16 de Maio de 2024 - Ano 10
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03/02/2022

Imunidade coletiva só com mais de 90% de vacinados, indicam cientistas

Foto: Reprodução

No início da pandemia de Covid-19, muito se falava sobre a imunidade coletiva, conhecida popularmente como “de rebanho”. A ideia do conceito é que uma porcentagem pré-determinada de indivíduos protegidos contra a doença funcionaria como uma espécie de barreira natural para que o coronavírus não se alastrasse. Na primeira onda da Covid-19, se estimava que 70% da população imunizada seria suficiente para evitar que o Sars-CoV-2 circulasse e continuasse infectando pessoas vulneráveis que não podem ser vacinadas — como acontece em doenças como o sarampo, por exemplo.

 

Porém, com o evoluir da pandemia e o surgimento de novas variantes mais transmissíveis, como é o caso da Ômicron, o cenário mudou. A infectologista Raquel Stucchi, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), estima que a imunidade coletiva só será atingida com mais de 90% da população com o esquema vacinal completo. Ela acentua ainda a importância do uso de imunizantes que tenham uma maior eficácia e uma proteção mais duradoura, e a expansão das faixas etárias vacinadas.

 

“A vacinação de crianças é fundamental pra alcançar a imunidade coletiva. Precisamos, para controlar a pandemia, de 90% da população total vacinada. Isso só se alcança quando se incluem as crianças também”, afirma a médica.

 

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Ela indica que o objetivo não pode ser alcançado através do contágio pela doença, “porque a proteção conferida pela Covid-19 dura pouco tempo e depende da variante”. Stucchi evidencia que, apesar deste tipo de imunidade ter sido muito alardeado nos primeiros momentos da pandemia, a estratégia não funcionou: o colapso completo do sistema de saúde de Manaus com a cepa Gama, seguido de outros picos de infecção, é um bom exemplo.

 

Segundo a especialista, o papel da imunidade coletiva é evitar a transmissão sustentada do vírus em todos os continentes, retirando a Covid-19 da definição de pandemia. “Ela pode ficar endêmica com surtos, como acontece com a gripe”, diz.

 

O médico infectologista e pesquisador da Fiocruz, Júlio Croda, também acredita que o objetivo só pode ser atingido com a porcentagem. Segundo ele, o patamar subiu conforme as variantes foram se tornando mais transmissíveis.

 

“Antes, a gente falava de 70%. Com a Delta, passamos a falar em 80%. Já com a Ômicron, só acima de 90%. Então, se torna cada vez mais difícil a gente atingir a imunidade de rebanho”, explica o cientista.

 

Uso de máscaras e doses de reforço

 

A infectologista Raquel Stucchi explica que, em um cenário ideal com imunidade coletiva e um percentual grande de vacinados, o uso de máscara pode ser recomendado só para pessoas com os sintomas respiratórios, como já acontece nos países asiáticos. Entretanto, isso não significa que os equipamentos não sejam indicados para quem quer se prevenir de doenças virais.

 

Sobre a possibilidade de doses de reforço anuais, a especialista da Unicamp considera um recurso fundamental pelo menos para grupos de alto risco, como idosos e imunossuprimidos. Para ela, a questão vai depender das vacinas que temos disponíveis.

“Ainda não sabemos se precisaremos para toda a população. Mas, se tivermos vacinas melhores, possivelmente não vamos precisar de tanta dose de reforço. A tendência é que o coronavírus se torne sim um vírus sazonal e que, assim como a influenza, a gente tenha que fazer vacinas anuais”, explica.

 

Questão entre cientistas

 

A possibilidade de existir uma imunidade coletiva não é consenso entre os especialistas. O médico Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), acredita que o objetivo é pouco provável ou até mesmo impossível por diversas características do vírus e da doença.

 

Para o especialista, entre principais os motivos está o fato de o coronavírus ser zoonótico, ou seja, não afeta apenas humanos. Isso está relacionado com a geração de novas variantes da Covid-19, “o que tende a ser constante”, segundo o especialista. Outro ponto defendido por Kfouri é que a imunidade não demonstra ser tão duradoura.

 

“Não é que nem catapora, não é que nem caxumba, que você só tem uma vez na vida. Você pode ter várias vezes a doença mesmo com vacinas porque já tem um escape vacinal muito descrito. Sabemos também que as variantes surgem e fogem do sistema imune. Quer dizer quem teve a doença pode ter de novo. Então não existe esse raciocínio de imunidade coletiva”, explica o diretor da SBIm.

 

O médico reforça que o fato de a imunidade coletiva não ser possível não indica que as vacinas são desnecessárias. Para Kfouri, os imunizantes são ferramentas fundamentais para que a doença mate menos e esteja menos relacionada a casos graves. “As vacinas vão prevenir a Covid-19 em um monte de gente, mais ou menos como o que acontece com a gripe”, compara.

 

Futuro da pandemia

 

O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações acredita que o processo natural do coronavírus é deixar de causar uma pandemia global e se tornar endêmico, tendo surtos sazonais. O médico baseia o seu argumento com as evidências da adaptação climática do vírus para épocas de tempo seco e frio.

 

“Toda pandemia acaba com o vírus se adaptando. Ele vai ganhando capacidade de transmissão, fazendo com que as pessoas tenham dificuldade de reconhecer quando estão doentes. Assim, ele continua circulando e transmitindo com formas mais leves e vai ganhando, com o passar do tempo, também uma sazonalidade”, explica Kfouri.

 

Vacinas para formas mais leves

 

O diretor destaca ainda a importância de vacinas que também busquem evitar a transmissão da Covid-19. Segundo ele, as fórmulas atuais funcionam muito bem para casos graves, mas são muito desatualizadas para formas leves. Essa capacidade seria importante para prevenir a sobrecarga dos sistemas de saúde gerada por cepas mais transmissíveis.

 

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“A Ômicron é um exemplo claro disso. Ela não poupa indivíduo vacinado, infecta a todos estando ou não imunizados. As vacinas continuam sendo muito boas pra prevenção de quadros graves, mas também interessa ter versões mais atuais, fórmulas que protejam das formas mais leves”, ressalta. 

 

Fonte: Metrópoles

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