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20/04/2020

O amor é cego? Nem tanto, diz a ciência, e isso é uma coisa boa

Foto: Reprodução

O reality show da Netflix "Love Is Blind" argumenta que escolher um parceiro com base na aparência é algo superficial. A ciência não tem tanta certeza disso

Você já deve ter ouvido ou ao menos visto os banners de Love Is Blind na Netflix. O reality show de namoro ganhou a internet e traz jovens millennials que topam fazer encontros às cegas e, pasmem, aceitam se casar um com o outro sem nunca terem se visto antes (!).

 

Pode parecer um episódio de Black Mirror, mas, na real, eles já carregam uma onda de fãs ao redor do mundo - alô, Lauren e Cameron. A ideia do programa é desvendar se, afinal, o amor é cego ou não, usando experimentos de dates em cápsulas, nas quais impedem que os participantes se vejam, apenas conversem, e, depois, passando para uma etapa de construção da intimidade do casal a partir da experiência de morar junto.

 

"Os psicólogos acreditam que a conexão emocional é a chave para o sucesso conjugal a longo prazo – e não a atração física", diz o apresentador do programa, Nick Lachey. Mas isso não é exatamente verdade. Apesar da afirmação de Lachey, psicólogos, pesquisadores, sociólogos e conselheiros de casais, na verdade, tendem a concordar que a atração e o toque físicos são ingredientes importantes para o mix de afeto a longo prazo.

 

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Até mesmo o mais otimista e apaixonado provavelmente não confundirá Love Is Blind, que é essencialmente uma mistura dos maiores sucessos dos realities de encontros (The Bachelor, The Dating Game, Are You The One?, Dating in the Dark), com um estudo controlado. Embora os participantes e os apresentadores se refiram ao programa como um "experimento", os espectadores são espertos o suficiente para saber que ele é um entretenimento altamente produzido, não um precursor a um artigo do New England Journal of Medicine.


Ainda assim, enquanto os participantes aproveitam o momento como sensações do reality e influenciadores, essa parece uma boa hora para lembrar a todos que "O amor é cego?" é, de fato, uma questão que a ciência abordou muitas vezes.

 

Em geral, sexo e desejo não podem ser retirados da equação de satisfação e sucesso de um relacionamento. "Os aspectos emocionais e sexuais da intimidade nos relacionamentos românticos são correlatos importantes na satisfação do relacionamento de casais", escreveu Yoo, et al., no Journal of Sex & Marital Therapy, em 2014. Em um estudo com 335 casais, os pesquisadores descobriram que "a satisfação sexual fazia uma previsão significativa da intimidade emocional de maridos e esposas. Já a intimidade emocional não pareceu ter uma influência significativa na satisfação sexual”. O conceito de Love Is Blind, portanto, cria uma intimidade emocional, mas não permite contato físico.

 

LOVE IS BLIND (Foto: Divulgação/Netflix)

 

O estudo What keeps passion alive?, publicado em 2016, feito com base em entrevistas com 39 mil adultos americanos heterossexuais e em relacionamentos de três anos ou mais, descobriu que as pessoas que relataram sentir-se sexualmente satisfeitas nos seus relacionamentos também mostraram maior satisfação geral dentro dele. Essencialmente, as pessoas que transavam eram mais felizes nos seus relacionamentos. Os estudos sugerem que o sexo e o toque são essenciais para a felicidade numa relação de longo prazo. Daí a ideia de que começar um relacionamento sem saber se uma das partes está fisicamente atraída pela outra não é algo lógico. Esse mesmo estudo também indica que a atração baseada na aparência, satisfação sexual e a felicidade são aspectos interconectados nos relacionamentos.

 

Até o beijo – que os casais de Love Is Blind não podem dar até depois do noivado – é "um mecanismo para a escolha e avaliação do parceiro," disse Helen Fisher, antropóloga biológica. Alguns estudos chegaram a sugerir que a saliva pode ajudar a determinar a compatibilidade e que os casais que se beijaram mais contam ter maior satisfação no relacionamento. As mulheres, predominantemente, dizem que os primeiros beijos afetam seus sentimentos de atração. Se o beijo é uma verdade entre as mulheres, pense sobre o quão importante ele é para as mulheres heterossexuais, que têm menos probabilidade de ter um orgasmo durante o sexo com o parceiro, para garantir que sejam sexualmente compatíveis com seus parceiros antes de se comprometerem por toda a vida.

 

 

O que os casais e produtores de Love Is Blind podem ter captado é o fato de que a pesquisa descobre que o desejo sexual diminui após o estágio inicial da paixão em um relacionamento, e flutua ao longo dele. Muitas vezes, até nos dizem que as mulheres são as principais culpadas aqui, mas isso também não é totalmente verdade. Mas, se você quiser ajudar a manter uma "parceria feliz a longo prazo", disse Fisher, uma maneira importante é manter seu desejo sexual, transando com o seu parceiro – até mesmo um sexo programado. A promessa de que você e a sua parceria desejarão se envolver num sexo regular simplesmente parece mais difícil de garantir se vocês noivarem sem saber se sentem atração um pelo outro.


Então, aí está: o sexo e a satisfação no relacionamento estão intrinsecamente ligados. A maioria das pessoas provavelmente já sabia disso. E mesmo que se você pudesse, de alguma forma, desembaraçá-los e experimentar o amor romântico, distinto da atração física ou da compatibilidade sexual, não seria isso que classificaria esse amor como "mais puro" ou "verdadeiro". O desejo físico pelo corpo de outra pessoa não é algo sujo, prejudicial ou depreciativo. Love is Blind é obviamente radical, mas é uma versão de uma perspectiva que muitas pessoas sustentam: que o amor é lindo, mas o desejo é quase um pecado.

 

Padrão de beleza

 

O amor é cego? Nem tanto, diz a ciência – e isso é uma coisa boa  (Foto: Divulgação/Netflix)

Fotos: Reprodução


Não há dúvida de que nossa cultura é prejudicialmente (às vezes violentamente) obcecada por padrões de beleza. As convenções que premiam a magreza e castigam a gordura corporal; as que significam apenas um racismo disfarçado de preferências estéticas; as que julgam o envelhecimento; as que permitem a masculinidade tóxica, atribuindo o valor feminino à aparência física: todas elas precisam ir embora. Mas os humanos nunca vão se livrar do amor pela beleza e o desejo que a beleza acende. O cenário ideal seria um mundo em que todo tipo de pessoa e corpo pudesse ser visto como bonito e desejável, e não aquele em que a atração física não importasse.

 

Retirar a aparência e o toque físico da equação não é uma atitude corajosa contra a cultura superficial. É fantasioso na melhor das hipóteses e descontroladamente negativo para o sexo – a propósito, as pessoas cegas de verdade não fazem parte de um elaborado "experimento", elas vivenciam o amor e o desejo como todo mundo. Correndo o risco de se exagerar muito em um reality show perfeitamente agradável, parte do que torna Love Is Blind tão absurdo é o fato de que todo membro do elenco tem a sensualidade e o padrão de modelos de catálogo.

 

Os produtores, claramente, não acham que o público prestará atenção em pessoas com níveis de sex appeal convencionais por 40 minutos. Então, por que argumentar que as aparências não devem estar relacionadas a um compromisso para a vida toda?Parece seguro presumir que as legiões de novos fãs de Love Is Blind não irão namorar alguém que conheceram em uma cabine de banheiro ou em um dos lados de um confessionário. Mas a mensagem ainda é potente. O conceito do programa é "o oposto do que o namoro moderno se tornou", como define, entusiasmado, um dos participantes. Desprezar o lado superficial dos aplicativos de namoro é algo popular, embora seja difícil imaginar que as pessoas sejam muito mais superficiais agora, na era dos aplicativos, do que na era das noivas por encomenda, casamenteiros ou dos bares para solteiros, ou, por muito tempo, uma longa história de homens escolhendo as mulheres com base na aparência delas e mulheres aceitando ou, se tivessem uma escolha, às vezes os rejeitando. Desejar uma pessoa inteira - sua mente, seu corpo e até (obrigado, pesquisadores) sua saliva - não é superficial. É algo amável.

 

No nosso mundo movido pela tecnologia, a apresentadora do programa, Vanessa Lachey, entoa na abertura do programa: "Seu valor geralmente é julgado apenas pela foto no seu aplicativo de namoro. Mas todo mundo quer ser amado por quem eles são. Não por sua aparência, raça, origem ou renda”.

 

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Isso é verdade. Todo mundo quer experimentar algo puro e real. Porém, a coisa mais verdadeira e realista seria ser amado, não independentemente da sua identidade, mas por causa dela. 

 

Globo/Glamour

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