06 de Maio de 2024 - Ano 10
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Política
20/05/2018

O passo a passo da reportagem que derrubou o presidente do INSS

Foto: Reprodução

Descoberta de fraude em contrato milionário é tema da primeira newsletter com bastidores da apuração dos jornalistas do Globo

"A apuração da fraude que acabou derrubando o presidente do INSS esta semana começou, na verdade, no fim de abril. Recebi um telefonema de uma antiga fonte no governo dizendo apenas que tinha um material importante para passar. Marcamos um local em Brasília para tratar do caso.

 

A papelada, um calhamaço de centenas de páginas com relatórios sigilosos, minutas contratuais e memorandos internos do INSS, mostrava várias pontas soltas num contrato do INSS com uma empresa chamada RSX Informática. Percebendo que o material era promissor, destaquei o repórter Patrik Camporez para ir a campo e passei a coordenar a reportagem.

 

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Pelo contrato de R$ 8,8 milhões para fornecer programas de computador, chegamos aos nomes dos donos, aos endereços da empresa e a uma lista de clientes apresentados pela RSX. Percebemos algo errado quando procuramos dois desses clientes — a Petrobras e a Confederação Nacional da Indústria — e eles negaram ter qualquer contrato com a empresa.

 

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Enquanto o Patrick percorria os endereços em Brasília, uma outra fonte vinculada ao INSS passou a nos fornecer mais elementos do rastro deixado pelo contrato da RSX dentro do órgão. Usamos um sistema alternativo de contato, com mensagens em um aplicativo criptografado, para receber desse informante os relatos dos técnicos que tentaram evitar que o negócio fosse fechado. Esses relatos reconstituíram a atuação direta de Francisco Lopes, presidente do INSS, para garantir que a compra fosse feita à revelia da área técnica.

 

 

Na apuração de campo, as suspeitas só aumentavam. Descobrimos no primeiro endereço que constava no contrato que a empresa não existia no lugar informado ao INSS. Vasculhando o site, descobrimos um segundo endereço. Pelo Google Maps, vimos que a suposta matriz era um prédio residencial de três andares.

 

Então, na tarde da quarta-feira, 9 de maio, o fotógrafo Michel Filho e Patrick foram ao local. Não era uma casa, é verdade, mas sim um depósito de bebidas. Isso no lugar onde deveria funcionar a fábrica de softwares da RSX.


Depois de garantir uma evidência fotográfica, fomos procurar os envolvidos. Num primeiro momento, o dono da empresa, Lawrence Barbosa, confirmou que a empresa funcionava numa sala comercial. Depois, ao saber que já havíamos estado no local — totalmente vazio —, nos deu outro endereço, onde funcionaria a “matriz”. Era, no caso, esse pequeno depósito de vinhos. O que ele não sabia era que a gente também já havia estado nesse segundo lugar. Barbosa ficou ainda mais nervoso quando falamos que a atendente confirmou ser a única funcionária do estoque de bebidas e se revezava entre atender o telefone em nome da RSX e organizar as garrafas de vinho.

 

Quando visitamos a tal "sede", acabou acontecendo algo inesperado. Enquanto Patrick falava com a recepcionista, uma mulher saiu de uma porta dentro da distribuidora. Era Daiany Barbosa, a mulher do Lawrence, que se identificava como vice-presidente da RSX nas redes. Quando a abordei, ela se assustou, tentou mentir o nome e apertou o passo rumo ao carro.

 

Novas informações

 

Com tudo isso, ficou claro para nós que a RSX era uma empresa de fachada, que não teria condições de entregar o serviço contratado pelo governo. E aí, nos restava abordar o presidente do INSS, para confrontá-lo com as informações que tínhamos apurado. A única saída para o agora ex-chefe do INSS foi admitir que não havia investigado o perfil da empresa antes de contratá-la e liberar a primeira parcela do contrato, de R$ 4,6 milhões.

 

 

Publicamos essa reportagem no site do GLOBO às 10h da manhã e, logo, os telefones e os nossos e-mails começaram a receber uma torrente de informações. Eram mais denúncias de irregularidades envolvendo outros contratos dessa mesma empresa com órgãos do governo.

 

Para o conteúdo publicado no jornal, no dia seguinte, recebemos a informação de que o INSS iria fazer uma batida na empresa. Foi aí que decidimos voltar ao endereço da distribuidora de bebidas. Para a nossa surpresa, na calada da noite, na tentativa de não ficar mal na história, a RSX tinha sumido com o estoque de bebidas e contratado pedreiros para camuflar a sala como uma sede tradicional de empresa de informática. O cheiro de tinta no lugar era tão forte que ficamos compadecidos com a secretária que estava lá dando expediente.

 

Depois da repercussão da história, estamos abastecidos por novos documentos e novamente em campo, apurando as novas pistas. E a história, caros assinantes, promete ter novos capítulos."

 

O Globo

 

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