14 de Maio de 2024 - Ano 10
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Política
10/11/2023

Censura a livros em escolas de SC engrossa lista de ações alinhadas do governador Jorginho Mello ao bolsonarismo

Foto: Reprodução

Entre as obras banidas, estão It: A coisa, de Stephen King; Exorcismo, de Thomas B Allen; e Laranja Mecânica, de Anthony Burgess

A secretaria de Educação de Santa Catarina, estado governado por Jorginho Mello (PL), fiel aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, retirou de circulação nove livros, entre eles, clássicos como “Laranja Mecânica”, das bibliotecas das escolas. O veto às obras se soma a outras ações da gestão Mello afinadas com bandeiras bolsonaristas. O ofício enviado às instituições na última terça-feira não justifica a determinação, só informa que a pasta vai enviar novas orientações em breve.

 

“Determinamos que as obras (...) sejam retiradas de circulação e armazenadas em local não acessível à comunidade escolar”, afirma a nota. Entre os livros banidos estão “It: A coisa”, de Stephen King, e “Exorcismo”, de Thomas B Allen, além de “Laranja Mecânica”, de Anthony Burgess.

 

Com pouco mais de 11 meses de governo, Jorginho Mello é o governador mais alinhado politicamente a Bolsonaro. A aliança o ajudou a ganhar destaque no Senado, quando era parlamentar, durante a CPI da Covid-19. Seu mandato tem priorizado pautas ideológicas, o que tem provocado críticas por parte de deputados estaduais. A falta de diálogo é outra reclamação recorrente na Assembleia Legislativa.

 

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O ofício que determina o recolhimento dos livros é assinado pelo supervisor regional de Educação, Waldemar Ronssem Júnior, e pela integradora regional de Educação, Anelise dos Santos de Medeiros.

 

Também fazem parte da lista de obras vetadas “A química entre nós” (Larry Young e Brian Alexander), “Coração satânico” (William Hjortsberg), “Donnie Darko” (Richard Kelly), “Ed Lorraine Warren: demonologistas - Arquivos sobrenaturais” (Gerald Brittle), “Os 13 porquês” (Jay Ascher) e “O diário do diabo: os segredos de Alfred Rosenberg, o maior intelectual do nazismo” (Robert K. Wittman e David Kinney).

 

Procurado, o governo catarinense informou que “não estão sendo retirados livros das escolas estaduais da região”:

 

“Apenas alguns dos títulos das bibliotecas das unidades escolares da região estão sendo redistribuídos, buscando melhor adequar as obras literárias às faixas etárias das diferentes modalidades oferecidas na rede estadual de Educação. Obras para o público adolescente/adulto tinham sido enviadas pela antiga gestão para escolas com alunos de uma faixa etária menor”.

 

O PSOL de Santa Catarina denunciou o caso ao Ministério Público e estuda outras medidas para impedir a retirada de livros. Em nota, o partido afirma que “se trata de uma censura grave, e é mais um sintoma da agenda ideológica do governo Jorginho Mello, que se mostra antidemocrática e autoritária”.

A deputada estadual Luciane Carminati (PT) enviou um requerimento de informação ao governo solicitando os motivos e o parecer técnico que embasou a decisão. Ela também quer saber o que será feito com os livros tirados de circulação.

 

— Só falta queimar os livros. Vamos repetir a História? Parece que a secretaria de Educação não está preocupada com a construção de um conhecimento crítico, atual e adequado aos nossos estudantes — afirma Carminati.

 

RADICALISMO HERDADO 


O escritor, tradutor e professor Fábio Fernandes, que traduziu “Laranja Mecânica” para a Língua Portuguesa, atribui a censura dos livros a uma herança do radicalismo encontrado hoje na ala mais conservadora do Partido Republicanos dos Estados Unidos, “graças ao bolsonarismo”. Jorginho Mello é considerado o mais bolsonarista dos governadores, e Santa Catarina é o principal reduto eleitoral do ex-presidente.

 

— O banimento de obras é uma das práticas mais odiosas de um regime totalitário. É inadmissível que se proíba que um livro circule numa biblioteca. É muito cruel e definitivamente um retrocesso, porque tira o poder de reflexão dos jovens leitores — diz Fernandes.

 

A afinidade do governador com o bolsonarismo aparece na forma de nomeações. Entre as 24 pastas com status de secretaria, pelo menos dez titulares declararam apoio à reeleição de Bolsonaro. Fora do primeiro escalão, a filha da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, Letícia Firmo, foi agraciada com o cargo de assistente de gabinete da Secretaria de Articulação Nacional. Jair Renan, filho do ex-presidente, ganhou um cargo no gabinete do senador Jorge Seif (PL), aliado de primeira hora de Mello.

 

Há outros gestos de Mello na direção de simpatizantes do ex-presdente. Após os ataques às instituições no dia 8 de janeiro, o governador enviou defensores públicos a Brasília para dar assistência aos catarinenses envolvidos nos atos. A medida rendeu investigação do Ministério Público Federal por suposta improbidade administrativa.

 

Governantes conservadores têm feito investidas contra obras literárias nos últimos anos. No Rio de Janeiro, por exemplo, o então prefeito Marcelo Crivella determinou o recolhimento da história em quadrinhos (HQ) “Vingadores: a Cruzada das Crianças” da Bienal do Livro de 2019.

 

ALINHADO AO BOLSONARISMO 


Atos golpistas: Após os ataques antidemocráticos de 8 de janeiro, Jorginho Mello enviou defensores públicos a Brasília para darem assistência aos catarinenses envolvidos nos atos. A medida rendeu investigação do Ministério Público Federal por suposta improbidade administrativa.


Escola sem partido: No início de sua gestão, o governador catarinense sancionou a lei que instituiu a escola sem partido, uma das bandeiras do bolsonarismo. O texto tem como objetivo legislar sobre “o direito de aprender conteúdo politicamente neutro e livre de ideologias” nas instituições de ensino do estado.


Afastamento: Jorginho Mello tem evitado proximidade com o governo federal. Durante uma visita do ministro da Justiça, Flávio Dino, para discutir a violência nas escolas e o massacre de Blumenau, em que foram mortas quatro crianças numa creche, o governador justificou sua ausência com uma cirurgia num olho. Dias depois, Dino esteve com os governadores de Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB). O catarinense se manteve ausente.

 

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Abrigo: O governador abriu espaço em seu governo para parlamentares bolsonaristas que não conseguiram a reeleição. 

 

Fonte: O Globo

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