27 de Abril de 2024 - Ano 10
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Mulher
18/02/2024

Mulheres mais jovens 'puxam' apoio a causas progressistas, como direitos da população LGBTQIA+, e preferência por Lula

Foto: Reprodução

Defesa de temas como casamento gay e adoção por casais do mesmo sexo é maior no público feminino entre 18 e 29 anos, além de inclinação à esquerda na política

Apesar do recente crescimento da chamada nova direita e de posições mais conservadoras sobre a pauta de costumes no Brasil, as mulheres e, principalmente, as mais jovens estão na dianteira de um movimento na sociedade em direção a opiniões mais progressistas —ao menos em alguns temas de cunho moral centrais no debate público — e de esquerda na política. A mudança de comportamento, marcada pelo gênero e pelo fator geracional, fica mais evidente em tópicos como a agenda de direitos da população LGBTQIA+, que ainda divide os brasileiros, e se soma a sinalizações observadas no voto para presidente, com a decisiva adesão feminina à candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição passada.


A estratificação da pesquisa “A cara da democracia”, feita anualmente pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), traz algumas pistas desse processo. Dados do levantamento mais recente, de 2023, mostram que há hoje predominância de posições favoráveis ao casamento gay e à adoção de crianças por casais do mesmo sexo entre jovens com idade entre 18 e 29 anos de idade, com as mulheres numericamente à frente, mas próximas dos homens se considerada a margem de erro da pesquisa.

 

No segmento mais jovem, 66% dos homens apoiam a adoção de crianças por casais formados por pessoas do mesmo sexo e 62% defendem o casamento gay. Os percentuais chegam, respectivamente, a 79% e 68% entre as mulheres na mesma faixa de idade. A série histórica da pesquisa, iniciada em 2018, mostra que os mais jovens ficavam divididos sobre ambos os temas há apenas seis anos.

 

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O apoio a esses direitos diminui conforme cresce a idade e é menor entre os homens, que ficam mais divididos sobre esses temas. Apenas 37% deles e 54% das mulheres com mais de 65 anos são pró-adoção por casais gays.


— Tanto a geração quanto o gênero são importantes para o progressismo nesses temas. — diz a pesquisadora Larissa Marques, vinculada ao Instituto de Ciência Política da UnB. — Em todas as gerações, as mulheres são mais progressistas do que os homens nas dimensões do casamento civil de pessoas do mesmo sexo e adoção de criança por um casal gay. Além disso, os homens e mulheres mais jovens tendem a ser mais progressistas do que homens e mulheres mais velhos.

 

Em outra dimensão, a eleitoral, pesquisas sobre a intenção de voto indicam diferença estatisticamente relevante entre homens e mulheres jovens nas preferências por candidatos a presidente no segundo turno de 2022 e 2018, em meio à polarização entre nomes mais à esquerda e à direita, o chamado “gap” de gênero.

 

Dados levantados pelo cientista político da FGV CPDOC Jairo Nicolau, com base no Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB), apontam que a fatia do eleitorado de 16 a 29 anos que afirmou ter votado em Lula no segundo turno em 2022 foi maior no segmento feminino (62%) que no masculino (47%). Nas demais faixas de idade, a diferença entre gêneros ficou próxima da margem de erro.

 

Por enquanto, não há indicativos de que essa discrepância nas preferências eleitorais esteja crescendo. No pleito de 2018, a distância entre homens e mulheres jovens foi maior na disputa entre Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

 

Em outros países, há sinais de que o gap tem crescido em relação a valores e costumes, como mostrou uma reportagem do “Financial Times” no mês passado. Em países como Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Coreia do Sul, pesquisas de opinião mostram que mulheres com menos de 30 anos de idade estão com visões de mundo mais liberais que homens com a mesma idade. No caso do Brasil, não é possível confirmar ou não fenômeno semelhante pela escassez de dados.

 

Pesquisadora do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Unicamp, Andressa Rovani aponta que, no Brasil, a opção das mulheres por candidatos petistas em eleições presidenciais ficou mais evidente a partir de 2014, quando a ex-presidente Dilma Rousseff foi reeleita. Na disputa de 2022, estima, se dependesse apenas do eleitorado feminino, Lula teria sido eleito no primeiro turno.

 

— As mulheres jovens estão alavancando a inclinação das mulheres para a esquerda — ressalta. — Há um conjunto de fatores para explicar esse voto, mas há entre eles uma influência nos comportamentos eleitorais de valores morais e da última onda feminista na década de 2010.

 

Uma hipótese levantada pela pesquisadora é que essa inclinação das mulheres à esquerda é motivada por jovens que moram em grandes centros urbanos e que não são evangélicas. Esse segmento, pontua, tem mais espaço no mercado de trabalho, maior independência financeira e esteve mais exposto à recente onda feminista.

 

Já o bolsonarismo raiz tem maior adesão em um perfil demográfico formado por homens, brancos, mais velhos e mais ricos, diz o cientista político Lúcio Rennó, da UnB:

 

— Há mais homens do que no quadro geral da população.

 

Pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), a cientista política Camila Rocha acrescenta que houve forte rejeição a Bolsonaro entre as mulheres, principalmente pela condução da pandemia de Covid-19. Outro fator associado foi a retórica do ex-presidente, apontada como machista em pesquisas qualitativas conduzidas por ela antes do pleito. Questões relacionadas a gênero, defende, tendem a ficar mais latentes e já têm sido incorporadas no discurso de mulheres que se dizem conservadoras.

 

— A rejeição ao machismo está muita entranhada, mesmo entre mulheres que votaram em Bolsonaro. Há, na maioria, posicionamento favorável ao empoderamento feminino, e entre as mulheres jovens isso é mais forte.


Já o cientista político e sociólogo Antonio Lavareda, do Ipespe, vê como explicações para a inclinação feminina a valores progressistas diferenças de papeis na sociedade e de agendas, com as mulheres mais preocupadas com pautas de cuidado, como saúde e educação, mas também aponta influência de fatores hormonais, investigados pela chamada Neuropolítica, ciência que estuda a interação entre cérebro e política.

 

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— Homens têm um nível de testosterona, associada à ambição e assertividade, até 20 vezes maior. Temas típicos da direita, como penas mais duras para criminosos, prosperam mais. Mulheres têm aumentados seus níveis de ocitocina, são mais empáticas e mais atraídas por pautas de políticas sociais e direitos humanos — argumenta. 

 

Fonte: O Globo

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