Disseminação dos humanos pelas Américas desempenhou um papel significativo e direto na extinção de grandes mamíferos
Há muito tempo, a América do Sul foi o lar de ancestrais do tatu-canastra. Cerca de 20.000 anos atrás, esses mamíferos com placas protetoras, conhecidos como Glyptodontes, perambulavam pela região que hoje é a Argentina. Esses tatus gigantes tinham uma grande variação de tamanho, pesando entre 300 e 1800 quilos e medindo entre 1,6 e 3,3 metros
Há cerca de 6.000 a 7.000 anos os Glyptodontes foram extintos, mas antes de desaparecerem, serviram como fonte de alimento para os humanos primitivos. Recentemente, marcas de corte encontradas em fósseis de Glyptodon indicam que os primeiros humanos caçavam e comiam esses animais robustos. Os achados foram descritos em um estudo publicado no periódico de acesso aberto PLOS ONE.
O momento exato em que os primeiros humanos evoluíram nas Américas tem sido objeto de intenso debate desde pelo menos o século XIX. Miguel Eduardo Delgado, coautor de um estudo recente e arqueólogo da Universidade Nacional de La Plata, em Buenos Aires, explicou que até pouco tempo atrás, o modelo tradicional indicava que os humanos chegaram ao continente há cerca de 16.000 anos.
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Contudo, descobertas mais recentes, como as Pegadas de White Sands, sugerem uma presença humana nas Américas há mais de 20.000 anos. Na região que hoje corresponde à Argentina, os primeiros caçadores-coletores estiveram presentes durante o Último Máximo Glacial (LGM), que ocorreu entre 29.000 e 19.000 anos atrás.
Segundo Delgado, “Como o LGM foi um período em que predominaram ambientes frios e secos, esse fato implica que os humanos se adaptaram com sucesso aos ambientes hostis que caracterizam tal período.”
A disseminação dos humanos pelas Américas desempenhou um papel significativo e direto na extinção de grandes mamíferos, como os Gliptodontes. Essa megafauna, que também incluía mastodontes, mamutes, enormes preguiças-terrestres e castores gigantes, desapareceu no final da Época Pleistocena, cerca de 11.700 anos atrás, ao término da última Era Glacial.
Na América do Norte, a extinção foi particularmente dramática, com cerca de 32 gêneros de grandes mamíferos desaparecendo em um período de 2.000 anos. No entanto, na América do Sul, a escassez de evidências arqueológicas sobre os primeiros humanos e suas interações com os animais tem dificultado diretamente o estudo desse período.
A equipe encontrou os fósseis nas margens do Rio Reconquista, localizado no nordeste da região pampeana na Argentina. Os ossos apresentaram evidências claras de açougue, incluindo marcas de corte em partes da cauda, ??pélvis e armadura corporal do animal. Essas marcas eram consistentes com aquelas feitas por ferramentas de pedra, conforme análise demonstrada pela estatística realizada pelos pesquisadores.
A localização das marcas de corte também corresponde a uma sequência de abate bem conhecida, que tem como alvo áreas do corpo com carne densa e suculenta. Segundo a equipe, os fósseis têm aproximadamente 21.000 anos, sendo quase 6.000 anos mais antigos do que outras evidências arqueológicas anteriormente conhecidas no sul da América do Sul.
Essas descobertas reforçam a ideia de uma presença humana primitiva nas Américas há mais de 20.000 anos, alinhando-se com outras evidências que indicam que os primeiros humanos chegaram ao continente muito antes do que foi mencionado anteriormente.
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“Nossos resultados em conjunto com outras evidências que foram encontradas no leste da América do Sul (Brasil), mas também na América do Norte (Canadá e Estados Unidos) e na América Central (México) propõem um cenário distinto para o primeiro povoamento humano do continente americano […] A data mais provável para a primeira entrada humana ocorreu entre 21.000 e 25.000 anos atrás ou até antes. A interação entre humanos e megafauna no sul da América do Sul ocorreu muito antes do que pensávamos”, diz Delgado.
Fonte: Metrópoles