O Parlamento Europeu votou nesta terça-feira para afastar de uma das suas vice-presidências a eurodeputada grega Eva Kaili, presa desde sexta-feira devido a seu suposto envolvimento com um escândalo de corrupção relacionado ao lobby feito pelo Catar na União Europeia. Ela e outras três pessoas foram formalmente denunciadas por participação em organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção.
A destituição de Kaili do cargo de vice-presidente foi aprovada por uma maioria acachapante de 625 votos a favor, um contra e duas abstenções. Os advogados da política recém-expulsa do grupo europeu Socialistas e Democratas (S&D) e do Partido Socialista Grego (Pasok-Kinal), de centro-esquerda, afirmam que ela é inocente.
— Eva Kaili não tem nada a ver com o financiamento do Catar, nada, explicitamente e inequivocamente. Essa é a posição dela — declarou Michalis Dimitrakopoulos à TV grega.
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O advogado acrescentou que Kaili "não exerceu nenhuma atividade comercial na sua vida". Quanto ao pai de Eva, que, segundo a imprensa, foi detido quando tentava fugir com sacos cheios de dinheiro, o advogado disse que as autoridades belgas não lhe impuseram restrições e que, se quiser, "é livre de regressar para a Grécia".
Kaili já havia sido afastada oficialmente de suas funções como vice no fim de semana pela presidente do Parlamento, Roberta Metsola, mas o voto era necessário para tirá-la do cargo. Em declarações nesta terça, a presidente disse que não poupará esforços para lutar contra a corrupção e o que classificou como tentativas de países estrangeiros de influenciar o processo legislativo europeu.
Apelidado de "Catargate", o escândalo que estourou na sexta é um dos maiores da história recente do bloco europeu e resultado de meses de investigação, segundo o jornal Le Soir. A Justiça belga, que não cita o Catar pelo nome, afirma que um país do Golfo Pérsico ofereceu "quantidades substanciais de dinheiro" ou "subornos importantes" a pessoas com uma "posição política ou estratégica significativa" no Parlamento Europeu para "influenciar nas decisões políticas".
Desde sexta, informou o MP belga, foram realizadas 10 buscas que já apreenderam €600 mil na casa de um dos suspeitos, "várias centenas de milhares de euros" no cofre de um hotel de luxo em Bruxelas e €150 mil no apartamento de um "integrante do Parlamento Europeu", sem identificá-lo. As buscas foram realizadas em "colaboração e com o apoio dos serviços de segurança" do Parlamento Europeu, e o assunto deve vir à tona na cúpula dos líderes europeus na quinta.
Na segunda, a polícia belga realizou buscas no Parlamento para coletar dados dos computadores de 10 funcionários parlamentares — informações que haviam sido congeladas para evitar que sumissem. Segundo Metsola, o Legislativo do bloco não irá deixar a investigação e sua repercussão "danificarem uma instituição que lutou com tanto orgulho pelo Estado de direito e contra a corrupção".
Além de Kaili, também estão detidos o ex-eurodeputado Pier-Antonio Panzeri, que atualmente presidia a ONG Fight Impunity, que almeja promover "responsabilização como um pilar central da arquitetura da justiça internacional". Outro detido é Francesco Giorgi, parceiro de Kaili, conselheiro de assuntos do Oriente Médio e Norte da África no Parlamento Europeu e ex-assistente de Panzeri.
O quarto denunciado é Niccolò Figà-Talamanca, diretor-geral da ONG No Peace Without Justice ("Não há paz sem justiça", em tradução livre), que trabalha com a promoção dos direitos humanos, democracia e justiça no Oriente Médio e no Norte da África. A mulher e a filha de Panzeri, segundo a imprensa italiana, também teriam sido detidas.
Fotos: Reprodução
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O governo do Catar nega "categoricamente" qualquer envolvimento com "conduta inapropriada" e garante que suas instituições "funcionam sempre em total cumprimento das leis e regulações internacionais". Kaili tem sido uma defensora contundente do país-sede da Copa do Mundo, recentemente chamando-o de "líder nos direitos trabalhistas" após uma reunião com o ministro do Trabalho catari, apesar da enxurrada de notícias sobre as más condições enfrentadas durante a construção dos estádios.
Fonte: Extra