03 de Maio de 2024 - Ano 10
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Mulher
10/04/2024

O preocupante efeito do calor extremo sobre abortos espontâneos detectado em estudo inédito

Foto: Reprodução

Sumathy, que trabalha na colheita de pepino, perdeu um bebê com 12 semanas de gestação

Trabalhar no calor extremo pode duplicar o risco de partos de bebês natimortos e aborto espontâneo para mulheres grávidas, de acordo com uma nova pesquisa realizada na Índia.

 

O estudo mostrou que os riscos para as futuras mães são significativamente maiores do que se pensava anteriormente.Os pesquisadores dizem que verões mais quentes podem afetar não só as mulheres em climas tropicais, mas também em países como o Reino Unido.

 

Eles pedem recomendações de saúde específicas para mulheres grávidas que trabalham em todo o mundo.Cerca de metade das participantes trabalhavam em empregos nos quais estavam expostas a níveis de calor elevados, como em atividades agrícolas, olarias e salinas. As outras trabalhavam em ambientes mais frescos, como escolas e hospitais — embora algumas também estivessem expostas a níveis bastante elevados de calor nesses empregos.

  

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Não existe um valor universal para determinar a partir de que ponto o calor é prejudicial ao corpo humano.“[O impacto do calor] é relativo ao que você está acostumado, ao que seu corpo está acostumado”, diz Jane Hirst, uma das cientistas que contribuiu para o estudo.

 

Nos campos verdejantes de Tiruvannamalai, conheci Sumathy, uma das mulheres grávidas que participaram da pesquisa.Ela tira as luvas grossas e alonga os dedos. Ela está colhendo pepinos há duas horas.“Minhas mãos queimam com esse calor”, ela me diz, acariciando suavemente as pontas dos dedos.

 

O verão ainda nem começou, mas já está fazendo cerca de 30°C aqui hoje — e a sensação de calor é maior devido à umidade.Sumathy tem que proteger as mãos dos constantes cortes dos minúsculos espinhos dos pepinos, mas as luvas a fazem suar muito.“Meu rosto também queima”, afirma.

 

Ela vai para a plantação de pepinos antes e depois de seu trabalho principal, como cozinheira em uma escola, e recebe cerca de 200 rúpias (pouco menos de R$ 12) por seus esforços.Sumathy foi uma das primeiras a ser recrutada para o estudo.

 

Rekha Shanmugam medindo o calor diurno nos canaviais em Tiruvannamalai

 

Seu bebê também foi um dos primeiros a morrer.“Eu costumava me sentir muito exausta por estar grávida e trabalhar no calor”, relembra.Um dia, enquanto deixava o almoço do marido, Sumathy começou a se sentir muito mal de repente. Naquela noite, ela consultou um médico que informou que ela havia sofrido um aborto espontâneo com 12 semanas de gestação.

 

“Meu marido me deitava no colo dele e me consolava. Não sei o que teria feito sem ele”, diz ela.Sumathy fala do marido com muito amor, mas teve que aprender a viver sem ele. Ele morreu recentemente, e ela agora é a principal fonte de sustento da família.

 

Sumathy nunca vai saber ao certo se trabalhar no calor durante a gestação teve algo a ver com a perda do seu primeiro filho.Mas, de uma maneira geral, o estudo mostrou que as mulheres que trabalhavam em condições semelhantes às dela tinham duas vezes mais chance de ter um bebê natimorto ou sofrer um aborto espontâneo do que aquelas que trabalhavam em ambientes mais frescos.

 

As mulheres grávidas que participaram do estudo na Índia estão realmente "na linha de frente das mudanças climáticas", afirma Hirst, que é obstetra no Reino Unido e professora sobre saúde global da mulher na organização de pesquisa médica The George Institute.

 

Sandhiya

Fotos: Reprodução

 

A previsão é de que a temperatura média da Terra aumente quase 3ºC até ao fim do século em comparação com a era pré-industrial.A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para "uma ameaça existencial para todos nós", com as mulheres grávidas enfrentando "algumas das consequências mais graves".

 

Estudos anteriores mostraram um aumento de cerca de 15% no risco de parto prematuro e de natimortos durante ondas de calor — mas, em geral, estes estudos foram realizados em países de alta renda, como os EUA e a Austrália.As últimas descobertas na Índia são particularmente preocupantes, de acordo com Hirst, e têm implicações mais amplas.

 

“O Reino Unido está tendo verões mais quentes e, embora não seja tão quente como a Índia, estes efeitos adversos [nas gestações] podem ser observados em temperaturas muito mais baixas em climas mais temperados, como o do Reino Unido”.Mas, segundo ela, é preciso colocar os resultados "em perspectiva”.

 

Mesmo com o dobro do risco no calor extremo, perder um bebê ainda vai ser um “evento raro para a maioria das mulheres”.Atualmente, não há uma recomendação internacional oficial para mulheres grávidas que trabalham no calor.

 

A principal orientação que existe para o trabalho em climas quentes é baseada em estudos envolvendo um homem que serviu nas Forças Armadas dos EUA nas décadas de 1960 e 1970, pesando entre 70 e 75 kg e com 20% de gordura corporal.Hirst espera que este estudo, aliado a outras pesquisas, mudem este cenário.

 

Enquanto isso, Vidhya Venugopal, professora da Faculdade de Saúde Pública do SRIHER, que liderou a pesquisa na Índia, dá algumas dicas para as mulheres grávidas que trabalham no calor:

 

- Evitar períodos prolongados no calor;

 

- Fazer pausas regulares à sombra se trabalhar ao ar livre em dias quentes;

 

- Evitar fazer exercícios ou tomar sol por longos períodos nos horários mais quentes do dia;

 

- Se manter hidratada com água.

 

Para este estudo, financiado pelo governo indiano, os pesquisadores usaram o índice que é conhecido como Temperatura Global do Bulbo Úmido (WBGT, na sigla em inglês), que mede os efeitos da temperatura, umidade, velocidade do vento e calor radiante no corpo humano.

 

As leituras do WBGT costumam ser mais baixas do que as temperaturas que você pode ver na previsão do tempo na TV ou em um aplicativo meteorológico. O limiar de calor seguro para pessoas que realizam trabalhos pesados é de 27,5°C WBGT, de acordo com a Agência de Segurança e Saúde Ocupacional dos EUA.

 

A previsão é de que a Índia se torne um dos primeiros países do mundo onde as temperaturas vão ultrapassar o limite seguro para pessoas saudáveis simplesmente descansarem à sombra, de acordo com um estudo recente da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

 

O número de dias e noites (quando o corpo luta para se recuperar do calor diurno) quentes também deve dobrar ou até quadruplicar na Índia até 2050.Nos canaviais de Tiruvannamalai, a ex-enfermeira Rekha Shanmugam, uma das pesquisadoras do estudo do SRIHER, está medindo o calor diurno.

 

Ao nosso redor, algumas dezenas de trabalhadores — cerca de metade mulheres — cortam cana com pequenos facões.“Estas mulheres muitas vezes não têm outra escolha, a não ser trabalhar sob o Sol. Elas precisam do dinheiro”, diz Shanmugam.

 

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Ela coloca água em um medidor e aperta vários botões. Ele mostra uma temperatura WBGT de 29,5°C — acima do limite seguro para realizar este tipo de trabalho fisicamente exaustivo no calor.“Se os trabalhadores permanecerem por períodos prolongados neste nível de calor, vão ficar mais propensos a doenças relacionadas ao calor, e isso é especialmente preocupante para as mulheres grávidas”, adverte. 

 

Fonte: BBC

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