Gesto entre líderes compatriotas ensaia reconciliação após o presidente argentino ter chamado o Pontífice de representante do maligno e imbecil durante campanha
Um sorriso e um abraço marcaram o primeiro encontro entre o presidente Javier Milei e o Papa Francisco, neste domingo, no Vaticano, pouco antes da canonização da Beata Maria Antonia de Paz y Figueroa, a primeira santa argentina. O gesto ensaia uma possível reconciliação entre os líderes — depois de Milei tê-lo insultado em várias ocasiões durante a campanha — e soma-se a outros acenos de paz. Por outro lado, também expõe uma agenda externa do ultraliberal que rompe com a tradição argentina, forjada nos seus interesses pessoais, políticos e religiosos.
O cumprimento entre os líderes ocorreu pouco antes do início da celebração. Além de Milei, sua delegação também foi recebida por Francisco, que estava em uma cadeira de rodas: a secretária-geral da Presidência e irmã de Milei, Karina, a chanceler Diana Mondino, e os ministros do Interior e Capital Humano, Guillermo Franco e Sandra Pettovello, respectivamente, e o governador de Buenos Aires, Jorge Macri.
Um abraço também foi reservado a Franco, que foi aluno de Francisco quando este ainda não era sacerdote, mas sim um "professor" jesuíta que lecionava literatura e psicologia no colégio d'O Salvador, em Buenos Aires.
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Foto: Reprodução
O presidente argentino, um economista de extrema direita que no passado chamou o Papa de "imbecil", "comunista que acoberta ditadores assassinos" e "representante do maligno", levantou-se quando Francisco entrou na basílica no início da cerimônia e, na missa, ajoelhou-se durante a consagração.
O encontro também foi registrado pelo líder argentino nas redes sociais. "Muito obrigado", escreveu Milei em uma legenda no Instagram, cuja foto mostra o momento em que cumprimenta o Papa. A publicação também foi compartilhada no X (antigo Twitter).
O ápice da celebração ocorreu o às 9h45 (6h45 no horário de Brasília), quando Francisco leu uma frase em latim e alçou a Beata Maria Antonia de Paz y Figueroa, conhecida como Mama Antula (1730-1799), à santa.
A recepção calorosa entre Francisco e Milei foi uma das imagens do dia e o ponto culminante de uma semana agitada para o presidente, que viajou a Jerusalém, rezou emocionalmente no Muro das Lamentações, teve sua primeira grande crise com o fracasso de seu pacote de mega-reforma, lançou inúmeros insultos a seus detratores e ainda teve tempo de fazer turismo em Roma antes de ver o papa.
A reunião de domingo foi um primeiro contato antes de uma audiência na manhã de segunda-feira no Vaticano, onde Francisco e Javier Milei poderão conversar longamente. No mesmo dia, o presidente argentino se reunirá com seu colega italiano Sergio Mattarella e com a primeira-ministra de extrema-direita Giorgia Meloni.
O presidente preparou o terreno, dizendo à Rádio Mitre, da Argentina no sábado que o Papa "é o argentino mais importante da história", acrescentando que estava confiante que teria "um diálogo muito frutífero".
A audiência de segunda ocorrerá em uma atmosfera carregada pelos ataques anteriores de Milei ao papa. O líder chegou a acusá-lo de "interferência política" em sua campanha em setembro passado.
Jorge Mario Bergoglio e o novo presidente, no entanto, fizeram uma demonstração de paz nos últimos meses, o primeiro com um telefonema de felicitações após a vitória eleitoral em novembro, e o segundo com uma carta de convite para visitar a Argentina, na qual afirmou que a vinda de Francisco "trará os frutos da pacificação e da fraternidade para todos os argentinos, ansiosos para superar divisões e confrontos".
Os dois homens partem de posições muito diferentes sobre como lidar com a pobreza, que aflige 40% da população da Argentina, onde a inflação fechou o ano passado em mais de 200%.
Durante todo o seu papado, Francisco se insurgiu contra os excessos e as desigualdades geradas pelo liberalismo, enquanto Milei, um economista ultraliberal de direita que assumiu o cargo em 10 de dezembro e governa em minoria, está comprometido com uma política de privatização e desregulamentação.
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Uma linha que ele prometeu manter, apesar do fracasso na Câmara dos Deputados, na terça-feira, de seu mega pacote de medidas econômicas e políticas conhecido como Lei Ônibus.
Fonte: O Globo
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— Javier Milei (@JMilei) February 11, 2024