A Praça da Saudade, localizada no coração de Manaus, resgata a memória das vítimas de epidemias do século XIX, refletindo sobre a vida e a morte em um espaço que, apesar das transformações e desafios, continua a ser um ponto de encontro cultural e de refl
No coração de Manaus, entre as ruas e avenidas centrais da cidade, a Praça da Saudade guarda uma história intensa e repleta de simbolismo. Diferente do que muitos acreditam, o espaço não era um cemitério, mas sim um local de reflexão, erguido por um pedido da comunidade que, durante o século XIX, via seus entes queridos caírem nas trágicas epidemias de febre amarela, cólera e varíola. No local, onde o antigo Cemitério São José recebia os mortos dessas doenças, surgiu a praça como uma homenagem ao luto, à saudade e ao equilíbrio entre vida e morte.
Gabriel de Andrade, mestre em Ciência da Comunicação, conta que o Cemitério São José funcionava de forma improvisada, sem muros ou portões, durante um período em que a cidade sofria com uma alarmante falta de estrutura de saúde. Sem condições de dar aos mortos um descanso digno, os corpos eram cobertos com uma quantidade exagerada de terra na tentativa de conter a propagação das doenças. Nesse ambiente de dor e perda, a Praça da Saudade nasceu em frente ao cemitério, como um campo de paz para os familiares enlutados que buscavam um espaço para lidar com o vazio deixado pelos que partiram.
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Cemitério funcionava onde hoje é a sede do Atlético Rio Negro Clube (Foto: Reprodução)
Mas a história da Praça da Saudade é marcada também pelo descaso e transformações que fizeram o local perder muito de seu significado original. Em 1930, o terreno do cemitério foi doado ao clube Atlético Rio Negro, e em 1962, um grande prédio foi erguido no local pelo então governador Gilberto Mestrinho, que muitos dizem ter rivalidades com o clube vizinho Nacional. O escritor amazonense Moacir Andrade, em 1984, se referiu à transformação do Cemitério São José em um clube social esportivo como uma "iconoclastia hedionda", criticando o apagamento brutal da memória de pessoas que ali foram sepultadas.
Fotografia mostra o gradil do Cemitério São José
(Foto: Reprodução/Jornal do Commercio)
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Mesmo com a revitalização de 2008, a Praça da Saudade, hoje palco de eventos culturais e feiras, enfrenta a constante ameaça de depredação e abandono, refletindo uma cidade que, embora rica em histórias e memória, luta para preservar sua própria identidade. E assim, a praça permanece, um espaço que resistiu ao esquecimento e onde ainda se encontram ecos de saudade em meio ao cotidiano apressado de Manaus.
Fonte: G1