26 de Abril de 2024 - Ano 10
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Internacional
16/07/2021

Trump avisou a general que protesto que levou à invasão do Capitólio seria 'selvagem'

Foto: Reprodução

Chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, Mark Milley, temia confrontos nas ruas entre partidários do então presidente e opositores, segundo relatos de três livros que narram os últimos meses de Trump na Casa Branca

Três dias antes do comício que serviu como estopim para a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro, o então presidente Donald Trump perguntou ao chefe do Estado-Maior Conjunto, general Mark Milley, e então ao secretário interino de Defesa, Christopher Miller, se estavam preparados para o que o republicano descreveu como "protesto selvagem" que ocorreria na capital americana.

 

— Vai ser algo grande. Vocês estão preparados para isso, certo? — perguntou Trump, de acordo com o relato de Milley.

 

O militar temia que confrontos tomassem as ruas de Washington, envolvendo defensores da falsa ideia de que o republicano teve a reeleição arrancada de suas mãos por uma fraude generalizada, e grupos de oposição. Para Milley, este poderia ser o pretexto que Trump buscava para decretar lei marcial e travar o processo de transição nos EUA.

 

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O relato de Milley e de dezenas de pessoas que acompanharam os eventos daquele 6 de janeiro estão detalhados em dois livros sobre os momentos finais do governo Trump, "I alone can fix it" ("Só eu posso consertar isso: o catastrófico ano final de Donald J. Trump"), dos jornalistas do Washington Post Carol Leonnig e Philip Rucker, e "Frankly, we did win this election’: the inside story of how Trump lost" ("Francamente, eu venci a eleição: a história dos bastidores de como Trumo perdeu"), de Michael Bender, do Wall Street Journal. Uma terceira obra, de Susan Glasser, da New Yorker, e Peter Barker, do New York Times, será lançada no ano que vem.

 

Nos trechos divulgados antecipadamente, Mark Milley, militar com longa carreira nas Forças Armadas e que continua na chefia do Estado-Maior, é apontado como elemento moderador dentro de um governo onde a estabilidade nunca foi palavra do dia. Antecipando problemas depois da tumultuada eleição de novembro, com Trump atacando as instituições e incitando seus apoiadores, estabeleceu quatro objetivos: evitar guerras no exterior; evitar que militares fossem usados nas ruas dos EUA contra a população americana, para manter Trump no poder; manter a integridade dos militares; e, por fim, manter a própria integridade.

 

Milley via em Trump um líder autoritário clássico, como apontam Leonnig e Rucker em seu livro. E o discurso sobre a fraude era, para ele, um “momento Reichstag”, referência ao incêndio do Parlamento alemão, em 1933, que antecedeu a chegada de Adolf Hitler ao poder. A criação de uma crise e a imagem de salvador nacional em torno de um líder eram similares nos dois casos, na visão do general.

 

Para evitar uma crise sem precedentes na história recente dos EUA, Milley se encontrou diversas vezes com os chefes das Forças Armadas, pedindo que não seguissem ordens de Trump sem que ele fosse consultado primeiro. Glasser faz um paralelo com ações similares tomadas por James Schlesinger, secretário de Defesa de Richard Nixon (1969-1974), nos últimos dias do republicano no poder: ele deu a ordem para que qualquer disparo de armas nucleares tivesse o aval ou dele ou do conselheiro de segurança nacional, Henry Kissinger.

 

Também mantinha contato com integrtantes do alto escalão do governo, do Legislativo e dos próprios comandos militares, neste caso para evitar qualquer tentativa de Trump para usá-los como ferramenta para se manter no cargo.

 

— Nossa lealdade é à Constituição dos EUA. Não vamos nos envolver em política — diizia Milley, segundo Glasser.

 

Ao comentar as revelações dos livros sobre os temores de Milley, Trump rejeitou as acusações e disse que "se fosse dar um golpe, não seria com Milley".

 

Guerra contra o Irã


Outra pauta na agenda de preocupações de Mark Milley era a possibilidade de uma guerra antes da saída de Donald Trump do poder, e o alvo já estava certo: o Irã. Durante os quatro anos de mandato, o republicano rasgou um acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano, retomando uma política agressiva de sanções que por pouco não levou a conflitos armados no Golfo Pérsico.

 

Com Biden no poder, a expectativa era de apaziguamento e de negociações para a retomada do acordo, que impunha limites às atividades nucleares iranianas em troca do fim das sanções, algo inaceitável para o republicano e alguns de seus aliados na região, como o ex-premier israelense, Benjamin Netanyahu.

 

Mesmo antes da derrota nas urnas, integrantes do governo, incluindo o vice-presidente, Mike Pence, defendiam um ataque contra instalações nucleares iranianas, em uma tentativa de impedir que o país não conseguisse obter armas atômicas — um ponto que estava pacificado até a saída dos EUA do acordo nuclear. Trump, como revela Glasser, queria apenas bombardear o Irã, e não um conflito de grande escala, mas Milley foi enfático ao dizer que uma coisa necessariamente levaria à outra.

 

— Se você fizer isso, teremos uma porra de uma guerra — disse em uma reunião.

 

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No dia 3 de janeiro, na mesma reunião em que Trump falou do comício no Capitólio, ouviu não apenas de Milley, mas de seus aliados próximos, como o secretário de Estado, Mike Pompeo, que uma ação militar nos moldes desejados pelo presidente já não era possível. Depois de ouvir um relato sobre as consequências humanas e financeiras de uma guerra, Trump desistiu. Aquela foi a última vez em que o então presidente e Mark Milley conversaram. 

 

Fonte: O Globo 

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