*Por Lúcio Carril - Não, não estamos todos na mesma barca ou corremos risco de morte numa mesma condição. Quem tem dinheiro ficará em casa, despreocupado, pensando no prato do almoço e do jantar. Quem não tem ficará pensando no almoço e no jantar que podem não ter... Quem tem empresa e empregados ficará em casa demitindo ou pagando metade do salário ao trabalhador e este terá que ficar em casa sem ter o que comer e como pagar suas contas. Têm bilionários que estão se protegendo em clínicas de luxo e até mesmo em bunkes preparados para possíveis catástrofes. Outros se refugiam em suas ilhas particulares. Já o povo, aquela grande massa de trabalhadores formais e informais, terá que esperar pelo atendimento num SUS sucateado pelo golpista Temer e pelo misantropo e capacho de rico Bolsonaro.
Não, não estamos nas mesmas condições de enfrentar o vírus.
Onde moramos não tem saneamento básico e os microorganismos se proliferam com rapidez.
No trabalho, não recebemos salários dignos e por isto não comemos para criar anticorpos.
Nossos filhos seguem suas vidas com as mesmas condições que seguimos a nossa: sem acesso aos bens materiais que poderiam melhorar nosso tempo de existência.
Já vocês, que acumularam riquezas explorando e se apropriando da nossa força de trabalho, desfrutam do bom e do melhor. E não venham me dizer que foi Deus que quis assim, pois conheço a história de roubos, saques e crimes que deu origem ao que vocês, ricos, têm.
Não foi deus, foi a ganância dos seus antecessores.
Por fim, quero dizer aos cínicos: não me venham pedir para dar um "time" nos meus textos críticos e de combate à canalha que apoia esse governo. A história não acabou e ela se repete na tragédia, matando meus irmãos e irmãs. Vocês, senhores herdeiros da ganância, continuarão sendo o pior vírus da humanidade e nós, gente que aprendeu a sobreviver diante da opressão econômica, continuaremos resistindo.
*Lúcio Carril é sociólogo, ex-secretário executivo de Polícia Fundiária do Amazonas, ex-delegado federal do Minsitério do Desenvolvimento Agrário no Amazonas e especialista em gestão e políticas públicas pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.