Apoio ao pré-candidato do PDT é forte no Nordeste; autonomia agrada a defensores de aliança com Alckmin
Com a desistência de Joaquim Barbosa, o PSB deve definir, nas próximas semanas, entre dois caminhos para a eleição presidencial deste ano: uma aliança com Ciro Gomes (PDT) ou a liberação dos diretórios estaduais para apoiarem o candidato que for mais conveniente para os interesses regionais. Desde a morte de Eduardo Campos em 2014, o partido enfrenta uma profunda divisão interna.
A opção por Ciro agrada às lideranças do Nordeste. Entre os estados que têm simpatia por um acordo com o pré-candidato do PDT está Pernambuco, que possui o maior número de representantes no diretório nacional. O estado é ligado à história do partido por causa dos ex-governadores Miguel Arraes e Eduardo Campos. Dirigentes de outras regiões também reconhecem, reservadamente, que o apoio ao pré-candidato do PDT é o mais viável.
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O congresso do partido, realizado em março, definiu que, caso houvesse aliança na eleição presidencial deste ano, ela deveria ser feita com um candidato de centro-esquerda, o que se encaixa no perfil de Ciro.
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União da esquerda
Apesar de não ter citado nominalmente o pedetista, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, defendeu ontem a união das legendas de esquerda em torno de um candidato.
— Precisamos ter uma frente em defesa da democracia, é preciso reconstruir e voltar a incluir a sociedade. Precisamos discutir isso com outras forças como o PT, o PCdoB, o PDT. Temos que nos aglutinar em torno de uma candidatura — disse o governador.
Coutinho afirmou ainda que é preciso “encarar a realidade” de que o ex-presidente Lula (PT) não deverá ser candidato. Ele é favorável a que o ex-presidente também puxe esse processo de unificação da esquerda, que ele prefere chamar de “campo da esquerda ampliado”, por reunir setores da sociedade “cansados de tudo isso que está acontecendo”.
O presidente da legenda, Carlos Siqueira, evita falar em nomes e diz que o PSB deve se reunir nos próximos dias para discutir, “com tranquilidade”, os rumos após a desistência de Barbosa. Ele acrescenta não ser favorável à liberação dos diretórios estaduais.
— É uma hipótese pela qual eu pessoalmente não tenho a menor simpatia.
A proposta de dar autonomia para cada estado decidir com quem se aliar é defendida pelo governador de São Paulo, Márcio França, que foi vice de Geraldo Alckmin e vai disputar a reeleição. França já anunciou que, independentemente da posição da sigla, vai apoiar o tucano para presidente.
Questionado ontem sobre o caminho que o partido deve seguir, o governador paulista não respondeu. Declarou apenas que a desistência de Barbosa era “previsível”:
— Nas condições atuais de periculosidade, adversidade e risco, só sobreviverão os profissionais.
Logo após a desistência de Barbosa, Alckmin fez uma sinalização em direção ao PSB.
— Por mim, já seríamos aliados do PSB — disse o tucano, que reforçou, porém, que ainda não poderia cravar uma aliança entre as duas legendas:
— Vamos respeitar, é outro partido, com lógica própria. Temos que respeitar o tempo deles. Isso se decidirá com o tempo. Vamos aguardar.
Siqueira não fechou as portas para um acordo com Alckmin, apesar de o pré-candidato tucano ter divergências com relação a algumas posições do partido, como a defesa da reforma da Previdência do governo Michel Temer.
— Todos que nos procurarem nós vamos levar o nome à mesa e analisar — afirmou o presidente do PSB.
Sem brincar de política
Uma ala do partido, representada pelo vice-presidente Beto Albuquerque, ainda é favorável ao lançamento de candidatura própria, mas a ideia é rechaçada por outros dirigentes.
— Candidatura própria tem que ter viabilidade. Não podemos brincar de fazer política — descartou Siqueira.
O secretário-geral da legenda, o ex-governador Renato Casagrande (Espírito Santo), também descarta uma candidatura própria.
— O PSB não tem um candidato próprio (natural). Um nome que tenha um número muito pequeno de votos fragiliza o partido. Eu defendo que a gente tenha uma aliança.
Casagrande citou os nomes de Ciro, Alckmin, Marina Silva (Rede) e Álvaro Dias (Podemos) como cabeças de chapa numa possível aliança.
— Se o PSB tiver uma posição, não fugirá desses quatro.
O ex-governador do Espírito Santo entende que a resolução aprovada no congresso não barra automaticamente um candidato de partidos de centro ou centro-direita, apenas exigiria deles que assumissem determinadas posições.
O Globo