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14/07/2020

Mensagens entre Ronnie Lessa e filha são de afeto, mas o assunto tratado é compra de armas

Foto: Reprodução

Os dois foram indiciados pela Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme) por tráfico internacional de armas

Os diálogos entre o sargento reformado da PM Ronnie Lessa e a filha Mohana Lessa, por meio de um aplicativo de mensagens, são de afeto. Seria uma conversa normal, entre pai e filha, se não fosse o assunto tratado: compra de peças de fuzis. A Polícia Civil e o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP do Rio analisaram o teor das conversas e constataram que Lessa orientava Mohana a enviar as peças que ele comprava no Brasil e mandava entregar no endereço dela, em Atlanta, nos Estados Unidos.

 

Posteriormente, ele encarregava Mohana de mandar a encomenda para o Rio. Os dois foram indiciados pela Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme) por tráfico internacional de armas. O PM reformado está preso desde 2019 sob a acusação de ser o autor dos disparos que mataram a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes, em março de 2018.

 

Nas mensagens, Lessa usa como forma de tratamento "filha". Ele explica, de maneira metódica, como separar o material que ele comprava pela internet de casa, na Barra da Tijuca, no Rio, e mandava entregar na casa dela, em Atlanta. A jovem, que contava na época com 22 anos, trabalhava como treinadora de futebol em Atlanta, onde morava. Segundo os investigadores, o PM instruía a jovem a colocar o material em embalagens menores, retirando-as dos pacotes originais, para não chamar atenção quando passassem pelo setor alfandegário.

 

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Mohana, filha de Ronnie Lessa Foto: Reprodução

Mohana, filha de Ronnie Lessa (Foto: Reprodução)

 

Os diálogos ocorreram entre junho e setembro de 2018 e foram extraídos de um dos celulares de Lessa. Nas mensagens, ele não disfarçava a pressa que tinha pela chegada das peças. Num diálogo do dia 5 de junho de 2018, Mohana pergunta ao pai o que ele prefere DHL ou Fedex.

 

O PM responde: "DHL, é mais rápida sempre". E pede uma foto para Mohana da "invoice". A jovem revela não saber o significado da palavra. Ele explica: "é a nota fiscal". É um documento usado para faturar serviços prestados ou contratados, e produtos comprados ou vendidos no exterior. A invoice é fornecida por aquele que presta o serviço ou vende o produto. Nela, estão a descrição do produto ou serviço, a quantidade, o preço e forma de pagamento.

 

Conversas entre Ronnie Lessa e a filha, Mohana, sobre as armas vendidas Foto: Editoria de Arte O Globo

Conversas entre Ronnie Lessa e a filha, Mohana, sobre as a

rmas vendidas (Foto: Editoria de Arte O Globo)

 

Entre os pedidos de Lessa, que incluía a palavra "urgência" ou "agilidade" com frequência, há um trilho para se adaptar uma luneta em armamento pesado. Todas as compras eram rastreadas por ele, que avisava a filha de imediato. O preço de algumas entregas chama a atenção de Mohana. No dia 6 de junho de 2018, ao enviar um produto, ela comenta: "É caro demais isso, cruz credo!". O valor era, de acordo com a nota fiscal enviada por ela a pedido do pai, de U$ 137,44, pelo serviço de entrega.

 

Além de colocar em sacos pequenos, a orientação do pai era pedir a filha que descriminasse as peças como sendo de metal ou de borracha, conforme o material. Num dos trechos, segundo os investigadores, numa conversa do dia 20 de agosto, Lessa orienta que ela escreva na descrição do documento de envio da encomenda: "Coloca metal parts". Isso, segundo a polícia, tinha como objetivo burlar a fiscalização quando o produto passasse pelo setor alfandegário.

 

Conversas entre Ronnie Lessa e a filha, Mohana, sobre as armas vendidas Foto: Editoria de Arte O Globo

Conversas entre Ronnie Lessa e a filha, Mohana, sobre as armas

vendidas (Foto: Editoria de Arte O Globo)

 

Para evitar erros nas entregas, o sargento costumava pedir imagens, que ajudaram os peritos a comprovar, em laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), que as peças seriam para armamento real. A defesa de Lessa sempre argumentou que o sargento comercializava armas de airsoft. Numa das entregas, o policial militar reformado pede: "Quando puder me manda uma foto. Para postar, tira das embalagens e coloca só num saquinho transparente por favor".

 

Alguns dos pedidos ocorrereram de madrugada. Num deles, no dia 20 de setembro de 2018, o sargento insiste, apesar do cansaço da filha:

 

"Eu queria que vc enviasse um separado. Vou ver aqui qual é, peraí" (sic)

 

A filha comenta: "Vê amanhã. Vou mimir jájá" (sic)

 

Ele responde: "Peraí rapidinho" (sic)

 

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Lessa está preso no Presídio Federal de Porto Velho, em Rondônia, desde o dia 12 de março de 2019. No dia seguinte à sua prisão, a Delegacia de Homicídios e o Gaeco encontraram 117 peças de fuzis na casa de um amigo do sargento, no Méier. Os investigadores descobriram que o material era de Lessa. A Polícia Civil informou, na época, que foi a maior apreensão de fuzis feita pela instituição fluminense. As armas, réplicas de M16, todas novas, estavam desmontadas em caixas – só faltavam os canos. 

 

O Globo

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