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21/04/2024

Um casamento sem sexo pode ser bem-sucedido?

Foto: Reprodução

Especialistas e casais estão desafiando a sabedoria convencional de que o sexo é essencial para os relacionamentos

As atitudes culturais sobre o papel que o sexo desempenha no casamento evoluíram bastante ao longo do tempo. Enquanto antes essa atividade conjugal era principalmente um meio de gerar filhos, nas últimas décadas a constatação convencional que a prática frequente era essencial para uma união feliz se consolidou quase como uma verdade absoluta.

 

Esse pensamento surgiu quando uma nova onda de positividade sexual nos anos 1990 coincidiu com a ascensão de diferentes formas de terapia, incluindo o aconselhamento de casais. Os especialistas orientavam os casais sobre como fortalecer os seus casamentos, muitas vezes confiando na crença de que relacionamentos saudáveis ??incluíam a prática de sexo constante com os parceiros. Na década de 2010, agendar momentos de intimidade passou a ser visto, de forma um tanto implícita, como uma forma de se proteger contra a separação.

 

Nos anos mais recentes, no entanto, tanto os especialistas em relações como os próprios casais têm gradualmente desconstruído algumas dessas opiniões comumente defendidas, trabalhando para desestigmatizar as abordagens não convencionais que alguns adotam para permanecerem juntos.

 

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Sharon Hyman, que dirige um grupo no Facebook para casais que optaram por viver separados, afirma que muitos dos membros dessa comunidade acham que as suas vidas sexuais melhoram quando não passam cada minuto juntos. — Meu objetivo é mostrar que existem opções saudáveis ??de relacionamento. Nenhum formato de relação serve para todos — ressalta Hyman.

 

De fato, um dos efeitos do clima sexual em constante mudança é que muitos casais hoje estão simplesmente menos dispostos a tolerar o que a psicoterapeuta Esther Perel chama de “tédio” no quarto. Segundo a especialista a superexposição doméstica evidentemente prejudica o erotismo, que comumente requer certa intriga, mistério e desconhecimento. Isso não quer dizer que o amor e o desejo a longo prazo sejam impossíveis, mas, de acordo com Perel, manter vivo o interesse sexual exige ser criativo.

 

Já a educadora e pesquisadora Emily Nagoski resiste diretamente à ideia de que o sexo frequente deve ser um componente principal de todo relacionamento sério. Nagoski, não endossa o sexo obrigatório, nem incentiva a busca por qualquer linha de base sexual em termos de regularidade ou comportamento. Baseando se no trabalho da sexóloga canadense Peggy Kleinplatz, Nagoski acredita que o baixo desejo às vezes pode ser evidência de bom senso. — Não é disfuncional não querer sexo se você não gosta — adverte Nagoski.

 

A opção de uma vida a dois sem sexo é experimentada por casais como Will e Rose, que se conheceram há 10 anos pela internet e estão juntos até hoje. Rose ficou atraída pelo quão estável Will parecia, tão diferente dos outros homens com quem ela namorou, que temiam compromissos. O relacionamento deles sobreviveu a várias mudanças, incluindo cerca de um ano de namoro à distância, e aos desafios de encontrar tempo para ficarem juntos enquanto moravam com os pais e colegas de quarto. Agora, sete anos depois de casados, eles têm seu próprio lugar: um apartamento de um quarto em Los Angeles, onde Rose atende clientes de Pilates. Will sai durante o dia e à noite eles ficam abraçados na cama e assistem televisão.

 

Por mais que Will seja um bom parceiro para ela, Rose sente que a calma de seu relacionamento também a restringe sexualmente, mas intimidade não lhes falta. Os dois têm uma política de nunca recusar um abraço, algo que instituíram para resolver as pequenas divergências que inevitavelmente surgem em qualquer relacionamento.

 

Eles também falaram abertamente sobre como, para ela, a previsibilidade segura do casamento deles – aspecto que ela adora na vida deles juntos – entorpece seu desejo sexual. Ela sabe que isso pode ser confuso e até frustrante para Will, mas não gosta da ideia de se forçar a fazer sexo.

 

Para entrar no clima, ela depende de uma série de rituais para ajudar a criar expectativa, como fazer o cabelo e a maquiagem, depilar as pernas, tomar uma taça de vinho durante o jantar ou, quando a agenda permitir, sair de férias para fugir da rotina. Will não precisa fazer nada para se sentir pronto, e Rose vê isso como outra forma de eles serem diferentes. Ao longo dos anos, eles aceitaram que deve será a vida deles, se quiserem permanecer juntos.

 

Durante a pandemia, o casal ficou mais de um ano sem fazer sexo, mas saboreou o tempo extra juntos. Rose costumava passar horas dirigindo no trânsito para diferentes estúdios de ginástica, chegando tarde em casa e sem ver muito o marido. Presos em casa, eles passeavam pela vizinhança e conversavam constantemente.

 

Will aprecia essas oportunidades pequenas de conexão. Às vezes eles tomam banho juntos e se abraçam nus, sem nenhuma expectativa. Embora ele continue esperançoso de que esses momentos levem a outra coisa, não insiste.

 

POR QUE AS PESSOAS TÊM FEITO MENOS SEXO?

 

Preso em um casamento sem sexo? Vamos conversar a respeito disso -  MundoPsicologos.com

 

De fato, os americanos em geral têm nos dias de hoje menos relações sexuais do que antes, independentemente da raça, do gênero, da região, do nível educacional e da situação profissional. Uma pesquisa descobriu que os adultos estadunidenses nascidos na década de 1990 fazem menos sexo do que as gerações mais velhas: eles têm menos parcerias estáveis, ??e aqueles que têm parceiros também transam com menos frequência.


Outro estudo, publicado por pesquisadores da Universidade de Chicago em 2021, descobriu que cerca de 50% de todos os adultos entrevistados faziam sexo uma vez por mês ou menos, com metade dessas pessoas relatando que não faziam essa atividade há um ano. Os estudiosos têm especulado sobre as razões dessa baixa por meio de análises de comportamentos, que partem desde o isolamento causado pela tecnologia até conversas culturais sobre consentimento.

 

Muitas mulheres mais jovens, por exemplo, moldadas em parte pelo movimento #MeToo, estão praticando abstinência intencional. Existem tendências no TikTok sobre ficar “sóbria de homens", uma expressão cunhada pela comediante Hope Woodard, que diz que fazer uma pausa pode ser fortalecedor para mulheres que anteriormente alteraram seus desejos para acomodar os homens.

 

Um movimento feminista que teve origem na Coreia do Sul, mas que se espalhou globalmente através das redes sociais, também defende a rejeição da gravidez, bem como do namoro, do casamento e do sexo heterossexual. Enquanto isso, os “parceiros de vida platônicos”, amigos que se comprometem a possuir uma casa e até mesmo a criar os filhos juntos, insistem que o romance e a intimidade não são necessários para uniões duradouras.

 

NOVOS TIPOS DE RELAÇÕES

 

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Enquanto alguns estão resistindo à pressão para fazer sexo, outros exploram relacionamentos poliamorosos e abertos dentro das suas relações conjugais. Dan Savage, colunista e apresentador do podcast "Savage Love", argumenta que a monogamia não é inteiramente plausível ou prazerosa para todos e critica a obsessão dos americanos em moralizar a infidelidade. Ele incentiva as pessoas casadas a serem honestas umas com as outras sobre como é difícil assumir a responsabilidade de satisfazer as necessidades sexuais e emocionais do seu parceiro durante décadas.

 

No entanto, abrir mão da monogamia também não parece ser viável para casais como Michelle e John. Eles se conheceram em uma festa em 2005 e, nos primeiros anos de relacionamento, não conseguiam tirar as mãos um do outro. Há quatro anos, porém, depois de vivenciar o que ela chama de parto “traumático”, Michelle começou a temer que a relação sexual pudesse lhe causar dor.


Ela e John não fizeram sexo durante um ano depois de se tornarem pais. Agora eles podem passar meses sem isso. Os amigos deles também parecem estar vivendo novos capítulos nas suas próprias vidas sexuais e abrindo os seus casamentos, o que suscitou conversas entre Michelle e John sobre as possibilidades de revigorar a sua vida sexual, mas nem sempre eles concordam sobre o que querem ou com o que se sentem confortáveis.

 

John sabe, porém, que fazer sexo fora do casamento é um limite para Michelle. Ela testemunhou a infidelidade destruir o relacionamento de seus pais. — Acho que há uma grande apreensão sobre a ideia de que ‘tenho uma necessidade que poderia ser resolvida em um ou dois minutos’, mas a sensação do que pode ser quebrado com isso não vale o risco — reconhece John.

 

O amor, para ambos, é muito mais do que a realização desses desejos momentâneos. Depois de quase duas décadas juntos, eles se consideram melhores amigos e “almas gêmeas”. Quando eles começaram a namorar, Michelle estava sofrendo com a perda de seu irmão, que morreu em um acidente de carro. Ela conversou com John sobre a experiência logo cedo, e eles se tornaram inseparáveis ????depois disso.

 

John costumava tentar confortar Michelle dizendo que entendia como ela se sentia, mas quando perdeu o próprio irmão em 2012, percebeu o quanto estava errado. Enquanto ele chorava, Michelle simplesmente sabia o que fazer nos momentos certos, fosse saber quando precisava oferecer um abraço ou apenas reconhecer que ele dela ao seu. Hoje, Michelle continua sendo a “peça central” de sua felicidade, confessa John.

 

Eles dividem um quarto com a filha e, embora tenham um pouco de privacidade durante o dia, estão ocupados trabalhando em casa. Agora, na maioria dos dias, Michelle se masturba pela manhã, enquanto John leva a filha para a pré-escola. Ele se masturba à noite no banheiro, enquanto assiste pornografia em seu telefone.


Para ele, é apenas uma liberação física, mas para Michelle, dar prazer a si mesma tem um propósito diferente: ela está tentando descobrir o que a faz se sentir bem. Explorar seu corpo mudado por si só elimina a culpa que ela sente quando não consegue chegar ao clímax com o marido. Ela não quer que ele pense que isso tem algo a ver com ele. — Quero chegar lá, mas não consigo — diz ela.

 

MUDANÇAS PROVOCADAS PELA MATERNIDADE

 

O Manual de Instruções de Deus Sobre Sexo e Casamento | A Igreja de Deus  Unida

 

Das mais de 30 pessoas casadas que entrevistei, muitas, como Michelle, disseram que o fato de terem se tornado pais mudou irrevogavelmente as suas vidas sexuais. Camille, que mora na Califórnia, nos Estados Unidos, sentiu que seu casamento foi o relacionamento mais sólido e afetuoso que ela já experimentou, mas confirma que se tornar mãe a distanciou de seu desejo sexual. — Parece algo que não consigo tocar, uma outra parte de mim que não sei como acessar — admite ela.

 

Outras mães começaram a ver o sexo como mais uma tarefa, outro item de sua lista de responsabilidades. Keti, mãe de uma criança neurodivergente, descobriu que o sexo com o marido se tinha tornado “robótico” à medida que começou a vê-lo como “mais uma exigência”. Seu marido estava fazendo tudo o que podia para apoiá-la, mas ela sentia a obrigação de voltar à sua antiga vida sexual, embora quisesse ficar sozinha em alguns momentos.

 

Lilien, que tem dois filhos, diz que ser mãe foi um momento decisivo para ela. Ela teve que abandonar sua carreira anterior e não sabia quem ela era ou o que queria. — Minha identidade foi totalmente transformada. Eu estava realmente confusa sobre qual era o meu valor — relembra ela. Sua história de agressão sexual também ressurgiu de forma profunda naquele momento. Ela achava que precisava ser mais cuidadosa para dar atenção aos filhos, mas sentia que não tinha capacidade de estender essa abertura física ao marido. Ela não suportava carícias suaves dele, que pareciam cócegas feitas pelas mãos de seu filho.


O marido de Lilien, Philip, nunca a pressionou para ter intimidade, pelo o que ela é grata. — O mais importante para mim foi manter um lugar onde o sexo que você faz é muito positivo, muito consensual, muito compreendido e apreciado mutuamente — reafirma ele. Cinco anos depois, Philip sabe que ainda está aceitando tudo o que a maternidade trouxe para sua vida. Recentemente, eles começaram a fazer mais sexo, cerca de uma vez a cada dois meses.

 

Outros casais, tal como Rose e Will, confessaram se sentir sexualmente desalinhados com os seus parceiros à medida que os seus desejos seguiam direções diferentes. Jean, uma mãe de 38 anos que vive na Virgínia, nos Estados Unidos, afirma que o interesse do seu marido por sexo diminuiu gradualmente ao longo dos 13 anos de casamento. Ela, por outro lado, experimentou o que chamou de “puberdade secundária” à medida que seus filhos cresceram e se tornaram menos dependentes dela.

 

Ela se sentiu “tão carregada sexualmente” que visitou o ginecologista para confirmar que não estava tendo problemas hormonais. Ela agora está tentando descobrir como lidar com o baixo desejo do marido. — Sinto que estou vivendo de cabeça para baixo a maior parte do tempo. Minhas amigas reclamam que seus maridos as agarram enquanto lavam a louça, e eu penso que adoraria me sentir desejada assim — confessa ela.

 

Outra mãe, Emily, diz que o sexo tornou-se gradualmente menos importante ao longo do seu casamento de 34 anos. Quando os filhos eram pequenos, a intimidade com o marido estagnou brevemente, mas à medida que os filhos cresceram, eles tiveram um “renascimento de uma boa vida sexual, ela conta. Agora ela tem 59 anos e passou por diversas operações resultantes de uma batalha contra o câncer, incluindo uma histerectomia e uma mastectomia. Como resultado, seu desejo diminuiu e o sexo começou a parecer sem graça.


Uma noite, na cama, cerca de 10 anos depois de ela ter iniciado um tratamento hormonal que a colocou na menopausa precoce, eles tiveram uma conversa franca sobre sua vida sexual. —Discutimos minha falta de desejo e ele disse que se eu não estou excitada, ele também não — relembra Emily. Então, eles decidiram não forçar. Ela sente que há alguma pressão cultural para que os idosos continuem suas vidas sexuais até os 80 anos, mas vê com ceticismo artigos que afirmam que manter essa prática até mais tarde na vida é saudável.

 

Emily sente que o casamento deles progrediu naturalmente: eles viveram décadas de paixão e, embora permaneçam afetuosos fora do quarto, o relacionamento deles agora transcende o sexo de muitas maneiras. — Há anos que estamos em um relacionamento assexuado. Nós nos damos muito bem, mas somos mais amigos do que amantes — reconhece ela.

 

COMPARAÇÕES NÃO SAUDÁVEIS

 

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Fotos: Reprodução

 

Apesar da insistência de que o sexo não é essencial no casamento, a maioria dos casais com quem conversei ainda monitora a frequência com que fazem sexo. Eles também parecem assombrados pelo quanto se desviam das normas percebidas. John, por exemplo, espera que ele e sua esposa consigam voltar a fazer sexo duas ou três vezes por semana, mas admite que não tem ideia de onde veio esse número.

 

Os números, acredita Nagoski, podem ser uma métrica contraproducente. É impossível ouvir tais estatísticas e não julgar o relacionamento de alguém com base nelas. — Você está se comparando, se julgando bom ou inadequado, em comparação a um monte de pessoas com quem você não está fazendo sexo — aponta Nagoski.

 

Para os casais que se avaliam em relação ao que Nagoski chama de “ficções” do sexo, ou para aqueles que se preocupam com o fato de seu relacionamento estar em risco sempre que entram no quarto ou não encontram algum número mensal, pode haver muita pressão para que o sexo seja realizado. Segundo a especialista, no entanto, é mais importante que os casais estabeleçam que tipo de sexo vale a pena ter.


Rose admite sentir o peso das expectativas da sociedade. Recentemente, ela decidiu que, como ela e Will raramente faziam sexo, ela removeria o implante anticoncepcional do braço. Durante o procedimento, a enfermeira deu a entender que havia algo errado com o casamento deles, e Rose se sentiu envergonhada. A ideia de que ela deveria viver em constante estado de excitação com o marido depois de uma década juntos é, para ela, ridícula, mas também parte de uma fachada que ela acha que muitos casais mantêm.

 

Às vezes, Will recorre a escritos budistas sobre restrições para explorar sua sexualidade. Ele afirma que a autoconsciência de sua esposa, e sua relutância em se forçar a fazer sexo, o amadureceu. Para ele, a intimidade tem menos a ver com a conclusão e mais com conexão. — Aprendi, mesmo sobre o ato sexual em si, que o final nem sempre é a melhor parte. Há prazer em todo as etapas — conclui Will.

 

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Em março, para comemorar o 40º aniversário de Rose, eles viajaram para o Havaí. Ela desligou o telefone por horas enquanto eles estavam deitados à beira-mar. Will se lembra de observar a esposa e, naquele momento, não pensar em sexo, e sim constatar o quão semelhantes eles realmente eram. Mais do que tudo, eles queriam aproveitar a vida e saborear os pequenos momentos em que podem deixar o resto do mundo desaparecer. 

 

Fonte: O Globo

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