18 de Maio de 2024 - Ano 10
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Internacional
08/05/2018

Trump anuncia retirada dos EUA de acordo nuclear com o Irã

Foto: Reprodução

Trump mostra documento assinado após anunciar a saída dos EUA do acordo nuclear com o Irã (Foto: Reprodução/Youtube/White House)

O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou nesta terça-feira (8) que decidiu abandonar o acordo nuclear firmado com o Irã, retomando as sanções contra o país.

 

Trata-se de uma das mais contundentes decisões de política externa do americano em seus 15 meses de governo.

 

Durante o anúncio, Trump afirmou que 'o Irã é o principal estado patrocinador do terrorismo' e que nenhuma ação desse país foi mais perigosa do que sua busca por armas nucleares.

 

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O acordo, negociado pelo antecessor de Trump, Barack Obama, fez o Irã se comprometer a limitar suas atividades nucleares em troca do alívio em sanções internacionais.

 

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O presidente iraniano Hassan Rouhani já havia dito no domingo que a saída americana do acordo faria com que os Estados Unidos tivessem um 'arrependimento histórico'.

 

Em seu discurso, Trump disse ainda que o acordo de 2015 deveria proteger os EUA e seus aliados, mas permitiu que o Irã continuasse enriquecendo urânio.

 

Segundo ele, o país estaria próximo de obter armas nucleares e lançar uma corrida armamentista no Oriente Médio, com outras nações querendo seguir seu exemplo e também buscando programas nucleares.

 

O presidente confirmou ainda que irá reinstaurar sanções 'do mais alto nível' sobre o Irã e disse que outros países também poderão ser sancionados.

 

Ele não descartou, porém, um novo acordo com o Irã, afirmando que pretende encontrar uma solução 'real e duradoura' à ameaça nuclear e dizendo que o próprio Irã irá desejar um novo acordo.

 

De acordo com a Reuters, a TV estatal iraniana afirmou que a decisão de Trump é ilegal, ilegítima e enfraquece acordos internacionais.

 

Ainda na TV, o presidente do Irã, Hassan Rouhani, disse que os Estados Unidos nunca cumpriram seus compromissos e que a decisão de Trump foi uma 'experiência histórica' para os iranianos.

 

Sanções


O Departamento do Tesouro dos EUA informou que irá iniciar períodos de desaceleração de atividades envolvendo o Irã em setores afetados pelas sanções. Ao final desses períodos, as sanções voltarão a ter efeito total.


Entre os exemplos, estão um período de 90 dias para a compra de dólares americanos pelo Irã, para as negociações prévias de metal, alumínio, aço e carvão e no setor automotivo.

 

O mesmo período será aplicado para aeronaves comerciais de passageiros, peças e serviços e licenças gerais e autorizações relacionadas a exportações do setor aéreo. Transações no setor petrolífero terão um prazo maior, de 180 dias.

 

Abandono prometido

Trump se recusou duas vezes a certificar ao Congresso que o Irã está cumprindo a sua parte no acordo - algo que, em teoria, deve ser feito a cada três meses. Ainda assim, as sanções não voltaram automaticamente.

 

Acontece, porém, que além disso o presidente americano afirmou, em janeiro, que abandonaria o acordo até 12 maio caso o Congresso e as potências europeias não corrigissem suas 'falhas desastrosas'.

 

Para Trump, o acordo restringe as atividades nucleares do Irã apenas por um período limitado. Ele alega que o documento não foi capaz de deter o desenvolvimento de mísseis balísticos;

 

E que a liberação de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 355 bilhões) de ativos internacionais do país foi usada como 'um fundo para armas, terror e opressão' no Oriente Médio.

 

Do que se trata o acordo?

 

Iranianos seguram a bandeira de seu país e fazem o sinal da vitória ao

comemorar o acordo sobre o programa nuclear em Teerã em 2015

(Foto: Atta Kenare/AFP)
 


O Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), como informa a rede BBC, foi acordado pelo Irã e cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas - os Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia, além da Alemanha (o grupo chamado de P5 +1 ).

 

O documento estabelece um teto para o estoque de urânio enriquecido do Irã - material usado para produzir combustível para reatores, mas também armas nucleares - por 15 anos e limita o número de centrífugas para enriquer o material por 10 anos.

 

Teerã também se comprometeu a modificar um reator de água pesada, de modo que não seja capaz de produzir plutônio - um substituto para o urânio usado em bombas.


O acordo foi reforçado pela resolução 2231 do Conselho de Segurança e teve sua implementação iniciada em janeiro de 2016, depois que a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês) certificou que o Irã cumpriu seu deveres principais.

 

Pontos a 'consertar', segundo Trump


Em janeiro, o presidente americano disse que não manteria o alívio às sanções a não ser que o Congresso aprovasse uma complementação à legislação que trata do acordo nuclear. Entre as alterações desejadas pelo governo Trump, estão:

 

Inspeções imediatas a todos os locais demandados pela IAEA;


O compromisso de que o Irã "não chegue perto de possuir capacidade de fabricação de uma arma nuclear"; segundo fontes do governo americano, isso significa manter o chamado "break-out time" - o tempo necessário para fabricar uma bomba - algo em torno de um ano;


Dispositivos limitando as atividades nucleares do Irã sem data de expiração, com o retorno da aplicação de sanções caso esses dispositivos sejam violados;


A inclusão pela primeira vez de menção explícita de que os programas de mísseis de longo alcance e de armas nucleares são inseparáveis, e de que o desenvolvimento de mísseis e eventuais testes deste tipo de armamento ficam sujeitos a aplicações de sanções rigorosas.


Em abril, o subsecretário de Estado Christopher Ford sublinhou que os EUA 'não pretendiam renegociar o JCPOA, nem reabri-lo, nem mudar seus termos'.

 

Em vez disso, o país estaria 'buscando um acordo suplementar que, de alguma forma, iria definir algumas regras adicionais'.

 

Qual a posição de Irã e dos demais países envolvidos?

 

Hassan Rouhani discursa em imagem de arquivo

(Foto: Iranian Presidency Office via AP)
 


O Irã afirma que seu programa nuclear é totalmente pacífico e diz que considera o JCPOA 'não renegociável'. Os líderes iranianos enviaram sinais contraditórios.

 

Entre o apego ao texto mesmo com a ausência dos Estados Unidos e a ameaça de um relançamento 'acelerado' do programa nuclear. O tom tem se endurecido nas últimas semanas, chegando à promessa de uma retirada iraniana no caso dos Estados Unidos saírem.

 

Se o acordo for quebrado, os inspetores internacionais já não terão o mesmo poder de verificação.

 

O presidente do país, Hassan Rouhani, tentou tranquilizar a população no domingo e disse que o país tem 'planos' para resistir, qualquer que viesse a ser a decisão tomada por Trump.

 

Rouhani já havia afirmado que haveria consequências severas" se os EUA restabelecerem as sanções.

 

Autoridades iranianas dizem que o enriquecimento de urânio pode ser retomado dentro de poucos dias e que o país pode se retirar do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (NPT, na sigla em inglês).


A União Europeia diz que o acordo atual está 'funcionando' e 'precisa ser preservado'.

 

Os europeus disseram que permanecerão no acordo mesmo que os americanos o deixem. Mas os diplomatas estão preocupados com o que as empresas do Velho Continente irão fazer: se decidirão abandonar o Irã, assustadas pela incerteza e ameaça das sanções americanas, ou congelarão seus investimentos, podendo endurecer a reação iraniana.

 

Hassan Rouhani discursa em imagem de arquivo

(Foto: Iranian Presidency Office via AP)
 


O presidente francês, Emmanuel Macron, no entanto, disse durante uma visita a Washington em abril que o acordo 'não é suficiente' e que está disposto a 'trabalhar por um novo', que incluiria o bloqueio de qualquer atividade nuclear até 2025.

 

Período coberto pelo atual acordo, e garantir que não haja atividade nuclear iraniana 'a longo prazo', além interromper o desenvolvimento e teste de mísseis balísticos pelo Irã.

 

Nesta terça, Macron lamentou o anúncio de Trump. 'A França, a Alemanha e o Reino Unido lamentam a decisão dos EUA de deixar o JCPOA. O regime de não proliferação nuclear está em jogo', escreveu o presidente francês no Twitter.

 

A Rússia também já se mostrou favorável a manter o acordo em seu formato atual porque acredita 'não existir alternativa'; já o chefe da IAEA, Yukiya Amano, disse que seu fracasso seria 'uma grande perda para a verificação nuclear e para o multilateralismo'.


Resolução de disputas


O acordo prevê um 'mecanismo de resolução de disputas'. Se o Irã segui-lo, deve indicar sua vontade de não fechar as portas imediatamente.

 

A comissão de acompanhamento do acordo, que inclui todos os signatários, analisaria a crise, possivelmente a nível de chanceleres e, na falta de solução, passaria para um comitê de três árbitros.

 

Isso daria lugar a quase dois meses de negociações antes que o Irã decida, eventualmente, julgar seus compromissos como vencidos.

 

O Irã tem cumprido seus deveres no acordo?


A Agência Internacional de Energia Atômica diz que o regime de verificação que usa atualmente no Irã é 'o mais rigoroso que há do mundo'. A agência afirma também que seus inspetores certificaram 11 vezes.

 

Desde 2016, que o Irã está cumprindo seus compromissos nucleares no âmbito do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês).

 

No entanto, o órgão fiscalizador já registrou algumas violações técnicas. Por exemplo, o Irã já ultrapassou duas vezes seu limite de produção de água pesada. Em ambos os casos, o Irã enviou o excedente para fora do país.

 

A IAEA também diz que seus inspetores conseguiram ter acesso a todos os locais demandados em 2017.

 

Visitas a instalações militares, porém, não foram requisitadas, algo declarado como proibido por autoridades iranianas - uma medida que os EUA consideram gerar dúvidas sobre o compromisso iraniano.

 

Potências norte-americanas e europeias também dizem que o Irã realizou testes com mísseis balísticos, violando a resolução 2231.

 

Ela define que o Irã não deve 'realizar qualquer atividade relacionada a mísseis balísticos projetados para serem capazes de carregar armas nucleares'.

O Irã diz que os mísseis não são projetados com essa finalidade.

Os EUA têm cumprido o acordo?


O Irã acusa os EUA de violarem o JCPOA ao impor novas sanções não diretamente relacionadas às suas atividades nucleares. Elas têm tido como alvo entidades associadas ao programa de mísseis balísticos do Irã e à Guarda Revolucionária, bem como supostos violadores dos direitos humanos.

 

Funcionários iranianos também já expressaram frustração pelo fato de os EUA terem mantido a proibição do comércio direto com o Irã e a interdição ao acesso do Irã ao sistema financeiro dos EUA.

 

As restrições já impediam empresas estrangeiras de fazer negócios com o Irã antes das ameaças de Trump.

 

Sob o acordo, os EUA estão comprometidos a 'abster-se de qualquer política especificamente destinada a afetar direta e adversamente a normalização das relações comerciais e econômicas com o Irã'. 

 

G1

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