26 de Abril de 2024 - Ano 10
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Política no Amazonas
17/02/2020

Por Lúcio Carril - Sobre o artigo de Vladimir Safatle: Como a esquerda brasileira morreu

Foto: Divulgação

Lúcio Carril é sociólogo e especialista em gestão e políticas públicas pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo

*Por Lúcio Carril - Tenho recebido mensagens de amigos e amigas pedindo minha opinião sobre o artigo do filósofo Vladimir Safatle intitulado "Como a esquerda brasileira morreu".

 

Li com atenção a reflexão de Safatle e dela colhi mais preocupação com o avanço da direita no Brasil do que uma tentativa de desqualificação do campo onde ele próprio atua.

 

O imobilismo da esquerda brasileira é um fator histórico sim, mas não em decorrência das suas alianças de classes ou de um questionável "populismo de esquerda". O questionamento correto, na minha concepção, seria de como a esquerda brasileira não se constituiu como força política motriz.

 

O Brasil vive até hoje derrapando nas suas experiências democráticas. Não tem uma história de democracia que possibilitasse a formação de partidos políticos fortes e instituições republicanas duradouras. São pouquíssimos os nossos períodos de vida democrática.

 

O que mais marca nossa história são golpes, quarteladas e fraudes contra o sistema político criado por quem governa ou se mantém no poder.

 

A esquerda brasileira não morreu porque não se criou até uma vida adulta e um fenecimento prematuro não seria merecedor de contextualização histórica.

 

O campo de existência e disputa política é na democracia, mesmo na democracia burguesa, caracterizada pela representação de classe e de estratos sociais.

 

O período democrático mais longo da nossa história foi vivido de 1985 até 2016, quando um novo golpe, com uma nova forma, foi dado, abrindo possibilidades de supressão das liberdades democráticas dentro de um jogo de cartas marcadas.

 

Estamos diante de um novo quadro de interrupção da experiência democrática e o Brasil segue no seu caminho de um país frágil politicamente. Enquanto deveríamos estar lutando por qualidade de vida, voltamos à defesa da democracia. Eis uma causa do nosso atraso econômico e nossa extrema desigualdade social.

 

A esquerda brasileira ainda não teve tempo de mostrar e consolidar um projeto de mudança e transformação social. Continua buscando se firmar na disputa política e na identidade de classe, papel difícil num estado autoritário.

 

Vi nas mídias sociais uma tentativa oportunista de tentar vincular a análise de Safatle a atuação do PT como maior partido de esquerda do país. Não me estranhou, pois a direita respira por vários aparelhos e a todo momento tenta tirar do jogo ou desqualificar seu principal opositor. Para os inimigos da democracia o PT é um inimigo a ser combatido e morto. E tem gente que diz jogar no campo da esquerda para melhor atuar no fortalecimento e na manutenção das estruturas existentes.

 

A crítica sempre terá a função de construir, mesmo quando vem devastadora. Não cabe a instrumentalização oportunista da análise do Vladimir Safatle para fortalecer a direita.

 

*Lúcio Carril é sociólogo e especialista em gestão e políticas públicas pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

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