18 de Maio de 2024 - Ano 10
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15/03/2024

Excesso de estoques e preferência por celulose virgem geram crise na reciclagem de papéis

Foto: Reprodução

Associação do setor relata queda histórica de preços, critica falso discurso de economia verde e cobra decreto governamental de incentivo à logística reversa

Representante da terceira geração à frente da CRB (Comércio de Resíduos Bandeirantes), empresa criada há 50 anos pelo seu avô em Belo Horizonte (MG), João Paulo Sanfins vivencia no cotidiano de um negócio familiar os efeitos de um cenário de forte instabilidade que afeta o segmento de reciclagem de papéis no Brasil. Mas é como vice-presidente da Associação Nacional dos Aparistas de Papel (Anap), composta por 55 associadas, que ele tem uma visão macro da crise histórica enfrentada pelo setor, agravada no pós-pandemia da Covid-19.

 

Sanfins aponta o excesso de estoques nacional e global, além da preferência das indústrias de embalagens de papel pela celulose virgem, como as principais causas desse cenário. Alerta, também, que somadas à questão econômica, as dimensões social e ambiental estão em jogo no país.

 

“Essa situação não é sustentável no longo prazo”, opina. À frente de uma empresa geradora de cerca de 120 empregos diretos, com 2 mil fornecedores da Região Metropolitana de Belo Horizonte, ele afirma que não costumava conversar com os concorrentes.

  

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“Mas a crise está tão grande que temos buscado dialogar e o que sabemos é que todo mundo está perdendo”, relata.O setor que gera cerca de 40 mil empregos diretos coletou 4,9 milhões de toneladas em 2022, mas deverá fechar o balanço de 2023 com queda expressiva, segundo previsto pela Anap. Embora os números totais do ano passado ainda não estejam consolidados, estimativas preliminares dão conta de que 67 empresas do país coletaram 1,6 milhão de toneladas, o que representa 33% do volume do ano anterior. Para o vice-presidente da instituição, está difícil equilibrar os pilares ambiental, social e econômico nesse ramo de atividade.

 

Os preços desse mercado ilustram o cenário de crise. De R$ 2,00, por quilo, alcançados na pandemia, o preço do papelão despencou para R$ 0,50, no ano passado, sacrificando catadores e recicladores, segundo Sanfins. O mesmo ocorreu com o papel branco. Para driblar os altos custos de energia, combustíveis, equipamentos, entre outros insumos, “todo mundo teve prejuízo e precisou liquidar patrimônio para sobreviver”, observa. “O setor andou para trás”, acrescenta.

 

Ele ressalta que, como envolvem commodities, os preços desse mercado de reciclagem são ditados pela lei da oferta e demanda internacional, fortemente alterada pelos efeitos da crise sanitária, quando houve uma corrida global das empresas para a formação de estoques de materiais, principalmente para a fabricação de embalagens, muito demandadas pelo avanço das compras online. Passado o período mais crítico, os altos estoques não utilizados pelas indústrias mundo afora jogaram os preços para baixo.

 

 Foto: Reprodução

 

Outra característica nacional é analisada nesse contexto pelo vice-presidente da Anap. Ele ressalta que o mercado de produção de caixas e embalagens, que até duas décadas envolvia muito mais empresas, tornou-se mais concentrado no Brasil. Na atualidade, grandes indústrias estão na linha de frente desse tipo de produção “e suas decisões têm impacto no mercado”, opina.

 

“A gente faz um apelo ao governo para que os recicladores tenham tratamento diferenciado e que a reciclagem seja mais valorizada”, alerta Sanfins. E reitera que o material reciclável, já tributado originalmente, ao ser reciclado sofre uma nova tributação. Esse é um debate que se arrasta sem solução há anos e que ainda tem muito a avançar no âmbito da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que, com mais de uma década de existência ainda enfrenta percalços na sua implementação.

 

Da mesma forma, o setor acompanha com expectativa a tramitação do Projeto de Lei 4.035, de 2021, de autoria do deputado federal Vinicius Carvalho (Republicanos-SP), que propõe a isenção de PIS (Programa de Integração Social) e Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) nas vendas de materiais recicláveis às grandes indústrias. Organizações como o Instituto Nacional da Reciclagem (Inesfa) também defendem essa solução.

 

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Enquanto essas e outras soluções não se confirmam, o vice-presidente da Anap apela aos consumidores, para que sejam mais exigentes com as empresas das quais compram seus produtos. Para ele, é preciso cobrar que a produção industrial faça mais uso de materiais recicláveis. “Todo mundo gosta de falar de sustentabilidade, mas como se faz para que isso não fique apenas no discurso?”, questiona.

 

Fonte: O Eco

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