Em entrevista coletiva, único bicampeão mundial brasileiro de forma consecutiva avaliou pausa na carreira e revelou desejo de ganhar pela quarta vez a etapa de Saquarema, no Brasil
Após um ano de pausa na carreira para cuidar da saúde mental, o brasileiro bicampeão mundial de surfe Filipe Toledo voltou com tudo ao Championship Tour — a categoria principal da WSL.
No último sábado, disputou uma final de bateria épica contra Julian Wilson e conquistou a etapa de Burleigh Heads, na Austrália, repetindo o feito de dez anos atrás, quando venceu o mesmo rival na praia de Gold Coast. "Mais maduro e tranquilo": é assim que "Filipinho" define seu retorno e a forma como tem surfado após o período de descanso e readaptação.
— Sem pensar duas vezes escolho minha saúde mental. Poder estar feliz, cuidar da minha família. A mudança é o amadurecimento, saber lidar com todo tipo de situação. Hoje, mais maduro, depois de ter apanhado carinhosamente da vida, não sozinho, aprendi com quem estava do meu lado, a ser mais forte.
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O amadurecimento traz essa postura diferente tanto na vida, quanto na onda — falou em entrevista coletiva da qual GLOBO participou, nesta quarta-feira, após ter feito uma sessão de surfe para se adaptar ao mar da próxima etapa, em Margaret River, também na Austrália.
O título de Berleigh Heads foi o primeiro após o brasileiro retornar de modo competitivo ao tour. Com a vitória, passou para a sexta posição do ranking, fugindo do "corte de meio de temporada" — acontece após o sétimo evento, em Margaret River, e os surfistas que passarem dele estão garantidos na elite em 2026, e os que ficarem de fora precisarão retomar suas vagas pelo ranking do Challenger, a divisão de acesso. 22 homens podem se classificar por meio dele, e com o 16º título em etapas na WSL, Toledo já está garantido entre os nomes do ano que vem.
— Foi uma etapa importante para mim para definir minha passagem pelo corte. Teve o aniversário do Koa. Muito bom sentir essa sensação, minha última vitória tinha sido no Finals, em 2023. Tem todo um contexto muito grande por trás da vitória, pelo meu tempo parado, eu voltar e o surfe encaixar — falou ele, que tirou uma nota 10 nas semifinais, sua décima quarta da carreira na WSL.
Com a perna australiana (etapas disputadas na Oceania: Bells Beach, Burleih Heads e Margaret River) chegando ao fim, o brasileiro já pensa nas próximas etapas que disputará. Além de Margaret, ainda em maio, o mês de junho é reservado por provas em lugares especiais para "Filipinho".
A primeira disputada em junho será Trestles, na Califórnia, onde o brasileiro conquistou seus dois títulos mundial de forma seguida, em 2022 e 2023. No primeiro, derrotou Italo Ferreira e Jack Robinson. No seguinte, foi a vez de desbancar Ethan Ewing e depois Griffin Colapinto na final. E vale ressaltar que, em 2021, foi vice-campeão mundial por lá ao perder para Gabriel Medina na final.
— Não tinha nem parado para pensar nas próximas etapas. Não pensei, porque tô vivendo o agora. Tava preocupado em passar o corte, mas, realmente, são eventos em que já me dei muito bem. Se não ganhei, tive bons resultados. E depois do corte a gente fica mais tranquilo para falar. Fico amarradão de saber que essas estão vindo.
Além dos Estados Unidos, junho é marcado pela etapa em Saquarema, no Brasil. Em 2018 e 2019, levou os "canecos" e mostrou que era o "Rei de Saquarema". Em 2022, se lesionou durante as ondas da praia de Itaúna, mesmo saindo como campeão.
— Última vez que competi no Brasil me lesionei e quero apagar isso da minha memória, e graças a Deus ser campeão — falou sobre a possibilidade de surfar de novo no Brasil em 2025.
No início de 2024, já consagrado como bicampeão, Filipe Toledo anunciou uma pausa nas competições. O motivo, segundo ele próprio, foi a necessidade de cuidar da saúde mental. Em comunicado, o surfista afirmou que enfrentava uma “batalha silenciosa” e precisava se afastar do circuito da WSL para priorizar o bem-estar emocional e a vida pessoal.
— Os objetivos estão sendo conquistados ao pouco, eu não planejei nada para esse ano. É um ano de volta, de readaptação. Fazendo diferente dos últimos seis anos. Sem obrigações de ter que provar algo. Tenho dois títulos, já provei para mim mesmo que consigo. Sou o primeiro brasileiro a vencer duas vezes seguidas.
O que conseguir agora é lucro, quero curtir esse ano, pegar onda boa. E no próximo ano mudar a mentalidade. Mas, isso não quer dizer que não vou dar o meu melhor ainda. Estou lidando com as vitórias e derrotas de uma forma diferente este ano — avaliou Toledo, ao ser questionado sobre como ter ficado parado por um ano foi fundamental para sua saúde mental.
Nascido em Ubatuba (SP) em 16 de abril de 1995, Filipe Toledo é um dos principais nomes da história recente do surfe brasileiro e figura de destaque da chamada "Brazilian Storm". Filho do ex-surfista Ricardo Toledo, duas vezes campeão brasileiro, cresceu rodeado pelo esporte e rapidamente se destacou pelas manobras progressivas e estilo agressivo nas ondas.
Filipe se profissionalizou cedo e estreou no circuito da elite da World Surf League (WSL) em 2013, aos 17 anos. Não demorou a se tornar um dos surfistas mais populares e temidos do tour. Em 2015, conquistou três etapas e terminou a temporada em 4º lugar, firmando-se como candidato real ao título mundial.
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Em 2022, Filipe Toledo enfim conquistou seu primeiro título mundial da WSL, vencendo o Finals Day em Trestles, na Califórnia, em um duelo com o também brasileiro Italo Ferreira. Em 2023, repetiu o feito e se sagrou bicampeão mundial, entrando para um seleto grupo de brasileiros com múltiplos títulos, ao lado de Gabriel Medina.
Fonte:O Globo