Afastamento do petista se dá em meio a uma crise com o Congresso e tratativas para uma reformulação em parte da equipe de ministros
Com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva internado até pelo menos a semana que vem, o governo se organiza para tentar não parar em um momento crucial do ano. O afastamento do petista se dá em meio a uma crise com o Congresso e tratativas para uma reformulação em parte da equipe de ministros, tendo em vista a costura de alianças para 2026.
Médicos do presidente descartaram na terça-feira a necessidade de um afastamento formal da função, mas recomendaram que ele descanse no período e a ordem entre os ministros é para que não o incomodem com problemas enquanto ele estiver internado.
A ida de Lula para o hospital, na noite de segunda-feira, se deu logo após ele participar de uma reunião com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Na ocasião, eles discutiam uma saída para o impasse envolvendo o pagamento de emendas, que travou a votação do pacote de ajuste fiscal do governo.
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A ideia no governo é que os ministros Rui Costa, da Casa Civil, e Fernando Haddad, da Fazenda, assumam as negociações com os congressistas enquanto Lula estiver fora. Foi Costa, por exemplo, quem deu sequência à conversa na reunião de segunda após o presidente precisar se ausentar. Já Haddad se reuniu na noite do mesmo dia com líderes do Senado na residência oficial de Pacheco para tentar destravar o pacote de ajuste fiscal.
Haddad também assina a portaria editada na terça-feira que libera o pagamento de emendas parlamentares bloqueadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), uma das medidas negociadas com Lira e Pacheco. O texto exige a apresentação de plano de trabalho, com identificação detalhada de ação orçamentária para as emendas Pix e pede que sejam identificados os padrinhos nos restos a pagar do extinto orçamento secreto e nas emendas de comissão.
A avaliação dentro do governo é que Lula tem dado cada vez mais funções a Haddad como uma forma de preparar o ministro da Fazenda para ser seu sucessor. O PT, contudo, não trabalha com um “plano B” caso o atual presidente não concorra à reeleição em 2026.
No mês passado, por exemplo, Haddad foi escalado por Lula para aparecer em rede nacional e explicar o pacote de ajuste fiscal do governo e anunciar o aumento da isenção de Imposto de Renda para quem ganhar até R$ 5 mil. Em geral, a tarefa de explicar temas importantes à população em cadeia de rádio e televisão cabe ao presidente. O pronunciamento teve ares de propaganda eleitoral, com números positivos da economia saltando na tela, imagens de Lula com líderes do G20, cenas de obras e de famílias felizes com panelas cheias.
Ao completar 79 anos em outubro, Lula se tornou o mais longevo político a ocupar a Presidência e teria 81 no caso de ser reempossado. O processo de renovação do partido, que ocorrerá com as discussões da sucessão do PT no primeiro semestre de 2025, não inclui a possibilidade de uma alternativa ao presidente.
Em entrevista ao GLOBO publicada na segunda-feira, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PR), refutou comparações de Lula com o presidente americano Joe Biden, que abriu mão de concorrer após uma série de críticas em razão da idade avançada.
Embora os ministros assumam a articulação política enquanto Lula estiver fora, interlocutores do presidente afirmaram, por outro lado, que as discussões sobre uma reforma ministerial só devem ser retomadas após o retorno do presidente. Como mostrou o GLOBO, ainda não está definida qual solução o presidente dará para a comunicação, na qual o petista já anunciou que fará “correções necessárias”.
GAFE EM EVENTO
Com a ausência de Lula em Brasília, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, assumiu compromissos previstos na terça-feira. Ele retornou às pressas de São Paulo para participar da recepção ao primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, em visita oficial ao país. No encontro, Alckmin acabou cometendo uma gafe e chamou a Eslováquia de Iugoslávia.
Outros compromissos anteriormente previstos para Lula foram adiados. O presidente tinha na agenda a entrega do Selo Nacional de Compromisso com a Alfabetização, com o ministro da Educação, Camilo Santana, na quarta-feira. O evento agora deve ocorrer apenas na semana que vem.
Na quinta-feira, Lula participaria da reunião de fim de ano do o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável — conhecido como “Conselhão”. Ainda não há nova data para a reunião.
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A Constituição define em quais situações o presidente deve transferir o exercício do cargo ao vice. Um dos casos previstos são viagens ao exterior. A legislação, porém, não é clara a respeito de afastamento por saúde, apenas diz que, “no caso de impedimento” do titular, o vice assumirá a função.
Fonte: O Globo