Ela fez sucesso aos 37 anos. Teve filho aos 41. Mudou de cidade aos 50. Aos 53, está às voltas com um programa de televisão, o roteiro de seu filme e o monólogo que teve a temporada interrompida pela pandemia.
Quando Mônica Martelli me propôs trocar as duas horas apertadas na agenda de dezembro por uma tarde pós-férias, no comecinho do ano, não hesitei. Sabia que não me faltariam boas aspas, mesmo se o papo fosse de 15 minutos. Intensa, profunda, contundente, essa taurina com metade do mapa em Gêmeos não desperdiça um segundinho de seu tempo. Mergulha em tudo que faz e preenche com humor e carisma únicos cada vírgula de sua fala – coisa que, diga-se, nunca economiza.
Combinamos de passar o dia juntas, conversar, parar para comer, beber uma coisinha, ver televisão, falar mais um pouco. Acontece, porém, que vida não tem roteiro – e a gente já tem idade suficiente para ter entendido isso – e, como todos as pessoas que têm amigos, Mônica foi infectada pela nova variante do coronavírus durante as festas de fim de ano.
Já fazia nove dias que o teste havia dado resultado positivo quando me atendeu via Zoom de sua casa, em São Paulo, onde vive com a filha, Júlia, de 12 anos. Apesar de ter enfrentado uma cepa sabidamente menos letal do que as anteriores, e já com três doses de vacina no corpo, ainda tossia um pouco e se dizia “esquecida das palavras”. A despeito do que disseram seus familiares e médicos, tomou tudo que estava a seu alcance, com medo do que poderia estar por vir.
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“Antibiótico, Predsim, Tylenol Sinus, uma bombinha para as vias aqui de cima e mais um negócio de nariz duas vezes ao dia.” Loucura? “Prefiro pecar pelo excesso.” Claramente descabido, o tratamento preventivo de Mônica tem justificativa. Em maio do ano passado, ela perdeu o melhor amigo, o também comediante Paulo Gustavo, para a covid-19. “Nunca mais consegui gargalhar da forma que gargalhava com ele”, diz. “Era a pessoa mais engraçada que conheci na minha vida inteira.”
Ainda de luto, Mônica já começou a trabalhar no roteiro do longa Minha Vida em Marte 2, no qual conta suas desventuras amorosas de maneira ficcional. Na primeira parte da trama, Paulo Gustavo vive Aníbal, o melhor amigo de sua personagem, Fernanda.
Por esse motivo, estava decidida a desistir do projeto quando teve o insight: “Eu sempre escrevi o que vivi. Então, vou escrever exatamente sobre o que estou passando: o luto. Vai ser a história da Fernanda perdendo o Aníbal”.
Pergunto a Mônica se, ainda assim, podemos esperar um filme de comédia. Ela mal me deixa terminar a frase. “Com certeza!” As primeiras reuniões de roteiro, conta, não foram nada fáceis. “Mas eu me curo por meio do meu trabalho”, diz. Ela acredita que, com tempo, terá o distanciamento necessário para se afastar da dor e colocar humor na narrativa. “A gente já está conseguindo fazer isso.”
Caminho construído
Filha do meio de uma professora pública – a primeira mulher eleita vereadora em Macaé no pós-ditadura – e de um comerciante, Mônica nasceu nessa pequena cidade do interior do Rio de Janeiro em 1968. Morou ali até os 12 anos, quando se mudou para a capital.
Aprendeu em casa que a única possibilidade de uma mulher ser livre é tendo independência financeira e, aos 15, conseguiu um emprego de vendedora em um shopping carioca. Já naquela época, ninguém resistia à sua espontaneidade.
“Nunca entrei na cabine com uma cliente e falei: ‘Amor, você tá linda’ e a mulher se achando uma merda. Dizia o seguinte: ‘Não te valorizou, não. Espera aí que eu tenho uma coisa melhor para você’.” Era um sucesso. “Elas só queriam comprar comigo.”
Fotos: Reprodução
Com 18, entrou para a faculdade de direito. Durou um ano. Foi viver então nos Estados Unidos para estudar inglês. O curso rapidamente foi trocado por um emprego de garçonete. Dividindo apartamento com uma amiga, sentiu-se verdadeiramente livre pela primeira vez. “Era só trabalhar, namorar, conhecer gente. Só ser feliz.”
Voltou com 20 e começou a estudar jornalismo na extinta Faculdade da Cidade. Foi ali que viu a plaquinha: “Curso de teatro”. Entrou. Gostou tanto que resolveu fazer o profissionalizante da CAL (Casa das Artes de Laranjeiras). “Quando cheguei lá, falei: ‘Aqui é o meu lugar’.” Mônica, que nunca havia se encaixado nos colégios que frequentou, finalmente tinha achado sua tribo.
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Na mesma época, foi morar com o namorado, o fotógrafo Lívio Campos, que, na época, fazia as capas de disco mais legais do país. Como era boa com pincéis, começou a maquiar os artistas clicados por ele para ganhar um dinheirinho. A primeira, nunca esquece, foi a cantora Cássia Eller, que ainda não era conhecida. “Fiz uma maquiagem toda rosinha bebê. Blush rosinha, sombra rosinha... E ela toda de preto”, diverte-se. “Sorte é que as fotos eram todas PB, não aparecia.”
Fonte: Marie Claire