Após início ruim, seleção terminou com o inédito ouro do futebol masculino na Olimpíada do Rio de Janeiro
Há exatamente um ano, o pênalti convertido por Neymar deu ao futebol brasileiro a inédita medalha de ouro olímpica, numa conquista marcada por várias lembranças: golaços, traumas, vaias, reviravoltas.
Os jogos ainda estão frescos na memória do torcedor, mas duas outras noites foram fundamentais para o título: uma regada a vinho e outra em que os líderes dividiram com o treinador o papel de reerguer a equipe.
Rogério Micale herdou a missão de comandar a Seleção um mês antes da apresentação, em razão da demissão de Dunga. Apoiado no conhecimento de ter comandado a preparação dos jogadores com menos de 23 anos, mas debaixo dos temores de como um técnico inexperiente lidaria com uma estrela do quilate de Neymar, ele passou dias e noites matutando maneiras de ganhar a confiança do grupo.
O Brasil disputaria apenas um amistoso antes da Olimpíada: sábado, no dia 30 de julho, em Goiânia, contra o Japão.
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Na antevéspera, quinta-feira, a delegação chegou à cidade e Micale compartilhou uma ideia com o coordenador Erasmo Damiani, seu braço-direito: comprar garrafas de vinho e convidar os líderes do grupo para beber em seu quarto.
Foram chamados o goleiro Fernando Prass – que seria cortado dois dias depois, após agravar uma lesão no cotovelo durante o aquecimento para o amistoso –, os zagueiros Marquinhos e Rodrigo Caio, o meia Renato Augusto e o atacante Neymar.
Inicialmente, eles acharam que se tratava de uma reunião mais séria, para determinar diretrizes da equipe. Renato Augusto havia acabado de se apresentar.
Convocado para o lugar de Douglas Costa, machucado, ele não teve liberação de seu clube chinês para participar da etapa de treinos na Granja Comary, em Teresópolis.
O quinteto chegou ao quarto de Micale e rapidamente se desarmou, na abertura da primeira garrafa. A intenção era reforçar laços de confiança. Falar amenidades, dar risada, contar histórias.
Papo vai, papo vem, a segunda garrafa foi aberta. E só não chegaram à terceira porque os jogadores interviram, bem-humorados:
– Professor, amanhã tem treino.
É unânime a opinião que aquele encontro aliviou o ambiente e ajudou todos a se gostarem mais. Os líderes entenderam Micale, compraram a ideia e ajudaram a disseminá-la entre os garotos.
Mas isso não foi suficiente para a Seleção jogar bem. Os dois empates sem gols com África do Sul e Iraque, em Brasília, abalaram o prestígio de uma equipe da qual se esperava encanto. E foi então que outra noite, em Salvador, acabou sendo determinante para o ouro.
A delegação chegou à capital baiana para o confronto com a Dinamarca. Era necessário vencer. Micale, dessa vez, convocou todo mundo: jogadores e comissão técnica para identificar o que impedia a Seleção de deslanchar.
O técnico falou que confiava no grupo, mas disse que não queria ser dono da verdade. Pediu para ouvir também.
Foi aí que Rodrigo Caio falou tudo o que pensava. Renato Augusto idem. Marquinhos também. E desencadeou-se uma sequência de opiniões também encarada pelo grupo como essencial à sequência da Olimpíada.
O que estava certo, o que precisava melhorar, quem precisava colaborar mais em campo. Nada foi deixado para trás.
Depois da goleada por 4 a 0 sobre a Dinamarca, vieram as vitórias sobre Colômbia, Honduras e Alemanha. E o ouro. Embalado a vinho e voz ativa dos líderes.
Micale abraça Neymar e Gabriel Jesus durante jogo contra Honduras
nas Olimpíadas .( Fotos: Reprodução )
Globo Esporte