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23/11/2022

Sokushinbutsu: a antiga prática budista da automumificação

Foto: Reprodução

Quem utiliza o TikTok com frequência, já deve ter se deparado com os vídeos de Luang Pho Yai, um monge budista tailandês que viralizou devido ao seu estado físico extremamente frágil, gerando diversas alegações falsas, como que ele seria uma mulher de 399 anos ou um adepto do Sokushinbutsu, a prática budista de automumificação.

 

Foram tantos boatos circulando pela internet, que vários sites decidiram investigar os fatos, desmentindo os rumores mencionados acima sobre o gentil monge, que faleceu em 22 de março aos 109 anos.

 

E embora Luang Pho Yai não praticasse a arte de mumificação em vida, ela não deixa de ser um evento real que marcou a história do Japão.

 

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SOKUSHINBUTSU: A AUTOMUMIFICAÇÃO EM BUSCA DA ILUMINAÇÃO

 

Pintura de Kobo Daishi feita no século XIV. (Fonte: Art Institute of Chicago/Reprodução)

 

Entre o período de 1081 a 1903, os monges da escola de budismo Shingon, na província japonesa de Yamagata, decidiram realizar a arte da mumificação em vida para atingir a iluminação suprema. A prática ficou conhecida como Sokushinbutsu, ou o ato de se tornar “um Buda neste corpo”.

 

A ideia surgiu de uma hagiografia do século XI sobre Kobo Daishi, o fundador da escola, que afirmava que o monge não tinha falecido, mas sim entrado em nyujo - um estado meditativo tão profundo que levava à animação suspensa. De acordo com os escritos, a figura religiosa iria retornar em cerca de 5,67 milhões anos, para então conduzir um determinado número de almas ao Nirvana.

 

Embora a primeira tentativa realizada em 1081 por um homem chamado Shojin não tenha sido bem-sucedida, acredita-se que 17 a 30 asseclas Shingon tenham conseguido o feito, com quase dois séculos de tentativa e erro aperfeiçoando a receita ideal para mumificar a si mesmo e atingir o estado de meditação eterna.

 

OS PASSOS PARA A MUMIFICAÇÃO EM VIDA

 

Grãos permitidos na dieta para o Sokushinbutsu. (Fonte: Província de Yamagata/Reprodução)

 

O processo era longo e árduo, voltado para se desidratar de dentro para fora, acabando com qualquer gordura, músculos ou umidade corporal antes de ser finalmente enterrado e deixado para meditar eternamente.

 

Para isso, os monges adotaram o mokujikigyo, uma dieta rigorosa que pode ser traduzida literalmente como "treinamento para comer árvores", que envolvia se alimentar por mil dias de agulhas de pinheiro, nozes, raízes, brotos de árvores e até pedras encontradas nas montanhas, enquanto viviam em completa solidão.

 

Esse regime foi concebido para distanciar os praticantes do mundo humano comum, endurecendo seu espírito e os conduzindo ao nyujo. A dificuldade era tão extrema que alguns asseclas chegaram a passar dez a onze anos se preparando para essa primeira fase, afinal, eles só tinham uma chance de realizar a automumificação, e qualquer erro poderia levar a decomposição do corpo após o enterro, o que significava uma falha em atingir o Sokushinbutsu.

 

Após completarem essa dieta que deveria durar aproximadamente três anos, o próximo passo era cortar qualquer tipo de alimento, sobrevivendo apenas de água salgada por seus últimos cem dias no plano terrestre, um feito espetacular para qualquer um, mas especialmente para homens idosos.

 

Quando seus corpos estivessem começando a morrer, era a hora de consumir um chá feito com a casca de uma árvore que possui as mesmas toxinas da hera venenosa, evitando assim se tornarem hospedeiros viáveis para bactérias e parasitas, sendo depois enterrados em um caixão de pinho em um buraco de três metros e coberto com carvão, com apenas um canudo de bambu para garantir que pudessem respirar enquanto eram deixados ali para se tornarem Budas.

 

COMPROVANDO O SUCESSO DA AUTOMUMIFICAÇÃO

 

Templo que abriga o corpo de Bukkai, o último monge a realizar o Sokushinbutsu em 1903. (Fonte: Jakub Halun/Reprodução)

Fotos: Reprodução

 

Como mencionado, era muito complexo encontrar o equilíbrio ideal para atingir o Sokushinbutsu. Ser enterrado cedo demais significava ainda ter umidade corporal que dificultaria a mumificação, que já não era nada fácil considerando o clima do Japão. Porém, esperar por muito tempo também não era viável, causando o risco de morte por desnutrição ou qualquer doença que pudesse acometer seus corpos fragilizados.

 

A comprovação que o processo foi bem-sucedido vinha mil dias depois, quando o monge era exumado — e caso não houvesse sinais de decomposição — ele era finalmente consagrado por alcançar o estado de imortalidade.

 

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As múmias eram então levadas para um templo budista, no qual muitas, como Bukkai — o último religioso a realizar a prática ilegalmente em 1903, após ela passar a ser considerada oficialmente um costume ultrapassado em 1877 — permanecem em exposição até hoje, reverenciadas e tratadas com todo respeito por seus cuidadores.

 

Fonte: Mega Curioso

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