16 de Abril de 2024 - Ano 10
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Meio Ambiente
16/01/2023

Ministério revoga medida do governo Bolsonaro que liberou extração de madeira em terra indígena

Foto: Reprodução

Ministério dos Povos Indígenas que anulará a decisão, criticada por entidades por dar brecha para a devastação. Para Funai, é natural que a medida tenha seus efeitos suspensos.

A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, informou nesta segunda-feira (16) em uma rede social que revogou a medida da gestão Bolsonaro que liberou a extração de madeira em terras indígenas, inclusive por não indígenas.

 

Publicada em dezembro do ano passado, no apagar das luzes do governo anterior, a instrução normativa prevê o chamado manejo florestal sustentável em territórios demarcardos, que, em tese, deveriam ser protegidos. A mudança na regra havia sido duramente criticada por entidades ambientais.

 

Mais cedo, o ministério havia confimado ao g1 que tinha determinado a revogação e reafirmava o seu compromisso com a proteção dos territórios indígenas. A data de publicação da revogação no "Diário Oficial da União" não havia sido informada.

 

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Sonia Guajajara fala sobre a revogação de medida do governo Bolsonaro que liberou extração de madeira em terra indígena — Foto: Reprodução/Twitter


Entenda a polêmica:

 

A medida permite a exploração de madeira em terras indígenas, inclusive por organizações de composição mista, ou seja, entidades com a participação de não indígenas.


Alvo de invasores e garimpeiros, as terras indígenas estão entre os principais redutos de conservação ambiental no país. Com as novas regras e as lacunas na fiscalização, especialistas temem que a medida facilite a exploração criminosa.


Além disso, entidades ambientais argumentam que a medida fere a Constituição Federal, que veda a exploração de madeira nesses territórios.

 

FUNAI, IBAMA E MINISTÉRIOS


Em nota ao g1, a Fundação Nacional do Índio (Funai), rebatizada de Fundação Nacional dos Povos Indígenas, afirma que já está em contato com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para "determinar providências" a respeito da instrução normativa.

 

Na nova composição ministerial do governo Lula, a fundação passou a fazer parte da estrutura do inédito Ministério dos Povos Indígenas.

 

Cabe destacar que a Instrução Normativa não foi objeto de consulta aos povos indígenas como previsto nos dispositivos legais existentes, logo, é natural que tenha seus efeitos suspensos até uma análise mais aprofundada e seja objeto de consulta. — Nota da Funai


A reportagem também procurou o Ibama, que é vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, mas não não havia obtido resposta até a última atualização desta reportagem. Contatada, a pasta também não retornou ainda.

 

Sob Bolsonaro, que sempre defendeu a exploração de terras indígenas, a Funai, como mostrou o g1, havia justificado que a instrução era uma "reivindicação antiga de diversas etnias" que resultaria "em mais autonomia para os indígenas", ampliando a "geração de renda nas aldeias de forma sustentável".

 

A medida havia sido assinada conjuntamente pelos então presidentes do Ibama, Eduardo Bim, e da Funai, Marcelo Augusto Xavier.

 

Operação de combate a garimpo ilegal de ouro na Terra Indígena Kayapó em 2017. — Foto: Felipe Werneck/Ibama

 

O que diz a medida em 7 pontos:


Os planos de exploração podem ser apresentados por cooperativas integradas pelos próprios indígenas ou organizações de composição mista (a participação de não indígenas tinha que ser inferior a 50%).


O grupo interessado em fazer a exploração tem que pedir autorização e, para isso, precisa apresentar um documento técnico avaliando os impactos cultural e econômico nas comunidades que vivem na terra indígena.


Para embasar o plano, deve ser feito um relatório de viabilidade socioeconômica, que tem que, primeiro, ser submetido à comunidade indígena para consulta. Se aprovado, o relatório tem que ser enviado à Funai, que dá um parecer.


Também será preciso demonstrar a viabilidade ambiental.


O plano final depende do aval do Ibama.


O texto prevê ainda o manejo em três biomas brasileiros: amazônico, caatinga e cerrado.


A quantidade de madeira a ser extraída deve seguir critérios específicos já existentes para cada um desses biomas (em áreas fora de terras indígenas) e que levam em conta, por exemplo, a necessidade de uso de máquinas para o arraste de toras e o ciclo de corte das árvores.

 

Operação de combate à exploração ilegal de madeira em Terra Indígena na região de Novo Progresso (PA), em 2016. — Foto: Felipe Werneck/Ibama

Fotos: Reprodução

 

CRÍTICAS: MARGEM PARA MAIS DESTRUIÇÃO


Na época da publicação, a instrução normativa foi duramente criticada por entidades ambientais. De acordo com Juliana de Paula Batista, advogada do Instituto Socioambiental (ISA), o documento abre margem para sérios impactos ambientais e o aumento do desmatamento em terras indígenas.

 

Isso representa um flagrante tentativa de burlar a Constituição Federal e o Estatuto do Índio, que estabelecem que os recursos dos rios, lagos e solos pertencem exclusivamente aos povos indígenas. — Juliana Batista, advogada do ISO, em entrevista ao g1 em 16 de dezembro


O que diz a Constituição: De acordo com o artigo 231 da Constituição, "as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes".

 

O que diz o Estatuto do Índio: Também citado por Batista, o estatuto traz em seu artigo 18 a proibição da "prática da caça, pesca ou coleta de frutos, assim como de atividade agropecuária ou extrativa" em terras indígenas por pessoas não indígenas.

 

Para a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib):

 

a instrução normativa violava preceitos constitucionais;


era uma resposta do governo Bolsonaro à demanda dos madeireiros;


povos que residem nos territórios afetados deveriam ter sido consultados;


"No contexto geral, os ataques aos territórios indígenas, estão diretamente ligados a medidas do poder Executivo, que ao fim do mandato, edita normas que favorecem e incentivam a exploração e a apropriação privada de terras indígenas por parte de não indígenas, dando a invasores confiança para avançarem em suas ações ilegais dentro dos territórios", afirmou a Apib em nota.

 

IBAMA E FUNAI SOB NOVO COMANDO


No último sábado (14), o deputado federal Rodrigo Agostinho foi indicado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, para a presidência do Ibama.

 

Além de ex-prefeito de Bauru, no interior de São Paulo, Agostinho é biólogo, advogado e ambientalista, membro titular do Conselho Nacional do Meio Ambiente por dez anos.

 

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Já a nova presidente da Funai é Joênia Wapichana, a primeira mulher indígena a assumir o cargo. Primeira indígena eleita na história na Câmara dos Deputados, ela havia sido anunciada pelo presidente Lula como chefe da fundação ainda no final do ano passado.

 

Fonte: G1

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