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23/03/2020

Letícia Lima quer quebrar padrão de beleza: 'Mas já me vi passando cremes na bunda para gravar'. VEJA FOTOS

Foto: Reprodução

Letícia Lima

Foi bonito, foi, foi intenso, foi. Assim, nesse clima, Letícia Lima mergulhou de cabeça na inconstante Estela de “Amor de mãe”, mudando, inclusive, o tom do cabelo para louro. Mas, como todo carnaval tem seu fim, a atriz está em compasso de despedida da piloto, já tendo gravado a cena da morte da personagem, a mando de Álvaro (Irandhir Santos), e o corpo aparecerá numa praia.

 

Porém, a parada obrigatória nas gravações da trama e o cancelamento da exibição, devido à pandemia do coronavírus, fará com que a sequência fatal, que iria ao ar no dia 31, seja vista na volta da novela das nove. Quando a obra de Manuela Dias retornar, ainda sem data determinada, Letícia ainda aparecerá com os fios dourados, mas, na vida real, já estará com a cor natural do cabelo, como neste ensaio, em que ela usa uma lace.

 

— Decidi que voltaria a ser morena assim que as gravações terminassem. O visual de Estela marcou muito. Como o corte está curto, nem tenho muitas maneiras de variar o penteado. Então, se eu quisesse manter o louro, ficaria com a cara da personagem o tempo todo. Sem falar que dá muito trabalho para cuidar por conta da descoloração. Por mais que eu trate, meu cabelo escuro é mais viçoso. Então, juntaram duas coisas: a necessidade de mudar de fase e a de descomplicar a vida — explica.

 

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O louro, entretanto, não foi o mais difícil de manter na trama. Complicado mesmo foi sentir os altos e baixos de Estela, uma mulher independente, que se vê presa em relações tóxicas.

 

 

— Ela tem baixa autoestima, quer se mostrar uma mulher segura, bem-sucedida, bonita, elegante, cheia de tiradas, mas, no fundo, é insegura demais, deprimida e não aceita quando um homem não a quer. Apaixona-se pelos casados para cobrir um buraco emocional do qual ela não dá conta sozinha. Racionalmente, não acha legal viver assim. Como eu já chorei em casa por conta das situações em que ela se meteu... — conta Letícia, que completa: — Desde o começo, as ações de Estela davam indícios de que ela não ia acabar bem, porque envolvem falta de sororidade, machismo, feminicídio... São situações atuais que mexem com a gente. Às vezes, só há julgamento: “Gente, é só essa mulher parar com isso, sair desse tipo de vida”. Mas é sistêmico, um vício, é doentio... A gente tem que olhar melhor mesmo para todas as questões que envolvem as mulheres, as suas fragilidades e as suas dependências. Muitas vezes, somos ensinadas a nos colocar numa relação de dependência do outro.

 

 

Diferentemente da piloto, Letícia, que foi casada por oito anos com o diretor Ian SBF, um dos criadores da produtora Porta dos Fundos, e por cinco com a cantora Ana Carolina, afirma que nunca viveu nada parecido com o que acontece com a personagem.

 

— Nem perto disso. Para começar, tive poucas relações, porque passei muito tempo da minha vida casada. Então, nas poucas que tive, as conversas dos términos partiram de mim. Até por fazer terapia há anos, não tenho essa coisa cega da Estela de não aceitar que o outro não me quer. Eu já teria percebido antes e até tentado me defender emocionalmente, conversando e resolvendo logo para causar a menor dor possível — analisa.

 

 

— Eu não me vejo num lugar assim, mas, se a gente está vivo, tudo pode acontecer. Não me imagino, até porque se me visse numa situação em que vou me ferrar, sofrer pra caramba, já daria um jeito de aliviar isso. Mas não posso afirmar, não posso ser hipócrita. Difícil controlar por quem vou me apaixonar — constata ela, que está solteira.

 

Em uma relação de amor com Estela, a atriz conta que teve aquela dorzinha no coração ao dizer tchau à piloto. Só não foi maior por conta do acolhimento que recebeu da equipe da novela.

 

 

— A cena da morte foi a última que gravei, e, como é um set em que as pessoas estão juntas nesse tempo todo, fizeram uma despedida pra Estela com palmas no fim. Almoçamos todos juntos depois dessa sequência. Então, foi nostálgico. Fui muito acarinhada, o que me deixou tranquila, feliz e leve com o destino que ela precisou tomar — explica.

 

O destino, aliás, vem sendo bacana com a menina que saiu aos 18 anos de Três Rios, sua cidade natal, no interior do estado, para fazer faculdade de Cinema no Rio. Se antes ela chegou a trabalhar como animadora de festas infantis, vendedora e modelo de prova de roupa, nos últimos seis anos, viver da arte virou mesmo seu ganha-pão.

 

 

— Mas tenho insegurança em relação ao futuro da minha família. Sou preocupada, filha única, cuido da minha mãe. Esse é meu calcanhar de aquiles: estar sempre bem e pronta para suprir o que minha família precisa. E isso é pesado — confessa ela, que deu um conselho, há pouco tempo, a um amigo, pai de apenas uma criança: — “Você precisa ter outro bebê. Sem sombra de dúvida, sua filha vai agradecer pra sempre”. Quando se é pequeno, não tem uma lupa em cima de você. Quando a gente se torna adulto, quase pai dos pais, a responsabilidade é grande. E ter um irmão para dividir é de grande ajuda

 

Se uma doença não tivesse cruzado a vida familiar de Letícia, hoje, ela não seria filha única. A atriz conta que teve um irmão, que morreu aos 7 anos, e diz que “sabe bem o que é ter essa figura e perdê-la”.

 

Fotos: Reprodução

 

— Tinha 6 anos quando ele se foi. É um pedaço da gente que morre, difícil, ainda mais por ter sido de uma hora pra outra, com uma doença feito a meningite. De repente, aconteceu... Eu não era filha única, não tinha esse tratamento. Precisou que toda a família e o convívio social, a escola, os amigos se adaptassem com a minha nova situação. Por muitos anos me olhavam assim: “Tadinha, ficou sozinha”, numa tentativa até de me mimar. Depois veio: “Vida que segue, vamos encarar como se sempre tivesse sido assim” — lembra Letícia, que já tem essa questão bem resolvida, assim como a sua visão sobre a morte: — Por conta de ter lidado muito cedo com ela, eu tenho uma relação muito boa com a morte. Entendo esse momento da passagem da pessoa, a dor para quem fica... Esse assunto não é uma coisa que me aterroriza. Consegui resolver isso bem desde a minha infância.

 

— Eu até atribuo a minha aptidão para o humor a essa fase, porque foi uma época tão triste ao meu redor... Tentava alegrar a família fazendo palhaçada, brincadeiras, apresentações... Descobri esse talento para sair desse lugar de tristeza. Esse período de botar todo mundo pra cima foi dos 6 anos até a pré-adolescência. E toda essa situação me fez crescer na marra.

 

Além da morte do irmão, Letícia, durante muito tempo, teve que lidar com uma falta de tato de sua avó paterna, que sem pudores alardeava que ela era a neta mais feia. A atriz, hoje, aos risos, defende a senhorinha, dizendo que “ela não sabia a gravidade do que estava fazendo”:

 

— Nos almoços de família, com muita gente em casa, era normal ouvir: “Letícia é a neta mais feia”. Então, eu pensava: “Nossa, sou feia mesmo, tenho que dar um jeito de ser inteligente, engraçada, cantar, porque bonita não sou”. Quando ela ia dividir o pavê, falava cada adjetivo para um neto, e eu era “a mais feia”. Demorei muito para contar a minha mãe. Só fiz isso aos 16 anos, quando minha avó disse: “Até que, para a neta mais feia, você ficou bonita”. Prefiro acreditar que isso me fez forte em algum lugar.

 

O problema é que, mesmo bem analisada há anos, o trauma ainda tem algum efeito sobre a artista:

 

— Na época, me afundou. Pré-adolescente, eu pensava: “Ninguém vai gostar de mim, todas as meninas têm namorados, e eu não. Minha vó estava certa mesmo, e eu vou ter que dar um jeito na minha vida”. Até hoje, existem momentos em que me olho e está tudo bem comigo, estou bonita, feliz. Mas há outros em que penso: “Gente, você está muito feia (risos)”. Trato isso na terapia, a realidade do espelho. Muitas vezes não vejo o que ele está me mostrando, e minha terapeuta tem que me dar um toque

 

Houve um momento, inclusive, em que Letícia só se sentia bem quando estava toda montada:

 

— Tinha que estar arrumada, maquiada, com cabelo feito, alguma camuflagem... Hoje já gosto de mim sem nada. Se eu posto alguma coisa na minha rede social, faço questão de não me maquiar, não coloco filtro... Tudo bem se estiver com espinha ou cabelo mais ou menos. Acho importante tentar combater um pouco esse padrão de beleza que nos massacra tanto.

 

A atriz confessa, no entanto, que, vez ou outra, acaba caindo nas armadilhas dessa imposição. Num dia pode não ver problemas em desfilar de calcinha e sutiã na novela, já em outro pode ficar “noiada”:

 

— Já fiz um post colocando uma Barbie com celulite para dizer que ela não existe, porque, se fosse real, teria celulite. Mas, na hora de gravar, me sentindo mal, inchada, passei todos os cremes na minha bunda. E pensei: “Gente, estou pregando que tudo bem ter celulite, mas estou me entupindo de creme antes de fazer a cena”. Por isso, digo que a gente é refém de padrão de beleza, e isso enche o saco. Afinal, quero ter essa bunda assim, mas passei zilhões de cremes, fiquei toda esticada na hora de fazer a cena, tentando ficar durinha. Sofro uma grande contradição.

 

Adepta do botox, Letícia não tem coragem de fazer outros procedimentos por um único motivo:

 

— O botox faço de vez em quando, uma vez por ano, dependendo do trabalho. Não gosto de ficar paralisada para eu ter minha expressão bastante viva. Já tiveram períodos em que fiquei sem. Pesquiso sobre todos os outros procedimentos de beleza, vi que tem laser, produção de colágeno na pele... Gostaria de fazer vários, mas tenho resistência a tudo que causa dor. Então, desisti.

 

A coragem de Letícia está além de uma agulhada ou um repuxão. Ela trata a sua sexualidade, questionada na época de seu namoro com Ana Carolina, com a mesma naturalidade em que aponta a espontaneidade e o humor como suas armas de conquista, e as pernas, alvo de bullying na escola, como a parte mais bonita de seu corpo:

 

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— Talvez tenha sido a primeira da minha geração a falar abertamente sobre minha orientação. E recebi mensagens de amigas atrizes que ainda não tinham se assumido, parabenizando e agradecendo. Depois de um tempo, elas falaram também. Minha descoberta não foi uma questão surpreendente, apesar de nunca ter ficado com mulher antes. Tenho uma coisa genuína com amor e liberdade, sempre fui assim. É bom naturalizar o discurso para que ele não seja tabu. 

 

Extra

 

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