26 de Abril de 2024 - Ano 10
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08/11/2017

Suzana Pires: Por que falar de dinheiro ainda é um tabu feminino?

Foto: Arquivo pessoal

Suzana Pires: a atriz e roteirista estreia assina a coluna Dona de Si, sobre empreendedorismo feminino

Nos anos 90, ouvi, pela primeira vez, o termo maria gasolina, usado para designar as meninas que só ficavam com garotos que tivessem bons carros. Era moda o modelo GOL GTS, GTI, GTX, que as twenty-something, millenials, não sabem o que é, mas que as quarentonas, perenials, vão lembrar! Depois, veio o termo maria chuteira, para caracterizar as moças que namoravam jogadores de futebol e, dia desses, escutei: aquela tipa é uma batedora de carteira, para adjetivar as moças que tenham namorados ricos.

 

Por que nossas preferências por esse ou aquele homem acabam sempre nos trazendo adjetivos que aliam nosso afeto ao poder financeiro do cara? Por acaso, só aos homens é reservado o status que o sucesso financeiro traz? A resposta para essa pergunta é: Simmmmm!!!! Quantas vezes já não ouvimos que “aquela velha rica só gosta de garotinhos” para identificar uma mulher que tenha sucesso financeiro e esteja namorando um homem mais jovem? E, assim adjetivá-la numa única frase de carente, ridícula e sem noção; sem jamais saber que a tal “coroa pegadora” é uma baita profissional, dona do próprio negócio e, consequentemente, dona dos próprios desejos. Uma mulher que conquista sua independência financeira tende a ser mais Dona de Si do que as mulheres que ainda dependem financeiramente do pai ou do marido.


Porque nossas preferências por esse ou aquele homem acabam sempre nos trazendo adjetivos que aliam nosso afeto ao poder financeiro do cara? Por acaso, só aos homens é reservado o status que o sucesso financeiro traz? frase"


Suzi Pires

 


Calma! A independência financeira é algo a ser construído. Uma menina de 18 anos não tem como ter seu próprio dinheiro porque está se preparando para isso, e é essa preparação um dos momentos mais importantes da vida feminina. É entre 15 e 20 anos que formamos nossas crenças definitivas. Aquelas crenças que vão guiar nossos passos e escolhas no futuro, portanto, nada mais importante que uma adolescente rebelde entender que sua energia pode servir (e muito!) para seu empoderamento. Se ela focar toda essa energia em se “formar” não só na escola ou na faculdade, mas também na observação da vida feminina, terá mais chances de perceber as crenças limitadoras que a sociedade joga na mulher que tem a audácia de ser bem-sucedida. Observando as crenças limitadoras e as identificando como tal, fica mais fácil para uma jovem entender que sua luta por independência financeira dará a ela também independência emocional.

 

Sabe por que? Porque construir uma vida tem seu preço. Fazer escolhas, realizar sonhos custa caro. Nem sempre você vai conseguir ir a todas as festas, ou sair com todos os garotos que quiser, pelo simples fato de que ele pode não entender você preferir estudar para a prova a ficar com ele. Uma jovem mulher que opta por construir sua vida vai, necessariamente, optar por construir relações afetivas que a impulsionem. Sim, essa moça vai perceber mais rápido quando estiver diante de um namorado que a diminua, ou que diminua seus sonhos e a sua capacidade de realizá-los. E, caso ela não identifique rápido essa cilada, a vida vai identificar por ela, e ela vai sair do fundo do poço dos abusos morais sofridos e se reerguer, porque a força interior, essa pérola única, ninguém tira de dentro de uma mulher #DonaDeSi.

 

Ao seguir sua trajetória e iniciar seu sucesso, essa mesma moça #DonaDeSi vai ouvir que “aquela ali só quer se dar bem” ou “aquela ali é carreirista”, “ ela só tá ganhando essa grana porque transou com alguém”, “porque teve um caso com o chefe” ou “ ganha dinheiro, mas tá sem homem” e por aí vai. Poucas serão as vezes em que ela ouvirá que seu trabalho é muito bom, que ela é decidida, comprometida com sua vida e digna de muito respeito. Uma amiga pode verbalizar isso, sua mãe, seu pai, mas o mundo (ah! esse mundão machista) vai trabalhar, incansavelmente, para que ela desista. Está se reconhecendo, minha amiga? Pois é, acontece com todas nós que ousamos quebrar padrões, que ousamos pensar com a própria cabeça, que ousamos ganhar bem, que ousamos adquirir bens, que ousamos ser responsáveis por nós mesmas.


Depois de escrever tudo isso, fico pensando: “Suzi, você não está sendo pessimista demais”? Não... não estou. Porque, culturamente, uma mulher que batalha para conquistar seus sonhos e CONSEGUE soa estranho, porque o “normal” seria essa mesma mulher batalhar, batalhar e desistir. Não, nós não vamos desistir. Essa crença, mais uma crença limitadora a nosso respeito, se apresenta em diversas facetas: quando uma de nós escuta que está trabalhando muito e negligenciando os filhos, ou a vida afetiva, ou o corpo (ah lá, só trabalha: tá gorda!); quando recebemos, em média, 30% menos que os homens na mesma posição que a nossa; quando não nos contratam porque o investimento da empresa em você pode não render o desejado quando você tiver filhos, afinal, isso pode desacelerar sua vida profissional. E se a licença-maternidade se igualasse a licença-paternidade, esse problema estaria resolvido: a mulher tem quatro meses de licença e o pai da criança também. Nada mais justo para a empresa, os profissionais e também para a criança!

 

Suzana Pires acorda cedo todos os dias, prepara o café da manhã, vê

as notícias e já começa a escrever (Fotos: Reprodução)

 

Os limites nos são colocados a todo instante e o que nos tira dessa condição? Nossa alma empreendedora. E por que somos empreendedoras natas? Porque, querido mundo machista, tudo o que você entrega para uma mulher, ela não só multiplica em valores financeiros, mas, também, em valores com propósitos. Ou vocês já viram uma mulher fazer algo só por fazer? Pode ser qualquer atividade, mesmo que ela não goste tanto, ela aplica propósito, por exemplo: “Eu não gosto de lavar roupa, mas vou lavar roupa para fora porque, além de ganhar meu dinheiro, estarei também entregando a roupa cheirosa, deixando cada cliente satisfeito”. E esta mesma mulher vai fazer tão bem seu trabalho que pode aumentar seu negócio, construindo uma trajetória que começa por lavar roupa no tanque e chega a uma lavanderia. E isso vai acontecer porque o serviço terá excelência, sendo esse o propósito.


Empreender deve ser nossa postura onde quer que nossa vida profissional esteja desenhada, porque a ação de empreender não tem só relação com negócio próprio. Empreender é inovar, sair da acomodação, correr riscos, cometer erros, se desafiar, transformar ideias em realidades e, assim, atingir grandes resultados, entendendo que o seu grande negócio é VOCÊ!

 

E por que afirmo com veemência que empreender é algo próprio das mulheres? Porque, neste momento, somos NÓS que precisamos sair de nossa caverna, como um dia os homens já fizeram. E “sair da caverna” é, sim, perigoso, ainda mais para uma moça...mas, você, amiga, não é mulher de se retrair com riscos e perigos, afinal você é uma #DonaDeSi.

 

Sim, podemos construir nossa vida a partir de uma ação empreendedora, de propósitos, munidas de garra e também de ambição. Eita que essa palavra é mais um tabu feminino: ambição. Nas novelas, a ambiciosa é sempre a vilã e a mocinha, sempre a tanto faz como tanto fez. Apenas: NOT. Ambição não é algo negativo para uma mulher, como fomos ensinadas a pensar. Ambição é desejar o que seja seu, amada. E partir para conquistar seu território, com ética. Ambição é querer, desejar e se movimentar, sempre embasada por sua ética, seus princípios e propósitos. Sua ambição não precisa derrubar uma colega de trabalho, ao contrário, sua ambição pode fazer você ser uma líder inspiradora. Pense nisso: por tantos anos fomos tratadas como moeda, sendo objetificadas e precificadas devido ao nosso corpo, cabelo, nossa pele, cor dos olhos... fosse em nossa vida privada, nossa exposição pública nos anúncios e também no ambiente profissional. Mas quem nos objetificou não foi nossas ambições. Nossa ambição vem talhada de amor, e isso faz e fará ainda mais diferença no mundo. Aceite sua ambição! Faça as pazes com ela! Te garanto que ambição-ética será sua melhor conselheira.

 

Além de empreender, fazer as pazes com sua ambição e conquistar seus bens materiais, conquiste também bens “sexuais”... que tal a possibilidade de ter um garotão com abdômen tanquinho, de sunga, te esperando com o jantar pronto e um bom drinque quando você chegar cansada de um dia de trabalho?! Hã? É uma opção toma-lá-dá-cá com o que os homens já fizeram com a gente? Sim, é. Mas é muito bom!!! [risos eternos] 

 

Marie Claire

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