5% para o PIB brasileiro este ano e de 1,3% para a produção industrial.

 

— Independentemente da crise política atual, as eleições de 2018 também trariam incertezas sobre projetos. Acreditamos que o Congresso vai mostrar um certo descolamento da crise e dar continuidade ao andamento das reformas. Acho que esse é ponto importante para melhorar o ambiente de negócios — afirma o diretor de políticas e estratégia da CNI, José Augusto Fernandes.

 

 

Agência O Globo

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