20 de Maio de 2024 - Ano 10
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24/03/2024

Quem são Chiquinho e Domingos Brazão, irmãos presos pela Polícia Federal suspeitos de serem mandantes da morte de Marielle

Foto: Reprodução

Delação do ex-PM Ronnie Lessa, que está preso desde março de 2019, cita os irmãos e levou a polícia a responder quem mandou matar Marielle

Apontado na delação do ex-PM Ronnie Lessa como mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco — ocorrido em março de 2018 e que vitimou também o motorista Anderson Gomes — o deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil), irmão do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Domingos Brazão, exerceu o cargo de secretário municipal de Ação Comunitária da prefeitura do Rio até fevereiro deste ano, quando pediu exoneração após surgirem os primeiros rumores sobre sua possível participação no crime. Chiquinho e Domingos foram presos hoje pela PF.

 

Chiquinho ficou apenas quatro meses à frente da pasta antes de reassumir seu mandato na Câmara dos Deputados, em Brasília. O fato de ele ter o mandato de deputado federal seria a motivação para que a delação de Lessa tenha sido enviada para o Supremo Tribunal Federal (STF), onde foi homologada nesta terça-feira.


Antes, o trâmite do caso era no Superior Tribunal de Justiça (STJ), já que na delação do também ex-PM Élcio de Queiroz, preso em 2018 suspeito de envolvimento no crime, já havia surgido o nome de Domingos Brazão, de 59 anos, que possui a prerrogativa de foro por ser conselheiro do TCE. Domingos também é apontado pelo crime na delação de Lessa.

 

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Eleita vereadora do Rio em 2016, com 46 mil votos (5ª candidata mais votada), Marielle Franco (PSOL) teve o mandato interrompido por 13 tiros na noite de 14 de março de 2018, num atentado que vitimou também seu motorista Anderson Gomes — Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

 

Aos 62 anos, Chiquinho Brazão foi eleito vereador do Rio pela primeira vez em 2004 sendo reeleito em 2008, 2012 e 2016, num total de quatro mandatos consecutivos no Legislativo Municipal. Nesta última passagem pelo Palácio Pedro Ernesto, o mandato de Chiquinho coincidiu com o de Marielle Franco, de 2017 (início da legislatura) até seu assassinato, em março de 2018.

 

Na Casa, Chiquinho exerceu, em meio a muita polêmica e até tumultos no plenário, a presidência da CPI dos Ônibus, convocada para investigar supostas irregularidades no transporte coletivo da cidade. A CPI terminou sem maiores consequências. Em 2018, Chiquinho Brazão foi eleito deputado federal, tendo renovado o mandato na eleição de 2022.

 

Em seu perfil no Instagram, numa publicação de 26 de fevereiro deste amo, Chiquinho destaca uma publicação sobre o Projeto de Lei nº 146/2021, de autoria dele, que prevê o uso de tornozeleira por homens que agredirem mulheres.

 

Os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão convivem há tempos com polêmicas e denúncias em torno de suas atividades político-empresariais no Rio. Ao longo de seus 25 anos de vida pública, Domingos coleciona envolvimento em suspeitas de corrupção, fraude, improbidade administrativa, compra de votos e até homicídio.

 

A família Brazão sempre teve na Zona Oeste seu reduto eleitoral, especialmente em Jacarepaguá. Em 2011, Domingos chegou a ter o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ) por suposta compra de votos por meio do Centro de Ação Social Gente Solidária, ONG vinculada ao deputado e onde ocorreria prática de assistencialismo, de acordo com a acusação. Com liminar conseguida no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele conseguiu manter o mandato.

 

Antes, em 2004, uma gravação indicara envolvimento de Brazão e do ex-deputado Alessandro Calazans com a máfia dos combustíveis. O caso envolvia licenças ambientais da Feema para funcionamento de postos de gasolina. Em 2014, a radialista e então deputada estadual Cidinha Campos processou Domingos Brazão por ameaça. Durante uma discussão pública, Brazão teria dito que "já matou vagabundo, mas vagabunda ainda não", fazendo referência à deputada.


Eleita vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL em 2016, com 46 mil votos (a quinta candidata mais bem votada do município), Marielle Franco teve o mandato interrompido por 13 tiros na noite de 14 de março de 2018, num atentado que vitimou também seu motorista Anderson Gomes
O homicídio ao qual Brazão fez referência teria ocorrido quando ele era jovem. Segundo o ex-deputado, ele foi absolvido porque o caso foi entendido como legítima defesa. "Matei, sim, uma pessoa. Mas isso tem mais de 30 anos, quando eu tinha 22 anos. Foi um marginal que tinha ido a minha rua, em minha casa, no dia do meu aniversário, afrontar a mim e a minha família. A Justiça me deu razão", contou Brazão à época da briga com Cidinha Campos e numa entrevista ao GLOBO.

 

Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) Domingos Brazão — Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

 

QUEM MANDOU MATAR MARIELLE?


A Polícia Federal deflagra uma operação neste domingo para cumprir mandados de prisão contra os supostos mandantes dos homicídios da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Entre os alvos da ação, estão o deputado federal Chiquinho Brazão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Domingos Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa, que chefiou a Polícia Civil do Rio.

 

As primeiras associações da família Brazão ao caso vieram à tona ainda em 2019, quando um relatório da Polícia Federal (PF) apontou Domingos Brazão como o “principal suspeito de ser autor intelectual” dos assassinatos da vereadora e do motorista. O conselheiro do TCE sempre negou a participação no crime. Ele já havia sido denunciado pela então procuradora-geral da República Raquel Dodge, em 2019, por atrapalhar a investigação, mas a Justiça do Rio rejeitou o pedido. Seu nome passou a ser revisitado também no ano passado com a delação do também ex-PM Élcio de Queiroz, preso em 2018, suspeito de envolvimento no crime.

 

No ano passado, documentos apreendidos no apartamento de Jomar Duarte Bittencourt Junior, o Jomarzinho, em 24 de julho, revelaram vínculos dele com a família do conselheiro do TCE Domingos Brazão. Jomarzinho é apontado como um dos responsáveis pelo vazamento de informações sobre uma operação em 2019 contra envolvidos no caso. Em julho deste ano, a Polícia Federal cumpriu mandando de busca e apreensão em seu apartamento.


Em entrevista ao GLOBO, em janeiro deste ano, Domingos Brazão, ex-deputado estadual e atualmente conselheiro do TCE-RJ, afirmou que entrou na política por paixão. Antes, vendia carros e motos. Aos poucos formou uma rede com 18 postos de gasolina. Atualmente, afirma que só tem posto e que passou a atuar com compra de galpões em áreas de baixo valor com o objetivo de revendê-los a grandes empresas.


Embora seja o mais novo dos irmãos, Domingos Brazão é o mais conhecido deles e tido como uma espécie de mentor do grupo. Iniciou sua carreira política como assessor na Câmara Municipal entre 1993 e 1994. Em 1997 assumiu o primeiro mandato eletivo, como vereador da cidade do Rio, mas ficou apenas dois anos no posto. Eleito deputado estadual, assumiu uma cadeira no Palácio Tiradentes em 1999 onde ficou por 17 anos. Alimentou a expectativa de ser presidente da Assembleia Legislativa (Alerj) até ser escolhido pela Casa para assumir vaga no TCE da qual ficou afastado por seis anos após a operação Quinto do Ouro, quando ele e mais quatro integrantes do tribunal foram presos acusados de corrupção. O conselheiro afirma que pretende voltar à política.

 

— Já passei por muita coisa nessa vida. Não acho que tenha inimigos. Acho que, se o Lessa inventar um mandante, só vai piorar a vida dele, porque está aumentando seus crimes. Uma delação com falhas não será homologada, será rejeitada. O STJ é criterioso nisso. Eu sei que estou dormindo bem. Meu sono é o sono dos justos. Não sou santo. Sou político. Tive meus pecados, mas nunca fora da lei — afirmou o conselheiro à época.

 

Ex-sargento da Polícia Militar Ronnie Lessa, que cumpre pena atualmente na Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul — Foto: Reprodução

 

OS EXECUTORES DO ASSASSINATO


RONNIE LESSA

 
Preso em março de 2019 pela participação nos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes. Na delação de Élcio de Queiroz, ele é apontado como autor dos disparos que mataram a vereadora e seu motorista. Lessa foi expulso da PM e condenado, em 2021, a quatro anos e meio de prisão pela ocultação das armas que teriam sido usadas no crime.

 

Élcio Queiroz fez delação premiada e apontou mais um suspeito de participar da execução de Marielle Franco e Anderson Gomes — Foto: Arquivo

 

ÉLCIO DE QUEIROZ


Élcio é ex-sargento da Polícia Militar e foi expulso da corporação em 2015. Na delação, afirmou que dirigia o carro que perseguiu o veículo onde estavam a vereadora e seu motorista, além da assessora Fernanda Chaves, que sobreviveu ao atentado.


Está preso desde 2019 e fez a delação premiada na qual apontou a participação de mais uma pessoa, o ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, o Suel, nas mortes de Marielle e Anderson.

 

Edimilson Oliveira, o Macalé, foi executado em  Bangu, em 2021 — Foto: Reprodução

 

EDIMILSON OLIVEIRA, O MACALÉ


Apontado pela delação premiada do ex-PM Élcio de Queiroz — num acordo firmado em 2023 — como intermediário da contratação de Ronnie Lessa para o crime. Ele também teria participado das "campanas" feitas para vigiar os passos de Marielle na preparação para o crime.

 

Macalé foi executado a tiros em novembro de 2021, aos 54 anos. Ele caminhava para o veículo com gaiolas, já que levava seu curió para um evento de amantes de pássaros. Antes disso, foi citado em inquéritos relacionados ao jogo do bicho, aparecendo como integrante da equipe de segurança de Bernardo Bello e apontado como um dos braços direitos do bicheiro.

 

Envolvido na morte de Marielle, o bombeiro Maxwell Corrêa, o Suel, chega preso à PF — Foto: Gabriel de Paiva

 

TENTATIVA FRUSTRADA DE MATAR VEREADORA

 

MAXWELL SIMÕES CORREA, O SUEL

 

Ex-sargento do Corpo de Bombeiros, Maxwell Simões Correa, também conhecido como Suel, foi apontado como cúmplice de Lessa, e é acusado de ter cedido um carro para a quadrilha, esconder as armas após o crime e auxiliar no descarte delas.

 

Segundo Queiroz, ele também participou da tentativa de matar a vereadora no fim de 2017. Naquela ocasião, Maxwell, que estava dirigindo, não teria conseguido emparelhar com o táxi onde estava Marielle na hora que Lessa mandou. Suel alegou que deu um problema no veículo, mas Lessa teria dito a Élcio que "não acreditava que teve problema, que foi medo, refugou”, segundo consta na delação.

 

Ele também teria ajudado a monitorar os passos de Marielle e participado da troca de placas do veículo Cobalt e providenciado seu desmanche.

 

Suel foi preso no dia 24 de julho do ano passado, durante a Operação Élpis, deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público do Rio.

 

Edilson Barbosa dos Santos, vulgo Orelha, acusado de desmanchar o Cobalt usado na emboscada à Marielle Franco — Foto: Reprodução

 

EDILSON BARBOSA, O ORELHA


Edilson Barbosa dos Santos, o Orelha, foi apontado como dono do ferro-velho que desmanchou o Cobalt prata, usado no assassinato. Segundo a denúncia da Força-Tarefa do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado para o caso Marielle Franco e Anderson Gomes (Gaeco/FTMA), o Cobalt foi levado até Edilson no dia 16 de março de 2018, dois dias após o crime. Conforme os promotores, o dono do ferro-velho "embaraçou a investigação", uma vez que deu sumiço ao veículo usado no homicídio. Ele foi preso no fim de fevereiro deste ano.


Outras quatro pessoas também foram presas em desdobramentos do caso nos últimos anos, e depois foram soltas. Em 2019, alvos da Operação Submersus, Elaine de Figueiredo Lessa (mulher de Lessa), Bruno Figueiredo (cunhado de Lessa, irmão de Elaine) e os supostos cúmplices do ex-policial foram presos preventivamente.

 

Ela era suspeita de comandar as ações para sumir com as armas do marido e apagar vestígios da quadrilha, enquanto seu irmão teria ajudado na empreitada. Os outros alvos dessa operação foram José Márcio Mantovano, o Márcio Gordo, flagrado retirando uma caixa — supostamente com armas — de um apartamento de Ronnie Lessa no bairro do Pechincha, na Zona Oeste do Rio.

 

Já Josinaldo Lucas Freitas, o Djaca, teria sido o destinatário das supostas armas recolhidas por Márcio Gordo. Djaca teria ainda alugado um barco para se livrar do armamento em alto mar.

 

LUIZ CARLOS FELIPE MARTINS

 

Considerado braço direito de Adriano da Nóbrega (ex-capitão do Bope morto em 2020, numa operação policial na Bahia), o segundo-sargento Luiz Carlos Felipe Martins, conhecido como Orelha (apelido homônimo de Edilson Barbosa dos Santos, preso em fevereiro deste ano), também foi morto a tiros, em 20 de março de 2021. Homens que estavam num carro dispararam contra o PM em uma rua de Realengo, Zona Oeste carioca. Ele estava de folga.

 

HÉLIO DE PAULO FERREIRA (SENHOR DAS ARMAS)

 

Hélio de Paulo Ferreira, o Senhor das Armas, foi assassinado em 28 de fevereiro de 2023, na Rua Araticum, área disputada por milicianos e traficantes que ficou conhecida como a rua da morte, no Anil, também na Zona Oeste. Ele foi outro que chegou a ser investigado no inquérito Marielle e Anderson.

 

LUCAS DO PRADO NASCIMENTO DA SILVA (TODYNHO)

 

Lucas do Prado Nascimento da Silva sofreu uma emboscada na Avenida Brasil, na altura de Bangu, possivelmente como uma queima de arquivo. Todynho, como fico conhecido, era suspeito de ter participado da clonagem do Cobalt prata usado na execução de Marielle e Anderson. Ele teria atuado na confecção dos documentos falsos do veículo, segundo relatório de inquérito assinado pelo titular da Delegacia de Homicídios na época, Giniton Lages.

 

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Fonte: O Globo

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