Elza Soares morreu nesta quinta-feira (20), aos 91 anos, vítima de causas naturais , o que deixou milhares de fãs órfãos do seu talento ímpar. A notícia da morte da artista caiu como uma bomba no mundo do entretenimento e, principalmente, entre os ativistas da comunidade LGBTQIA+ que sempre receberam o apoio irrestrito da cantora.
Nascida na favela da Moça Bonita, atualmente conhecida como Vila Vintém, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, a cantora teve uma vida difícil e foi obrigada a se casar com apenas 13 anos. Em uma entrevista ao extinto "Programa do Porchat", na RecordTV, ela contou um pouco dessa história e reafirmou sua militância em prol da comunidade LGBTQIA+.
"Eu brigo muito pelas mulheres negras e pelos gays. Ninguém tem culpa de ser o que é e por isso eu brigo por eles", disse na entrevista veiculada em outubro de 2018.
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Já ao programa "MPB com Tudo Dentro", ela disse que que tinha uma missão de dar apoio às causa menos favorecidas, já que viu a pobreza e o preconceito de perto desde a infância. Na entrevista, ela afirmou que se sente responsável por essas vidas LGBTs e queria sempre aproximá-los com sua música.
“Eu me vejo com uma responsabilidade muito grande e quando a gente se engaja numa missão tem de dar conta do recado! Falo pelas mulheres, pelos negros e pelos gays. Então, a minha missão é muito comprida”, comentou. “Acho que é isso que traz a garotada, a juventude para perto da Elza. Uma Elza sem pudor, que está aberta para os grandes problemas”, completou.
Mesmo com mais de 90 anos de idade, Elza não parava e lançou seu último álbum, "Planeta Fome", há apenas dois anos e não tinha planos de parar de trabalhar. Prova disso era a agenda de shows repleta, com apresentações marcadas de 3 de fevereiro (Casa Natura Musical, em São Paulo) a 28 de agosto (Festival Sarará, em Belo Horizonte).
O último trabalho manteve o tom político e muita militância como outros álbuns e músicas da cantora. Na faixa que fecha o disco, “Não Recomendado”, Elza expõe o horror da perseguição à comunidade LGBT e opina sobre os episódios de censura na Bienal do Livro no Rio, com o recolhimento de exemplares a pedido do prefeito Marcelo Crivella, e o cancelamento de produções cinematográficas aprovadas pela Ancine a mando do presidente Jair Bolsonaro.
“É um absurdo tão grande que eu não sei nem o que falar. Homofobia é crime, nós já conquistamos essa vitória. Deixem a liberdade do povo em paz”, discursava.
Elza Soares também gravou, em parceria com Celso Sim, a canção "Benedita", que está no álbum "A Mulher do Fim do Mundo" (2015), que expõe a marginalização dos corpos transgêneros e fala sobre a violência e o preconceito sofridos pelas pessoas trans e travestis no Brasil. A realidade do país que figura como o que mais mata pessoas LGBT no mundo, está bem explícita nas estrofes da canção.
"Ele que surge naquela esquina. É bem mais que uma menina. Benedita é sua alcunha. E da muda não tem testemunha. Ela leva o cartucho na teta. Ela abre a navalha na boca. Ela tem uma dupla caceta. A traveca é tera chefona", diz parte da música.
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Mesmo nunca tendo se assumido como uma pessoa queer, a artista se tornou um dos maiores ícones gays da nação e prova que para lutar ao lado da comunidade não precisa necessariamente ser uma pessoa LGBTQIA+.
Fonte: Ig