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27/07/2021

Egonu e as bandeiras rumo ao topo: 'O ódio de homofóbicos e racistas me dói'

Foto: DIVULGAÇÃO

Aos 22 anos, oposta italiana é encarada por muitos como a melhor jogadora da atualidade. Na lista da "Forbes" como uma das pessoas mais influentes da Europa, vai buscar o ouro em Tóquio

Bastam apenas três passos curtos e um impulso rápido até o salto. Os movimentos de Paola Egonu se repetem à exaustão, com uma ou outra variação, a cada vez que pisa em quadra.

 

Seus voos verticais a transformaram, para muitos, na melhor jogadora de vôlei da atualidade, ainda que tenha apenas 22 anos. Neste ciclo olímpico, conseguiu levar a jovem seleção italiana ao vice-campeonato mundial e ao favoritismo por um pódio em Tóquio. Não é apenas dentro do esporte, porém, que Egonu finca suas marcas.

 

Egonu tem a pele negra como a de seus pais, nigerianos. O pai, caminhoneiro, e a mãe, enfermeira, foram para a Itália em 1992. Lá, criaram uma família ao lado dos três filhos – além de Paola, uma outra menina e um menino. Desde pequena, Egonu se acostumou a encarar olhares por conta de sua cor. Em quadra, quando ainda tinha 16 anos e atuava pelo Treviso, viu a torcida rival imitar o som de macacos a cada vez que tocava na bola.

 

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Naquele dia, ainda tão jovem, abaixou a cabeça e chorou, sem reagir. Aos poucos, ao se firmar como uma das melhores do mundo, fez do combate ao racismo uma de suas bandeiras. A outra foi fincada após estampar os jornais italianos. Em 2018, depois de um jogo pela Supercopa, beijou a polonesa Katarzyna Skorupa, sua namorada à época. O primeiro gesto de carinho público a fez, novamente, alvo de preconceito. Desta vez, por sua sexualidade.

 

O namoro com Katarzyna chegou ao fim no ano passado. Egonu diz não ser lésbica. Assumiu, porém, o combate à homofobia da mesma forma que passou a bater de frente com os ataques racistas que encara até hoje.

 

- Sou diferente porque sou negra e penso. O ódio de homofóbicos e racistas me dói. Porque sou diferente. Pela cor da pele, que é a primeira coisa que você nota. Pela minha maneira de pensar e como lido com certas questões. Sei que há muitas meninas que estão na mesma situação que eu e se sentem sozinhas, não veem essa luz e nunca dão o primeiro passo. Eu me pergunto onde começa este ódio. Nós nos dividimos por raças e não procuramos compreender o outro. Eu sou uma pessoa muito emotiva e isso dói – afirmou, em entrevista no último mês ao jornal “Corriere della Sera”

 

Luto para ajudar como gostaria, mas estou com todos eles espiritualmente. Não entendo por que um ser humano deve criar dor para outro
 

- Não sou (homossexual). Admiti amar uma mulher (e volto a repetir, nunca me arrependi) e tudo para dizerem: “Olha, Egonu é lésbica”. Não, não funciona assim. Eu me apaixonei por uma menina, mas isso não significa que não pudesse me apaixonar por um menino ou outra mulher. Não tenho nada a esconder, mas basicamente é problema meu. O que interessa é se jogo bem voleibol, não com quem durmo.

 

E, em quadra, os números gritam ao seu favor. Egonu fez sua estreia olímpica nos Jogos do Rio, em 2016. À época, aos 17 anos, já era o grande nome de uma seleção promissora. Dois anos depois, levou a Itália ao vice-campeonato mundial, perdendo para a Sérvia na decisão. A oposta ocupa os quatro primeiros lugares na lista de recordes de pontuação no campeonato nacional. Neste ano, marcou incríveis 47 pontos em uma vitória do Conegliano sobre o Novara. Na Champions League, foi eleita a MVP ao marcar 41 pontos e derrubar o Vakifbank, de Gabi, na decisão.

 

Paola Egonu ao lado do pai, na Nigéria — Foto: Reprodução/Instagram

 

As marcas, de tão impressionantes, a levaram à lista da revista “Forbes” de pessoas com menos de 30 anos mais influentes da Europa. Egonu chegou, inclusive, a ser considerada para o posto de porta-bandeira da Itália nas Olimpíadas de Tóquio – o ciclista Elia Viviani e a atiradora Jessica Rossi foram os escolhidos.

 

Egonu liderou uma revolução do vôlei italiano nos últimos anos. Começou a ensaiar seus primeiros passos dentro de quadra na equipe de Galliera, cidade próxima a Citadella, onde nasceu. Profissionalmente, começou no Club Italia, equipe formada apenas por jovens promessas do país. Brilhou no Novara e foi contratada pelo Conegliano, onde vai permanecer por mais uma temporada. Dona de um salário de cerca de 500 mil euros, negou uma proposta do Fenerbahçe, da Turquia, para ganhar um milhão de euros.

 

Paola Egonu em ação pela Itália — Foto: Divulgação/FIVB

Fotos: Divulgação 

 

Já no fim do ciclo olímpico para os Jogos Rio, antigas referências, como Francesca Piccinini, deram lugar a promessas como Egonu, acelerando o processo de renovação. Deu certo. Hoje, a Itália chega a Tóquio como uma das favoritas ao pódio, ao lado de China, Estados Unidos, Sérvia e Brasil.

 

- Não estávamos prontas no Rio, não tenho uma boa recordação. Ainda estávamos em meio à renovação, em um verão não podemos criar a química certa. Em Tóquio, gostaria de viver uma experiência única e bela, ter um único objetivo todos juntos. Não tenho expectativas, quero viver tudo 100% – disse, em entrevista à “EuroSport”.

 

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Em Tóquio, porém, a Itália terá de provar que não conta apenas com Egonu. A seleção está no grupo B, ao lado de Argentina, China, Estados Unidos, Turquia e Rússia, que, punida pelo COI, usará a sigla “ROC”. Começou a campanha derrotando justamente a ROC por 3 a 0, e seguiu vencendo a Turquia por 3 a 1. A próxima adversária é a Argentina.

 

Fonte: GE

 

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