27 de Abril de 2024 - Ano 10
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Meio Ambiente
07/03/2024

Há 30 anos, academia e população local se unem pela proteção dos bugios do Rio Grande do Sul

Foto: Reprodução

Uma rede de pesquisa e de voluntariado se estabeleceu por causa do Programa Macacos Urbanos, criado por alunos e pesquisadores da UFRGS na década de 1990 e referência em práticas para conservação

O Programa Macacos Urbanos vem construindo pontes, tanto para bugios, quanto para os humanos que se envolvem com a causa há mais de três décadas. Em vários sentidos, literalmente. Desde travessias para fauna na Zona Sul de Porto Alegre, onde os bugios-ruivos (Alouatta guariba clamitans) cruzam para atravessar uma estrada, a conexões entre estudantes, pesquisadores, operadores do direito, poder público e comunidade científica pelo mundo afora.

 

Recentemente, devido a onda de mortes de bugios por causa da rede elétrica, conforme relatado aqui em ((o))eco, o Ministério Público gaúcho entrou com uma ação civil pública para que a empresa CEEE Equatorial providencie uma série de medidas para a proteção desses animais. A Justiça atendeu em parte a ação do MP e estipulou que a companhia tem 90 dias para implementar um Plano de Ações Preventivas de Acidentes de Bugios por Eletrocussão.O PMU nasceu entre alunos inquietos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que estavam preocupados com a sobrevivência dos bugios no extremo sul de Porto Alegre, devido à crescente expansão urbana no município. Esse processo até hoje gera várias ameaças aos bugios, como choques elétricos, atropelamentos, ataque por cães, entre outros conflitos.

 

O programa reúne um grupo de voluntários de áreas diversas que institucionalmente podem ou não estar ligados à UFRGS. Até hoje, tem o apoio da universidade, atuam sem hierarquia, respeitando as expertises de cada um que entra no grupo. Há veterinários, biólogos e membros da comunidade no grupo, que atua na promoção de ações transdisciplinares, educação ambiental e resgate de animais feridos.

 

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O PMU foi e ainda é decisivo na vida de vários profissionais que atuam Brasil afora e também para muitos que se envolveram nas atividades voluntárias. “Para mim, foi uma verdadeira escola de conservação”, sentencia Leandro Jerusalinsky, coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Foi no Macacos Urbanos que ele teve contato com o trabalho que até hoje está envolvido. “A minha dissertação de mestrado, que foi sobre a filogeografia do bugio-ruivo, eu dedico ao grupo. Porque de fato, foi onde eu aprendi abordagens, visões da conservação. Não foi na faculdade, nem no mestrado ou no doutorado, foi com esse grupo”, conta, emocionado, sobre o tempo que atuou junto ao programa.

 

O Programa Macacos Urbanos vem construindo pontes, tanto para bugios, quanto para os humanos que se envolvem com a causa há mais de três décadas. Em vários sentidos, literalmente. Desde travessias para fauna na zona Sul de Porto Alegre, onde os bugios-ruivos (Alouatta guariba clamitans) cruzam para atravessar uma estrada, a conexões entre estudantes, pesquisadores, operadores do direito, poder público e comunidade científica pelo mundo afora.

 

 

Recentemente, devido a onda de mortes de bugios por causa da rede elétrica, conforme relatado aqui em ((o))eco, o Ministério Público gaúcho entrou com uma ação civil pública para que a empresa CEEE Equatorial providencie uma série de medidas para a proteção desses animais. A Justiça atendeu em parte a ação do MP e estipulou que a companhia tem 90 dias para implementar um Plano de Ações Preventivas de Acidentes de Bugios por Eletrocussão.

 

O PMU nasceu entre alunos inquietos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que estavam preocupados com a sobrevivência dos bugios no extremo sul de Porto Alegre, devido à crescente expansão urbana no município. Esse processo até hoje gera várias ameaças aos bugios, como choques elétricos, atropelamentos, ataque por cães, entre outros conflitos.

 

O programa reúne um grupo de voluntários de áreas diversas que institucionalmente podem ou não estar ligados à UFRGS. Até hoje, tem o apoio da universidade, atuam sem hierarquia, respeitando as expertises de cada um que entra no grupo. Há veterinários, biólogos e membros da comunidade no grupo, que atua na promoção de ações transdisciplinares, educação ambiental e resgate de animais feridos.

 

 

O PMU foi e ainda é decisivo na vida de vários profissionais que atuam Brasil afora e também para muitos que se envolveram nas atividades voluntárias. “Para mim, foi uma verdadeira escola de conservação”, sentencia Leandro Jerusalinsky, coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Foi no Macacos Urbanos que ele teve contato com o trabalho que até hoje está envolvido. “A minha dissertação de mestrado, que foi sobre a filogeografia do bugio-ruivo, eu dedico ao grupo. Porque de fato, foi onde eu aprendi abordagens, visões da conservação. Não foi na faculdade, nem no mestrado ou no doutorado, foi com esse grupo”, conta, emocionado, sobre o tempo que atuou junto ao programa.

 


Primeiro retiro na Ponte Grossa, em Porto Alegre, 1997. Da esquerda para direita: Marco Perotto, Marcos Fialho, Sidnei Dornelles, Marcia Jardim, Elisa Girardi, Rodrigo Cambará, Marcus Liesenfeld; Mariana Faria Correa, Gerson Buss, Luis Fernando Guimarães Brutto. Foto: Acervo de Gerson Buss.

 

Congresso Brasileiro de Zoologia, em Porto Alegre, 1996. Da esquerda para a direita: Márcia Jardim, Luis Fernando Guimarães Brutto, Rodrigo Cambará, Gerson Buss e Sidnei Dornelles. Foto: Acervo de Gerson Buss.Jerusalinsky atualmente ocupa a vice-presidência do Primate Specialist Group (Grupo Especialista em Primatas) da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, em Inglês). Ele destaca alguns aspectos que tornam o Macacos Urbanos tão peculiar e relevante, entre eles a valorização dos processos participativos e a colaboração.

 

“Quando a gente chegava nos congressos, 25, 30 anos atrás, nos perguntavam quem era o coordenador. Daí respondíamos que nosso arranjo era diferente. Cada um aqui tem um orientador”, recorda o biólogo, que entrou no grupo para pesquisar genética dos bugios e acabou assumindo outras frentes. Ele avalia que hoje é mais comum se encontrar essa forma de organização. Naquele momento, o modo colaborativo de atuação era algo muito inovador.

 

( Fotos; Reprodução)

 

Para ele, o Macacos Urbanos promoveu um expressivo impacto local. “Acho que o Macacos Urbanos teve uma função fantástica de fazer com que Porto Alegre conhecesse um pouco mais sobre a sua biodiversidade, além de saber que tinha um macaco grande, como aquele, em alguns remanescentes de floresta que a cidade desconhecia, ainda desconhece muito”, diz.

 

Jerusalinsky comenta que através de estudos do PMU foi possível ter argumentos para influenciar e direcionar políticas públicas pela conservação. “Nós participávamos do Orçamento Participativo, propúnhamos legislação municipal,” acrescenta. Para ele, um dos pontos fundamentais foram as trocas e o jeito do grupo se relacionar. Cada um tinha autonomia, as relações eram horizontais, simétricas. O representante da IUCN acredita que o estilo do Macacos Urbanos inspirou outros grupos pelo Brasil afora a funcionar desse jeito.


Gerson Buss, um dos criadores do Macacos Urbanos e um dos pioneiros na pesquisa de primatas no Rio Grande do Sul, diz que a atuação do grupo é uma referência na área de primatologia no Brasil. Ele também é analista ambiental do ICMBio e está lotado no Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB) em Cabedelo, Paraíba.

 

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Depois de ter passado um ano trabalhando em organizações não governamentais ambientalistas na Alemanha, Buss foi provocado por alguns amigos, entre eles o professor de Botânica da UFRGS, Paulo Brack. Por quê não fazer algo para compreender melhor a ocorrência dos bugios por aqui? Em julho de 1993 foi realizada a primeira reunião do Macacos Urbanos. Aliás, foram os integrantes do PMU que criaram o Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), onde hoje Brack tem praticado seu ativismo. 

 

Fonte: O Eco

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