Julgamento de Bolsonaro: primeiro dia de audiência na Primeira Turma do STF
O marco zero das operações foi uma reunião convocada às pressas para a sede da PRF em Brasília, em 19 de outubro, pouco mais de duas semanas após o primeiro turno e a nove dias da disputa final entre Lula e o então candidato à reeleição Jair Bolsonaro.
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A reunião, que é um dos pontos-chave da denúncia assinada por Paulo Gonet, foi realizada na sessão extraordinária do Conselho Superior da PRF, onde o plano da "Operação Eleições 2022" foi repassado por Silvinei Vasques a todos os superintendentes da PRF.
Diferentemente do que costumava ser feito nessas reuniões, que admitiam a participação virtual dos superintendentes, nesta ocasião foi exigida a presença física, para evitar gravações e registros do que estava sendo dito. Antes de a reunião começar, celulares foram recolhidos, e a discussão sobre a ação no dia das eleições não constou na ata do encontro, que também não constou da agenda de Vasques.
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A ata que existe, e foi obtida pela equipe do blog via Lei de Acesso à Informação (LAI) em dezembro de 2022, indica a participação de 44 dos 49 integrantes do colegiado, entre diretores e superintendentes da PRF nos estados, e informa apenas a discussão de temas triviais, como o treinamento físico institucional da PRF e o cálculo das escalas de serviço em situações excepcionais.
No entanto, cinco dos participantes da reunião confirmaram à equipe da coluna que as operações foram o principal tema daquele dia.Na entrada do auditório, os participantes precisaram entregar celulares e relógios a dois agentes do setor de inteligência da polícia para evitar que a discussão fosse gravada. Segundo a equipe da coluna apurou à época, essa era uma tática comum na gestão de Vasques. A ausência de participantes virtuais e o confisco dos aparelhos inviabilizou qualquer tentativa de registro do encontro.
A então diretora de inteligência da pasta Marília Alencar confirmou à Polícia Federal ter fornecido à PRF um mapeamento das cidades em que Lula teve desempenho superior ao de Bolsonaro no primeiro turno.
Sob a condição de anonimato, agentes da PRF com experiência na área operacional afirmaram que, além de ser atípico antecipar locais de fiscalização em documentos públicos, a própria decisão de onde colocar os bloqueios seria uma atribuição das áreas operacionais nos estados e não da cúpula da instituição.
A ordem de serviço assinada por Vasques e a informação de que o esquema da operação eleições seria diferente dos outros anos provocaram reclamações de partidos da coligação de Lula ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ao Supremo Tribunal Federal (STF), como o PT e o PSB. Atendendo a um pedido do então deputado petista Paulo Teixeira (SP), que viria a se tornar ministro de Lula, o presidente do TSE na ocasião, Alexandre de Moraes, proibiu as duas corporações de realizar qualquer força-tarefa visando o transporte de eleitores até a conclusão da votação.
Fotos: Reprodução
Já na madrugada de domingo, Silvinei Vasques afrontou a decisão do TSE e manteve a ordem de serviço que determinava a realização das operações com efetivo reforçado em redutos lulistas. Às 2h43m da madrugada, o aliado de Bolsonaro assinou, sozinho, um ofício aos superintendentes informando que o planejamento estava mantido a despeito da ordem da corte.
No documento, o então diretor-geral sustentou que as operações programadas estavam em “estreito alinhamento com os objetivos previstos na decisão” do TSE. Como se sabe, a tese não parou de pé. No início da tarde de domingo, transcorridas cinco horas de votação com bloqueios da PRF em vários estados do país, Moraes intimou Vasques a interromper as operações imediatamente.
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A intimação foi acatada pela polícia, mas aumentou a tensão em um segundo turno avaliado como imprevisível pelas duas campanhas presidenciais. Ao final, Lula venceria Bolsonaro com a margem mais estreita desde a redemocratização (2,1 milhões de votos, ou 1,8% dos votos válidos). Na véspera da votação, Vasques usou seu perfil oficial no Instagram para se manifestar sobre as eleições na noite de sábado. “Vote 22. Bolsonaro presidente”, escreveu o então diretor-geral da PRF sobre a imagem de uma bandeira do Brasil em referência ao número do partido de Bolsonaro, o PL.
Fonte: R7