A obesidade é uma doença crônica, multifatorial e complexa. Ela não se desenvolve de um dia para o outro, e também não é resolvida com um estalar de dedos — a ciência considera, inclusive, que não há cura. Para o resto da vida, o paciente precisará vigiar a balança e lidar com os efeitos causados pela gordura extra.Mas por que comemos tanto e tão mal?
O que explica a diferença de sensações entre comer uma pizza e uma salada? E, apesar de a sociedade reforçar que a perda de peso é apenas uma questão de força de vontade, qual é a importância das emoções na escolha do que comer e de qual quantidade colocar no prato?
O acúmulo de gordura suficiente para desencadear problemas de saúde é uma das condições mais prevalentes no mundo, mas ainda estamos entendendo como a obesidade opera e o que leva a ela. Apesar do atraso, pesquisadores já começam a apontar os principais culpados: o maior deles é o consumo de ultraprocessados, alimentos ricos em açúcar, sódio e gordura, além de uma longa lista de conservantes.
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Além de prejudicarem o funcionamento do organismo, desenvolvendo doenças como diabetes e hipertensão, os alimentos super calóricos também agem no cérebro, desencadeando um sistema viciante de recompensa. Quanto mais comemos, mais felizes ficamos — mas a que custo?
FOME OU VONTADE DE COMER
Quando colocamos um brigadeiro na boca, docinho tradicional feito com leite condensado (uma combinação de açúcar com gordura), o organismo imediatamente passa por uma reação em cadeia. O pâncreas produz e secreta insulina, hormônio essencial para o processamento de açúcares, que é transportado também para o cérebro. Lá, a substância estimula alguns neurônios específicos que produzem a dopamina.
O neurotransmissor é conhecido como o hormônio da felicidade: ele ativa uma série de circuitos cerebrais que afetam as emoções e deixam você cheio de bons sentimentos de recompensa ao comer o docinho. Aí, fica difícil pegar um só.
De acordo com um estudo feito por cientistas da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, publicado em março de 2023, comer açúcar e gordura em excesso acaba alterando os circuitos de recompensa do cérebro, fazendo com que o consumidor fique praticamente viciado neste tipo de alimento. Em um cenário assim, é complicado se apoiar somente na força de vontade.
Em 2019, uma pesquisa publicada na revista científica Journal of Clinical Investigation mostrou que pessoas que comem muitos alimentos ricos em açúcar e gordura sequer conseguem apreciar comidas mais saudáveis. Eles também tiveram níveis maiores de substâncias que inibem a ação do hormônio da saciedade: por isso, comem muito mais do que precisam, o que, na maioria dos casos, leva à obesidade. Esse mecanismo é semelhante ao que acontece com uma pessoa viciada em drogas, por exemplo.
A explicação pode ter milhares de anos. Os cientistas que estudam o assunto acreditam que os homens das cavernas tinham um paladar que priorizava alimentos mais calóricos, uma vez que era preciso estocar gordura e energia — eles nunca sabiam quando ia ser a próxima refeição, e era essencial manter o funcionamento do organismo até lá.
Hoje, esse recurso não é mais útil, já que vivemos em um cenário de fartura de opções alimentares, muitas a poucos comandos no celular de distância. Porém, nossos cérebros ainda não receberam o memorando, e continuamos dando preferência aos alimentos ultraprocessados e cheios de calorias.
Os alimentos gordurosos e cheios de açúcar provocam ainda disbiose intestinal, que é um desequilíbrio da microbiota do órgão, estimulando a produção de toxinas que acabam indo para o sangue e chegando até a cabeça. Lá, as substâncias provocam inflamação no cérebro, alterando o ciclo de sono e vigília, além de influenciarem algumas funções do órgão.
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FATOR GENETICO
Além de termos de lidar com os efeitos do que comemos no organismo, que tende a querer aquilo que causa acúmulo de peso e desencadeia problemas de saúde, a ciência também já descobriu que existem cerca de 200 genes comprovadamente associados com a obesidade.
Fonte: Metrópoles