Tanques israelenses cercaram o hospital Al-Shifa, o maior de Gaza, nesta terça-feira, após dias de bombardeios e combates nos arredores do que se tornou o epicentro do conflito iniciado no mês passado — uma nova escalada de tensão, em um momento que a comunidade internacional pressiona o governo de Israel para evitar uma tragédia humanitária ainda maior.
Testemunhas ouvidas pela agência de notícias AFP afirmam que tanques e veículos armados estão nas entradas do complexo médico, que de acordo com as autoridades de saúde de Gaza já não funciona como um hospital.
A ONU estima que um número de até 10 mil pessoas, entre pacientes, funcionários e deslocados, que não conseguem deixar o local devido aso combates, estejam no hospital.
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Foto:Reprodução
O Al-Shifa, bem como outros hospitais de Gaza, são alvo de ações israelenses desde o começo da guerra. De acordo com o governo, o Hamas teria aproveitado os anos a frente do enclave para construir uma infraestrutura subterrânea, chamada por analistas de "metrô de Gaza", que inclui centros de comando, túneis de ataque, depósitos de armas e bases de lançamento de foguetes. Israel diz que uma dessas centrais está embaixo do hospital, acusando o grupo terrorista de usar seus civis como escudo.
O Hamas e a administração do hospital Al-Shifa tem negado recorrentemente a acusação israelense, argumentando que o Estado judeu utiliza a narrativa como pretexto para justificar ataques indiscriminados contra civis.
De acordo com o diretor do Hospital, Mohamad Abu Salmiya, ao menos 179 corpos foram enterrados nesta terça-feira em uma "vala comum", incluindo sete bebês prematuros que morreram devido à falta de energia elétrica.
— Vimo-nos obrigados a enterrá-los em uma vala comum — disse Abu Salmiya. — Há cadáveres espalhados pelos corredores do complexo hospitalar e as áreas refrigeradas do necrotério não têm energia elétrica.
Um jornalista que colabora com a AFP e está no complexo hospitalar afirmou que o odor dos cadáveres em decomposição é insuportável.
Com a falta de água, alimentos e energia sufocando o que restou do hospital, mesmo aliados de primeira ordem de Israel pedem que algum tipo de trégua seja concedida às infraestruturas civis.
Na segunda-feira, o presidente dos EUA, Joe Biden, fez um apelo para Israel adotar "ações menos intrusivas" no Al-Shifa, insistindo que o hospital deveria ser protegido.
— Minha esperança e expectativa é que haja ações menos intrusivas em relação aos hospitais — disse Biden a repórteres na Casa Branca, na segunda, acrescentando que as unidades médicas "devem ser poupadas".
Diante das pressões internacionais, Israel vem reforçando sua campanha narrativa sobre o uso das unidades de saúde como cobertura pelo Hamas.
Intensificou-se a publicação de vídeos pelas redes sociais das Forças Armadas, nos últimos dias, em referência a elementos que comprovariam a atividade terrorista nas unidades de saúde. Em um vídeo publicado na segunda-feira, os militares apontam que um homem com um lançador de granadas ao lado do hospital al-Quds.
Embora Israel afirme que sua linha narrativa está apoiada em informações de inteligência, a pressão internacional cresce a medida que o número de vítimas também aumenta. Em Gaza, o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas afirma que 11,2 mil pessoas, incluindo 4.630 menores de idade, morreram.
What could these Hamas terrorists possibly be doing with an RPG at the Quds Hospital? pic.twitter.com/Ajpnz0Hf4Q
— Israel Defense Forces (@IDF) November 13, 2023
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O ministro israelense das Relações Exteriores, Eli Cohen, afirmou na segunda-feira que o país ainda dispõe de "duas ou três semanas" até que a pressão internacional aumente realmente, mas que sua pasta está "trabalhando para ampliar a janela de legitimidade".
Fonte:O Globo