Luiz Teixeira escreve sobre a polêmica fala racista de Nelson Piquet ao se referir ao heptacampeão
Na letra da música "Bang!", o rapper Emicida usa uma frase semelhante a do título desse texto para enfatizar que ele não é o “neguinho”. Simplesmente por ter uma pele escura, Leandro Roque de Oliveira foi tratado, por muitos anos, da forma mais racista e pejorativa possível. Como resposta, o complemento da afirmação na canção daquele que veio pra ser "moleque monstrão", traduzindo para a gíria popular e contemporânea: "o cara!".
No filme "Cidade de Deus", o ator Leandro Firmino usou outra afirmação, que também lembra muito a usada no título, para enfatizar que não era mais o "Dadinho", mas sim o "Zé Pequeno, p...", o dono do morro, o dono do mundo. Você, homem negro que leu esse título, certamente já foi chamado de neguinho. Assim como "neguinha" é a forma como muitas mulheres negras que também vieram até esse espaço já foram ou ainda são chamadas diariamente.
Vou usar um pouco da filosofia africana pra me aprofundar no tema em questão. Dentro dela, existe a concepção do "Ma’at", que, resumidamente, é "aquilo que é certo", "que remete a verdade", algo como a ética para nós aqui no Brasil. E Lewis Hamilton, ao tomar conhecimento do "neguinho", usou do "Ma’at", mesmo que indiretamente ou sem saber, para afirmar que aquilo que estavam fazendo com ele era "mais do que linguagem". Isso se deve ao fato do racismo nos transformar em um "não ser" a partir da visão do racista.
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Por mais famoso, capacitado, talentoso ou importante que você seja, ser negro, no olhar do racista, é ser inferior. A ignorância é o cimento do racismo. Serve exatamente para solidificar o preconceito e a discriminação baseado nas percepções sociais e diferenças biológicas entre os povos.
- Essas mentalidades arcaicas precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte. Fui cercado por essas atitudes e alvo a minha vida toda. Houve muito tempo para aprender. Chegou a hora da ação - escreveu o heptacampeão da F1.
Fotos: Reprodução
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Segundo Salloma Salomao, professor, músico e pesquisador de Culturas Negras, Afrodiaspóricas e História da África, enquanto o racismo não for combatido por quem o sofre, ele vai continuar existindo. Uma vez que a história nos mostra que o passado tem poder e que pensar o futuro esquecendo o passado é um plano bem arquitetado por quem quer que a tragédia de outrora seja esquecida ou relevada. Ou seja, a derrota de hoje é fruto do processo do passado.
Fonte: GE