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03/08/2024

Tumores cerebrais: diagnóstico precoce em crianças pode evitar a cegueira

Foto: Freepik

Pais devem ficar atentos aos sinais e sintomas, os quais podem não ser tão evidentes para eles e nem mesmo percebidos pelas crianças, alerta o Hospital do GRAACC, referência no tratamento do câncer infantojuvenil. Entre eles, estão quedas frequentes e apr

Tumores cerebrais pediátricos podem causar problemas visuais como visão subnormal e até cegueira. Os danos podem ser irreversíveis caso o diagnóstico e tratamento sejam tardios, alerta o Hospital do GRAACC, referência no tratamento do câncer infantojuvenil.

 

Os tumores cerebrais fazem parte dos cânceres do Sistema Nervoso Central (SNC), que são o segundo tipo de câncer mais frequente em crianças e adolescentes abaixo de 14 anos, com incidência de 20%. Dentre os tumores cerebrais que afetam a visão nessa população, são mais comuns os gliomas, que podem nascer nas vias ópticas, estruturas responsáveis pela condução da informação visual do olho para o cérebro.

 

Há também os craniofaringeomas e os germinomas intracranianos, que apresentam altas taxas de cura quando diagnosticados a tempo. Eles têm origem na parte central ou inferior do cérebro e, ao se desenvolverem, apertam o nervo óptico, estrutura formada pela junção de fibras nervosas da retina, que saem do olho para se conectarem ao cérebro.

 

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“Essa compressão acontece pelo contato direto do nervo óptico com os tumores ou, então, pela hipertensão intracraniana que o tumor causa ao interromper ou dificultar a circulação do líquor cefalorraquidiano, fluído que banha e protege o SNC”, explica Nasjla Saba, neuro-oncologista pediátrica do Hospital do GRAACC.

 

Porém, é preciso atenção. “Como esses tumores se desenvolvem lentamente, a perda da visão é tão gradual que as crianças, especialmente as mais novas, não a percebem de imediato”, previne a Dr.ª Nasjla. “A criança pode ter visão dupla (diplopia), embaçada e/ou sofrer diminuição gradativa do campo visual - ela perde, inicialmente, a visão periférica e, à medida que a doença avança, o campo se afunila em direção à visão central. Por vezes, os sintomas acontecem em apenas um dos olhos. Então, ela se adapta a essas alterações e, em algumas situações, está quase cega quando começa a se queixar de dificuldade em enxergar, conseguindo notar apenas o claro e o escuro”, adverte a especialista.

 

A médica explica que o diagnóstico e o tratamento precoce são cruciais para que o paciente recupere a função visual, uma vez que o tempo em que o tumor fica infiltrado nas vias ópticas influi na recuperação. “Queremos evitar que a criança, mesmo curada do câncer, fique cega ou com sequelas visuais graves. Isso acontece quando a doença atinge estágios mais avançados, que levam a prejuízos irreparáveis. Um exemplo é a isquemia das fibras do nervo óptico - o tumor bloqueia o fluxo sanguíneo para as células, danificando-as permanentemente”.

 

No Hospital do GRAACC, o tratamento dos tumores do SNC é realizado pelo Setor de Neuro-oncologia, cuja equipe multiprofissional inclui neuro-oncologistas, neurocirurgiões, oftalmologistas, endocrinologistas, neuropediatras, fisioterapeutas, nutricionistas, entre outros especialistas.

 

As opções de tratamento englobam quimioterapia, terapia-alvo (realizada a partir do conhecimento da biologia molecular do tumor) e radioterapia. Os recursos terapêuticos empregados variam de acordo com a localização, estadiamento e tipo do tumor, assim como idade e saúde geral do paciente, entre outros fatores.

 

“A terapia-alvo é mais efetiva no combate a tumores decorrentes de certas mutações genéticas, que não respondem tão bem à quimioterapia”, expõe a Dr.ª Nasjla. “Com os tratamentos, a criança pode voltar a enxergar, desde que não haja isquemia das fibras ópticas e elas estejam apenas ‘adormecidas’”, pontua.

 

 

PAIS, PEDIATRAS E OFTALMOLOGISTAS TÊM PAPEL IMPORTANTE NO DIAGNÓSTICO PRECOCE

 

Pais e responsáveis devem observar cuidadosamente o comportamento da criança e informar ao pediatra caso ela aumente a frequência em que cai e esbarra nos móveis ou aproxime demais os objetos dos olhos. Em alguns casos, há sinais mais evidentes, como ptose (queda da pálpebra), estrabismo e nistagmo (movimentos oculares rápidos, involuntários e repetitivos).

 

É importante prestar atenção, também, em sintomas que não estão diretamente relacionados à visão, como náuseas, vômitos e dor de cabeça. Quando o tumor nasce na região hipotalâmica do cérebro, há alterações emocionais e hormonais, entre elas: conduta agressiva, interrupção do crescimento, perda de peso, aumento na ingestão de água e puberdade precoce.

 

“Os pediatras devem valorizar as queixas dos pais, quando contam que o filho, independentemente se for criança ou adolescente, mudou o comportamento. E incluir o tumor, caso seja pertinente, em suas hipóteses diagnósticas, solicitando imagens do cérebro”, ressalta a Dr.ª Nasjla. A tomografia computadorizada auxilia na detecção de um tumor do SNC. Para estadiamento do câncer, ou seja, para determinar sua extensão, e verificar a sua localização precisa, são utilizados a ressonância magnética e, também, o exame de líquor.

 

“As crianças devem passar, ainda, por avaliações oftalmológicas ao nascer, aos seis meses de idade e, a partir daí, anualmente, mesmo que não se queixem ou não haja alterações oculares visíveis”, frisa a Dr.ª Nasjla. Cânceres no cérebro podem ser detectados precocemente por meio de exames oftalmológicos regulares, como o de fundo de olho, no qual a retina é observada com um aparelho chamado oftalmoscópio, após a dilatação das pupilas.

 

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“Esse exame permite a identificação de palidez e/ou edema (inchaço) na papila (nervo óptico), que podem sinalizar diversas condições, entre elas um tumor cerebral”, esclarece a Dr.ª Nasjla. A partir desses achados, o oftalmologista solicitará exames neuro-oftalmológicos, como a tomografia de coerência óptica, para melhor visualização da retina e do fluxo sanguíneo do nervo óptico. Ele também pode pedir a realização de tomografia do cérebro e, até mesmo, ressonância magnética de crânio.

 

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