É diante dessa realidade de violência articulada que criamos o PORTAL MULHER AMAZÔNICA, como alternativa política e antagonismo ideológico para confrontar o domínio das mídias machistas
Por: Maria Santana Souza - A comunicação tem um padrão universal quando o assunto é gênero. Não há diferenciação entre as tintas do machismo pintadas no Brasil e na Argentina, por exemplo. Todas as letras são rabiscadas com os mesmos esteriótipos e coisificação da mulher.
O mito da beleza, o tratamento do corpo feminino como produto, a invisibilidade da mulher, a atenuação da violência masculina são condutas identificadas em todas as mídias. Não que seja uma escolha profissional. Trata-se de uma posição ideológica de reprodução do machismo estrutural.
Os meios de comunicação evoluíram do final do século XX ao século XXI de forma estarrecedora. Com o advento da internet, o virtual se tornou real e hoje alcança milhões de indivíduos em apenas poucos segundos. Dos lugares mais longínquos aos grandes centros, todo mundo está conectado, ou estará conectado nos próximos meses e anos.
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O que não evoluiu foi o modelo excludente, machista e misógino de como a mídia trata as mulheres. Ainda é possível reconhecer numa primeira leitura, seja do texto ou da imagem, o enquadramento preconceituoso da matéria, destacando o corpo da mulher como objeto de promoção ou de busca de curtidas nas redes sociais.
Mulheres Amazônicas que ousam se posicionar e
trabalhar contra a violência que sofrem na Região
Mas a comunicação não se restringe a essa violência estrutural. Ela ganha força no seu papel ideologizante quando é contextualizada em pontos geográficos diferentes. Onde há mais violência, passa a exercer mais protagonismo na realidade. A Amazônia é a região brasileira de maior violência contra a mulher, segundo relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, de 2023.
A taxa de feminicídios nos municípios da Amazônia foi de 1,8 para cada 100 mil mulheres, 30,8% superior à média nacional, que foi de 1,4 por 100 mil. Ainda em 2022, em 8 dos 9 estados da Amazônia Legal, a taxa de assassinatos de mulheres se mostrou superior à média nacional, com a maior taxa registrada em Rondônia, de 11,1 mortes por 100 mil mulheres.
Dados do relatório “A violência contra mulheres na Amazônia Legal nos últimos cinco anos em comparação com o restante do país”, do Instituto Igarapé, divulgado em março de 2024, mostra que enquanto as taxas de homicídios dolosos de mulheres no país caíram em 12%, na Amazônia, houve uma redução de somente 2%, nos últimos cinco anos.
O estudo mostra que houve um aumento de 47% nas taxas de violência não letal na Amazônia, enquanto no restante do Brasil esse crescimento foi de 12%. Veja a comparação entre o aumento nos diferentes tipos de violência na região amazônica e no resto do Brasil;
VIOLÊNCIA FÍSICA
Amazônia Legal: 37%
Resto do país: 3%
VIOLÊNCIA PATRIMONIAL
Amazônia: 62%
Resto do país: 51%
VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA
Amazônia: 82%
Resto do país: 14%
Sim, os dados são assustadores. Pior ainda é saber que de cada 10 vítimas, 7 são meninas de 0 a 14 anos. Mas a grande mídia continua implacável na reprodução de matérias tendenciosas e patriarcais. Segundo levantamento da LLYC, empresa global de consultoria de comunicação, no estudo "Mulheres sem nome: Avanço da presença das mulheres na mídia e o desafio que ainda subsiste", o nome das mulheres aparece 21% menos nas machetes do que o dos homens e quando o tema é esporte, cinema, ciência ou liderança o nome feminino aparece 40% a menos do que o dos homens nos títulos.
É diante dessa realidade de violência articulada que criamos o PORTAL MULHER AMAZÔNICA, como alternativa política e antagonismo ideológico para confrontar o domínio das mídias machistas, patriarcais e misóginas. Não se trata de uma querela, mas de um projeto de mobilização e voz para as mulheres amazônicas, criado e conduzido por mulheres, profissionais da região.
Fotos: Reprodução/Google
O Portal Mulher Amazônica é um espaço de luta das mulheres, que mesmo diante de uma realidade de desigualdade continuam conquistando seu lugar ao sol. Os avanços são muitos, mas a luta é árdua e contínua. No campo da comunicação, fizemos este desafio e nele confiamos nossa esperança e entregamos nossa coragem.
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Por: Maria Santana Souza, jornalista e diretora-presidente do Portal Mulher Amazônica
Fonte: Portal Mulher amazôniaca