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23/09/2019

Garçom 'das sete vidas' sobreviveu a queda do vão central da Ponte, tiro de fuzil e câncer. VEJA

Foto: Gabriel de Paiva

Francisco, com a ponte ao fundo: “Deus deve gostar de mim”

"Nem sei como estou vivo. Deus deve gostar muito de mim". Saindo da boca do garçom Francisco Ximenes Albuquerque, de 66 anos, a frase faz todo sentido.

 

Afinal, o cearense que passou fome na infância teve cara a cara com a morte pelo menos duas vezes e escapou milagrosamente em ambas ocasiões.

 

A primeira foi em julho de 1998, quando era passageiro de uma van que se envolveu num acidente na Ponte Rio-Niterói. A van lotada estava em alta velocidade e bateu na traseira de um caminhão. Ximenes foi arremessado do vão central da ponte, numa altura de 40 metros, e resgatado com vida na Ilha do Mocanguê.

 

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Em junho desse ano, ele se viu no meio de um fogo cruzado, no Complexo da Maré, onde mora, foi atingido por um tiro de fuzil e escapou de novo. Já voltou até a trabalhar, num restaurante do Leme, na Zona Sul do Rio. Nas duas situações em que ele escapou houve vitimas fatais.

 

Como não bastasse, entre um incidente e outro, Francisco Ximenes ainda superou um câncer no reto, em 2002. Segundo ele, os médicos disseram que está curado. O garçom só tem uma explicação para tamanha blindagem:

 

— Só acho que não chegou a minha hora. Minha fé também ajudou. Oro muito e vou à igreja. Deus deve gostar de mim — acredita o homem que cresceu na fé católica — seu nome é uma homenagem a São Francisco das Chagas —, mas que em 1992, depois da primeira separação, se converteu à igreja evangélica.

 

Apesar de ser fruto de uma promessa, para ter um filho homem, feita por sua mãe a um santo considerado milagreiro no Ceará, Ximenes não tem apego por imagens sagradas e muito menos a amuletos ou patuás. Também não se acha sortudo, apesar de já ter ganhado numa loteria do estado os R$ 50 mil com os quais comprou em 2010 a casa em que vive na Baixa do Sapateiro, no Complexo da Maré.

 

Porém, sua única queixa é o azar no amor. Está em processo de separação da terceira companheira. As duas anteriores lhe deram quatro filhos — um casal, cada— dos quais rendeu os quatro netos. Mas nenhuma união deu certo.

 

 

A memória do primeiro incidente permanece viva na memória do garçom. Era por volta das 3 da madrugada do dia 30 de julho de 1998, quando ele voltava do trabalho no restaurante Taberna Atlântica, no Leme, na Zona Sul do Rio, onde está há 27 anos, para sua casa em Itaboraí, onde morava na ocasião.

 

Ele havia embarcado na Praça Quinze numa van que levava dez pessoas, incluindo o motorista. Como estava muito cansado e cochilava mal sentiu o baque, quando a Topic, que estava em alta velocidade se chocou contra a traseira de um caminhão que fazia manutenção na ponte.

 

— Senti a pancada, o carro puxou para a direita, depois para a esquerda, bateu na mureta e arremessou alguns passageiros na água. A van estava correndo muito, cerca de 120 a 130 km/h. O impacto foi tão grande que fomos arremessados para cima antes de cair na água. Na hora, minha reação foi colocar a mão na cabeça e dizer; “Meu Deus vou morrer agora” — recordou.

 

Mas, não foi dessa vez. Não para Ximenes. Dos três passageiros arremessados na Baía de Guanabara de uma altura de cerca de 40 metros, correspondente a de um prédio de 11 andares, dois sobreviveram e um deles era o garçom. Ele contou que como estava acostumado a dar umas braçadas no mar de Copacabana, onde sempre trabalhou, escapou da morte nadando e boiando algumas vezes, mesmo vestido de calça jeans, camisa e sapato. Ele acha que o fato de ter caído na água de pé ajudou.

 

Francisco Ximenes e o outro sobrevivente, foram resgatados por uma embarcação da Marinha na Ilha do Mocanguê, em Niterói, cerca de 3 horas depois. Duas pessoas morreram. O garçom sofreu uma fratura no braço esquerdo e estourou o baço, ficou internado 18 dias no Hospital Antônio Pedro, em Niterói, mas se recuperou.

 

O outro grande susto foi no dia 12 de junho desde ano, na Maré. Estava tendo uma operação policial na comunidade, mas ele aproveitara um momento de calmaria para ir a um mercadinho próximo comprar ingredientes para preparar um almoço especial do Dia dos Namorados para a companheira, da qual está se separando.

 

Na volta foi surpreendido por uma troca de tiros, encostou numa parede achando que estava protegido, mas estava enganado. Foi atingido por uma bala de fuzil no braço direito, na altura do ombro. Mas uma vez a sorte o ajudou. O tiroteio foi por volta das 14h e às 18h ele já tinha deixado o hospital. O projetil que resvalou de um lado a outro não atingiu nenhum osso. Porém, comprometeu os nervos e parte do movimento das mãos que ele busca recuperar com ajuda de duas sessões de fisioterapia por semana.

 

 

— Quando levei o tiro e vi que não atingiu o osso agradeci (a Deus). Mas todo mundo que viu pensou: “meu vizinho morreu”— relatou.

 

Socorrido, o garçom foi levado primeiro para a UPA da Maré e depois transferido para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha. Uma mulher morreu durante o tiroteio. Francisco Ximenes foi um dos cinco feridos. Ele contou que depois do tiro ficou mais de dois meses sem trabalhar, só tendo retornado no final de agosto.

 

O garçom, que se fosse um gato já teria desperdiçado pelo menos três vidas — há um dito popular que esses felinos têm sete vidas — guarda por todo o corpo as marcas de cada um desses dramas que enfrentou e os quais milagrosamente driblou, em forma de de cicatrizes. São pelo menos oito, na barriga, virilha, braços e punhos. Com tanta história de superação, Francisco não pode evitar a chacota dos amigos e colegas de trabalho.

 

— Eles brincam comigo perguntando se tenho o corpo blindado. Tem gente que diz que sou surdo, porque a morte me chama e eu não ouço —conta.

 

Marcas ficaram pelo corpo

Marcas ficaram pelo corpo (Foto: Gabriel de Paiva)

 

Cearense de Groaíras, Francisco Ximenes, veio para o Rio aos 14 anos, depois da morte do pai, obrigando a família a vender o pedaço de terra onde cultivava, apesar da dureza da seca. A família que era grande — eram sete filhas e um filho — enfrentou dificuldades.

 

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O menino passou fome, mas deu a volta por cima. Antes da Taberna Atlântica, trabalhou no Restaurante La Fiorentina, também no Leme, onde serviu astros da música, da TV e do Cinema, como John Travolta, na década de 1970, quando o artista americano vivia seu auge após estrelar o filme “Os embalos de sábado à noite”.

 

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