27 de Abril de 2024 - Ano 10
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09/08/2017

Nicette Bruno fala da saudade de Paulo Goulart: ‘É um vazio horrível’

Na TV em 'Pega Pega' e de volta ao cinema em Doidas e Santas, a atriz de 84 anos diz que o espiritismo lhe dá força na vida

Nicette Bruno é a simpatia em pessoa. Alegre e bem-humorada, uma das grandes veterenas do teatro e da televisão brasileira fala com aquele mesmo jeitinho que há décadas encanta gerações de fãs.

 

A voz treme firme só treme, bem rapidamente, ao explicar o que sente desde a perda do marido, Paulo Goulart, em 2014. "É um vazio horrível", admite a atriz de 84 anos, que ficou casada por 62 e teve três filhos com ele: Bárbara Bruno, 61, Beth Goulart, 56, e Paulo Goulart Filho, 52, todos atores como os pais.

 

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"A saudade é grande. Tudo me lembra Paulo. Graças a Deus ele me deixou lembranças maravilhosas. Paulo era um homem fora de série", diz Nicette, que, espírita, encontra na fé um entendimento maior e até hoje usa sua aliança de casamento. "Não fica aquele desespero excessivo, de ficar para baixo", garante ela. "Acredito que a vida não começa no berço e não termina no túmulo. Sei que ele está seguindo a trajetória dele, a caminhada dele, como energia. Vamos esperar até o momento do reencontro", afirma Nicette, que mantém uma agenda de trabalho bem ativa.

 

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Na TV, ela é Elza, a engraçada tia de Júlio (Thiago Martins) em Pega Pega, e nos cinemas, está de volta com Doidas e Santas, filme de Paulo Thiago que estreia no próximo dia 24. O longa inspirado na crônica homônima de mesmo nome de Martha Medeiros, gira em torno de Beatriz (Maria Paula), uma terapeuta de casais que, entre outros desejos, gostaria que a mãe, Elda, fosse mais normal - a aventureira senhora frequenta rodas de samba e tem uma iguana de estimação. "Temos em comum o bom humor. Ela é uma mulher positiva, para cima, que são características da minha personalidade", explica Nicette, que elogia a colega. "Maria Paula é uma graça, talentosíssima, uma doçura", diz.

 

A senhora já foi “doida’?


(Risos) Nunca tive um momento assim. Eu sempre fui uma pessoa um pouco mais aparentemente tranquila. Só não pisem no calo de um dos meus filhos. É raro, mas todas as pessoas muito pacíficas, quando as coisas extrapolam e saem do limite... Eu tenho um temperamento. Mas tento amenizar tudo, ultrapassar os aborrecimentos. Procuro ser uma boa pessoa, mas não me façam de bobinha!

 

E quando foi santa?


Isso é difícil de ser, porque nós todos, mesmo que não queiramos, somos todos pecadores.

 

Qual foi seu último pecado?


Ah, gosto muito de comer. Às vezes, tenho que fazer um regiminho, mas não resisto. Aí vou para a cozinha e provo umas comidinhas. Então é a gula (risos).

 

Das mulheres, sempre se exige que sejam santas?

 


Maria Paula e Nicette Bruno (Foto: Bea Saboia / Divulgação )


Felizmente eu nasci numa família de mulheres com a cabeça ampla. Todos eram muito ligados à arte, à cultura. Então nunca teve isso (exigir que as mulheres fossem santas), mas sempre seguindo as normas de honestidade e integridade moral. Éramos pessoas normais. Na minha casa, minha avó materna, que era italiana, foi estudar medicina já casada e com filhos. Carreguei o Bruno de seu sobrenome no meu nome artístico por causa dela.


A senhora acha que foi uma feminista no seu tempo?


Não era feminista porque não gosto do feminismo e do machismo. Acho que cada um tem que lutar pelo seu lugar, que é importante batalhar para que a mulher seja respeitada e conquiste seu lugar. Ainda falta, mas já estamos avançando bastante. Não me acho feminista porque se você diz feminista vai contra o outro e, para mim, o que importa é o ser, a pessoa. Todo separatismo não me agrada.

 

Quando a senhora começou, como era?


Naquela época era terrível, um preconceito horroroso, por isso que eu não saía de casa sozinha. Comecei muito cedo, fui atriz profissional com 14 anos. E sempre com minha mãe do lado. Nunca ligamos muito para o que as pessoas diziam, o importante eram as atitudes para nós mesmo.

 

Também nunca tive problemas por ser atriz, por exemplo, nas escolas de meus filhos. E, com as crianças, sempre tivemos diálogos abertos. Contávamos das dificuldades da nossa profissão e com isso eles contavam as deles em seu dia a dia.

 

Passou por muitas dificuldades?


Lógico! Às vezes, você tem sucesso e, outras, não. Isso foi algo que (a atriz) Dulcina de Moraes me disse quando eu tinha 14 anos: 'filha, você vai querer mesmo seguir essa carreira? Então tenha um pensamento na cabeça. Duas paralelas vão te acompanhar na sua caminhada, o sucesso e o fracasso. Procure tirar o máximo de aprendizado do fracasso para você não deixar o sucesso te subir à cabeça.’ Isso norteou minha vida tanto profissional quanto pessoal.

 

Elza, sua personagem em Pega Pega recentemente ganhou um smartphone. Como é sua relação com a internet?


Tudo na minha vida eu procuro ter um equilíbrio. Prefiro sempre falar no telefone a usar WhatsApp, que acho uma coisa muito fria. Mas tive que aprender por necessidade ou fico para trás.


Assim como Elza, que é muito focada no sobrinho, a senhora também é apegada à família?

 


Nicette Bruno e Marcelo Serrado (Foto: Globo / João Miguel Junior)


É verdade, sou apegadíssima à minha família. São três filhos, oito netos e cinco bisnetas. Respeito a individualidade de cada um e cada vida seguida. Não me intrometo em nada, mas estou sempre de braços abertos e ao lado para o que der e vier.

 

Ser avó é melhor que ser mãe?


Avó usufrui melhor a criança. Quando você é mãe, tudo é novidade e uma tensão constante: é jovem, não tem experiência e está sempre temerosa de estar fazendo alguma coisa errada com a criança. Mas aproveitei muito meus filhos, amamentei o máximo possível porque sabia que depois de determinada idade eles não querem saber mais de agarração. Com neto a gente curte duas vezes: o filho passando por aquele processo e o neto em si. Bisneto, então, é uma loucura!

 

Sua família ficou mais protetora depois que seu marido morreu?


Ah, muito mais. É uma preocupação! Não me deixam sair sozinha. Sempre foram muito atenciosos, mas agora ligam o tempo todo, querem saber se estou bem. É bonitinho.

 

A senhora foi casada 60 anos. Como é continuar sem Paulo?

 

Nicette Bruno e Paulo Goulart (Foto: Divulgação)


É um vazio horrível. Mas sou espírita e acredito que a vida não começa no berço e não termina no túmulo. Sei que ele está seguindo a trajetória dele, a caminhada dele, como energia. Oro todos os dias para que Paulo seja cada vez mais iluminado e fortalecido. Vamos esperar até o momento do reencontro.

 

Isso não é difícil de aplicar no dia a dia?


É, mas quando você tem essa consciência e essa fé, você sente a falta, a saudade. Isso vai comigo sempre. Mas não fica aquele desespero excessivo, de ficar para baixo. Ao contrário, eu procuro viver no melhor sentido para que inclusive essa minha energia se amplie e chegue até ele. Eu vivo do jeito que eu sei que Paulo gostaria, que é fazendo as minhas coisas, tendo a minha alegria, minha maneira de ser, que eu sempre fui muito risonha, alegre e comunicativa. Continuo tudo isso. Agora, o vazio existe. A saudade é grande. Tudo me lembra Paulo. Graças a Deus ele me deixou lembranças maravilhosas. Paulo era um homem fora de série.

 

A dor passou?


Dor não quero ter. É só saudade, mas é saudade de coisa boa. Não posso reclamar. Foram 60 anos de felicidade. Já tive o meu presente, agora é só fazer o melhor possível para a minha família, amigos e companheiros de trabalho. E todos os dias lembrando ele e orando para Paulo que é a única coisa que posso fazer por ele.

 

A senhora está sempre de aliança...


Não tirei. A dele está guardadinha, mas a minha não tiro porque vou ficar ligada a ele a minha vida toda.

 

Já se pegou, por exemplo, virando para falar com Paulo e ele não estava lá?


Não, isso nunca aconteceu comigo. Nunca tive a ilusão de que ele estaria ali não estando. A parte material de Paulo acabou. Agora só procuro me ligar a ele através do nosso espírito, da nossa essência.



Que conselho daria para quem também sonha com uma união de vida inteira?


Não gosto de dar conselho. Cada um é individualidade diferente. Mas é melhor para todos nós facilitarmos a nossa caminhada. Os dissabores acontecem mesmo. As pessoas são diferentes, ainda bem, porque se fossem iguais seria um horror. Então é aproveitar ao máximo essa diferença e conviver com ela, porque a gente vai se modificando, vai melhorando. Acho fundamental o respeito à individualidade. Ninguém poder quer mandar em ninguém ou que o outro seja de uma tal forma. Se houver harmonia, os dois lados vão evoluir. Isso é o principal fundamento para uma relação.

 

Inclusive para sobreviver aos momentos difíceis, com o probelmas financeiros...


Lógico! Isso é parceria. O casamento só tem sentido assim, se não, para que casar? Nem todos nascem em berço de ouro, tem que batalhar. É importante saber que o trabalho é positivo e que através dele existe a conquista do espaço. Tendo essa consciência tudo fica mais fácil.

 

Eu e Paulo tivemos sempre que trabalhar muito e é assim mesmo. A vida, como o poeta (Gonçalves Dias) diz, é luta renhida. E eu acho que a vida é luta constante para se melhorar.

 

Muita gente se surpreendeu quando, no Encontro com Fátima Bernardes, mês passado, a senhora se posicionou contra uma convidada que fez um comentário homofóbico...


Meu Deus, eu respeito a individualidade, tudo está incluindo! O que importa é o ser, a essência da pessoa. A gente tem saber respeitar o básico e fundamental daquela individualidade.

 

O espiritismo é uma força na sua vida?


Sem dúvida. Ele me explica muitas coisas. Nós acreditamos no processo reencarnatório, então cada retorno aqui é para melhorar. Tem que se aprofundar as essências. Você vê pessoas que são diferenciadas que têm um sentimento maior, as atitudes equilibradas. É difícil explicar em palavras o sentimento maior de fraternidade, que não vê sexo, cor, nada. É o ser.

 

Qual o segredo para tanta vitalidade?


É o amor. Tudo que eu faço eu faço com esse sentimento. É o amor pela minha família, pela minha profissão, pelos outros. Não sou uma pessoa que vive egocentricamente. Eu me abro para tudo que acontece ao meu redor. Por isso não posso dizer que sou totalmente feliz, porque vivo num mundo conturbado, com muitas injustiças, muita pobreza de um lado e de ostentação de outro. Isso tudo me machuca muito. Não me conformo com certas situações. Estamos vivendo um momento muito terrível. Não fosse isso, diria que sou extremamente feliz.

 

A senhora é vaidosa?


Sempre me cuidei. Procuro estar arrumada, que é uma forma de respeito com quem está ao seu lado. Esse tipo de vaidade eu tenho: estar arrumada, agradável, cheirosa. Adoro!

 

Pensa em se aposentar?

 

Nicette Bruno e família (Foto: Marcelo Spatafora/Quem)


Para de trabalhar? De jeito nenhum! Enquanto tiver a cabeça no lugar e o corpo acompanhar, continuarei trabalhando.

 

Se pudesse fazer tudo de novo, mudaria algo?


Nada, faria tudo igual. Ou não. Gosto de processo evolutivo (risos).

 

Revista Quem

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