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04/05/2020

Feminista e libertária, Cora Coralina faz 130 anos: conheça casa-museu, em Goiás

Foto: Reprodução

Cora Coralina faz 130 anos: conheça casa-museu, em Goiás

Quando Marlene terminou sua primeira aula como professora primária em uma escola da Cidade de Goiás, passou na casa da vizinha para contar a experiência. “A educação é transformadora e você deve continuar nesse trabalho”, responderia a amiga Aninha.

 

Em 1983, Marlene Gomes Vellasco estreava no magistério sob a aprovação de Anna Lins dos Guimarães Peixoto, mais conhecida como Cora Coralina.


Mas 2019 é dela. É o Ano Cora Coralina, que começou com atividades no último dia 10 de agosto, na Cidade de Goiás, para celebrar seus 130 anos de nascimento.

 

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A poetisa tardia, que só publicaria seu primeiro livro aos 76 anos, foi a escritora dos outros. Seus poemas eram dedicados a personagens reais nem sempre lembrados, como o presidiário, o menor abandonado e o delinquente. “Este livro pertence mais aos leitores do que a quem o escreveu”, avisaria Cora no texto que abre “Poemas dos Becos de Goiás” (Global Editora).

 

Feminista em uma época em que os direitos das mulheres eram assunto para principiantes e muitas delas escreviam sob pseudônimo masculino, Cora parecia sempre se adiantar ao seu tempo.

 

Em 1907, fundou o jornal A Rosa, publicação em papel rosado, comandado apenas por mulheres. Já em São Paulo, não só costurou quepes para os soldados da Revolução Constitucionalista, como também lutou pela criação de um partido feminino e escreveu o Manifesto da Agremiação. Inspirada pela campanha “Doe Ouro para o Bem de São Paulo”, que pretendia arrecadar fundos para aquele movimento de 1932, a generosa Cora chegou a doar sua aliança de casamento.

 

Quase 40 anos depois, ocuparia a cadeira 5 da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, que a descreve como a mulher “de figura miúda e cabelos grisalhos” mas na vida era “forte, determinada e carismática”.

 

Mulher da vida


Em um de seus poemas mais intensos, Cora homenageia as prostitutas em versos que as dignificam em trechos que as tratam como sobreviventes, marcadas, discriminadas e poderosas.

 

 

Sobrevivem como a erva cativa
dos caminhos,
pisadas, maltratadas e renascidas”
- 'Mulher da vida', em “Poemas dos Becos de Goiás e estórias mais”


Até mesmo as adversidades eram inspiração para sua obra, como o fêmur fraturado em uma queda na escada, em 1973. Daí surge “Ode às muletas”, um dinâmico poema em plano sequência em que Cora vai descrevendo a correria até o hospital de Goiânia.

 

Sobre as muletas, escreveria “Apoio singelo e poderoso / de quem perdeu a integridade / de uma ossatura intacta / invicta em anos de andanças domésticas”.

 

Mas o personagem mais presente em sua obra é a sua própria terra natal: a Cidade de Goiás.

 

A Villa Boa de Goyaz, um dos primeiros nomes desse município a 140 km de Goiânia, está praticamente presente em todas as suas publicações. A cidade é personificada em sua poesia profunda que percorre suas lembranças, desde a infância, através dos cerca de 16 becos, espécie de artérias desse labirinto de ruas estreitas de pedras trazidas do Morro do Cantagalo.

 

 

Em suas obras, os becos são os próprios personagens. Tem o da escola, do seminário, da cachoeira e o da Vila Rica. Mas tem também os de “gentinha”, os “mal assombrados”, os “românticos” e os “pecaminosos”.

 

 

Sua foto estampada em um tecido transparente, logo na entrada do Museu Casa de Cora Coralina, na Cidade de Goiás, é um convite para entrar. Assim como na época em que a poetisa vivia ali, com a porta da casa sempre aberta para a população pegar água na bica que até hoje jorra água, no interior do museu.

 

– “A Cora chamou ele”, brinca Marlene Gomes Vellasco, diretora do Museu Casa de Cora Coralina, quando digo que troquei o turismo das cachoeiras de Pirenópolis para visitar a terra de Cora Coralina.

 

E toda vez que volto a escrever sobre a poetisa ou retorno à velha Casa da Ponte, onde a poetisa nasceu e morreu, eu tenho a sensação de que Cora ainda está por chegar.


Mas ela nunca chega, porque sequer partiu da velha Cidade de Goiás.

 

Museu Casa de Cora Coralina

 


Embora seja Patrimônio Histórico e Cultural Mundial pela UNESCO e um dos mais belos endereços históricos de Goiás, o destino é a própria Cora, como se tudo girasse em torno dela.

 

“Ela é a figura mais ilustre da cidade e ainda traz o turista para cá. Cora representa o turismo e a história da cidade”, conta Marlene.

 

É na Casa Velha da Ponte que funciona o emocionante Museu Casa de Cora Coralina, inaugurado no mesmo dia em que se celebrava o centenário de nascimento de Cora, em 20 de agosto de 1989.

 

VEJA VÍDEO

 

 

O projeto multimídia do local, que recebe 30 mil turistas por ano, reconta a história da poetisa, ao longo de 12 ambientes (de um total de 16), a partir de projeções sobre móveis originais, além de entrevistas gravadas, fotografias e objetos pessoais, como o quarto que ainda guarda suas roupas e os chinelinhos postos ao lado da cama.

 

Em uma das salas fica a carta original que o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade escreveu para Cora, em 1979: “Ah, você me dá saudades de Minas, tão irmã de Goiás. Dá alegria na gente saber que existe bem no coração do Brasil um ser chamado Cora Coralina”.

 

O museu guarda também a declaração apaixonada de outro mestre da literatura brasileira, Jorge Amado.


SOBRE CORA CORALINA


Anna Lins dos Guimarães Peixoto, seu nome de batismo, nasceu em um antigo casarão de 1770, às margens do rio Vermelho, uma das inspirações para sua poesia.

 

 

De vida simples e apenas com curso primário incompleto, Cora teve carreira literária intensa. Publicou seu primeiro livro quando já tinha 76 anos, em 1965, e só aprenderia a datilografar, aos 70.

 

Sua produção de textos é muito vasta e, segundo a diretora do Museu Casa de Cora Coralina, apenas 40% de sua obra está publicada. Parte dos inéditos estão no próprio museu e o restante com a filha Vicência Brêtas Tahan que, atualmente, mora em São Paulo.

 

De 1911 a 1956, esteve fora da cidade para acompanhar o marido Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas, no interior de São Paulo, e chegou a publicar poemas em jornais paulistas e cariocas.

 

Com a morte do marido, em 1934, mudou-se para a capital de São Paulo, onde conheceu José Olympio e começou a divulgar livros de casa em casa.

 

Era a literatura batendo à porta dos paulistanos, literalmente.

 

A inquieta Cora chegaria a morar também em Penápolis e Andradina, onde escreveu para um jornal sob o pseudônimo de Cora Bretas e se candidatou até à vereadora.

 

Fotos: reprodução

 

Andei por mundos ignotos e cavalguei o corcel branco do sonho. Pobre, vestida de cabelos brancos, voltei à velha CASA DA PONTE, barco centenário encalhado no Rio Vermelho…


- Estórias da Casa Velha da Ponte – Global Editora


De volta à terra natal, em 1956, começou a comercializar doces cristalizados para sobreviver, como os de cajuzinho do cerrado que brotavam no quintal dos fundos da casa de Cora que, atualmente, também pode ser visitado no Museu Casa de Cora Coralina.

 

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“Seus doces eram um mosaico de cores em caixinhas embrulhadas em papel de presente e lacinho”, lembra a amiga Marlene Gomes Vellasco.


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